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O improvável programa de atenção plena para crianças com TDAH

Chicago ― Uma intervenção baseada na atenção plena (mindfulness) parece viável, aceitável e eficaz em crianças com transtorno do déficit de atenção e/ou hiperatividade (TDAH), sugerem resultados preliminares de uma pesquisa.

Na verdade, os resultados preliminares do estudo-piloto Mindfulness-Based ADHD Treatment for Children (MBAT-C) foram tão promissores que os National Institutes of Health (NIH) financiaram a próxima fase da pesquisa – um ensaio clínico com três braços, randomizado e controlado, comparando os grupos: apenas atenção plena; farmacoterapia isolada; e atenção plena + farmacoterapia.

“Embora essas medidas de eficácia sejam muito preliminares, ainda assim as achamos muito interessantes”, disse o Dr. David C. Saunders, Ph.D., médico e pesquisador clínico no Yale University Child Study Center, nos Estados Unidos. “Mas, novamente, com um N de nove, o quanto você realmente pode afirmar sobre a eficácia?”

Os achados foram publicados on-line na edição de outubro do periódico Journal of Child and Adolescent Psychiatry e apresentados na 66ª reunião anual da American Academy of Child & Adolescent Psychiatry (AACAP 2019).

Desafios com crianças

Embora os medicamentos para o TDAH sejam eficazes, seu uso é limitado por uma variedade de efeitos colaterais. Pesquisas anteriores mostraram que a atenção plena melhora a capacidade de concentração de crianças e adultos com TDAH, observou o Dr. David.

Em dois estudos pequenos anteriores feitos com adolescentes com TDAH, evidências preliminares indicaram eficácia das terapias de atenção plena. No entanto, disse o Dr. David, ainda não existem intervenções padronizadas para crianças com TDAH e a eficácia da terapia de atenção plena não foi rigorosamente estudada nas crianças.

“Pessoas que não são da área da saúde e nunca tiveram contato com práticas meditativas que ouvem falar desse estudo invariavelmente me perguntam: ‘Como você acha que vai ensinar atenção plena para crianças de 7 a 11 anos com TDAH? Isso parece loucura'”, disse o Dr. David.

“E, de certa forma, acho que eles têm razão. Felizmente, porém, existem algumas evidências iniciais sugerindo que a atenção plena é um tratamento que vale a pena ser explorado.”

Além disso, os responsáveis das crianças com TDAH expressam constantemente a vontade de explorar práticas de atenção plena como forma de tratar o transtorno. A atenção plena parece induzir mudanças estruturais e funcionais nas regiões cerebrais associadas ao TDAH.

O estudo-piloto com braço único ministrou 16 aulas de atenção plena de 30 minutos duas vezes por semana, com uma média de dois instrutores para cada cinco participantes. O estudo incluiu nove crianças de 7 a 11 anos de idade.

A primeira aula foi uma introdução ao curso e às práticas de atenção plena e a última foi uma revisão de todas as aulas. O curso foi dividido entre os seguintes aspectos:

  1. 2ª a 6ª aulas: atenção plena para consciência corporal;

  2. 7ª a 11ª aulas: atenção plena para concentração mental; e

  3. 12ª a 15ª aulas: atenção plena para consciência comunitária.

O objetivo primário do ensaio clínico MBAT-C era finalizar o manual de intervenção, que determina a natureza e a estrutura do programa de intervenção com atenção plena para as próximas pesquisas.

Os pesquisadores finalizaram o manual do MBAT-C por meio de grupos focais e comentários dos participantes e dos responsáveis. Ao fazer isso, eles identificaram a sequência ideal de práticas de meditação, tópicos de discussão e considerações logísticas.

Alto engajamento

Os pesquisadores também avaliaram a viabilidade do programa a partir da assiduidade, retenção, conclusão do dever de casa e participação.

O terceiro objetivo foi estimar a eficácia preliminar do programa a partir de diferentes índices objetivos e subjetivos de sintomas de TDAH, como atenção, comportamento, função executiva, importância clínica autorreferida, informada pelos responsáveis e avaliação neuropsiquiátrica.

Os resultados excederam parâmetros de referência anteriores ao estudo em vários índices de viabilidade e aceitabilidade, entre eles, assiduidade, retenção, conclusão do dever de casa e participação.

“As crianças foram a 86,8% das aulas, o que achamos ótimo. É um achado simples, mas consideramos muito bom dadas as circunstâncias difíceis que muitas dessas crianças vivenciam”, disse o Dr. David.

Os pacientes apresentaram melhora em vários índices subjetivos e objetivos de sintomas de TDAH. Na ADHD Rating Scale, a pontuação diminuiu de 33,43 para 25,29.

A pontuação na subescala Child Behavior Checklist (CBCL)-Attention Problem também melhorou: de 10,43 para 8,14. As crianças mostraram melhora em relação à escala de atenção CBCL-DSM5, cuja pontuação foi de 9,14 para 7,57.

A memória de trabalho, avaliada pelo NIH Toolbox List Sorting Working Memory Test, também melhorou.

Por outro lado, várias medidas não mostraram melhora. Isso incluiu medidas objetivas de atenção sustentada, função executiva e desfechos não relacionados com a atenção na subescala CBCL, como depressão e ansiedade.

O Dr. David mencionou rapidamente que os resultados do estudo-piloto não são suficientemente robustos para demonstrar a eficácia do programa de atenção plena. No entanto, ele se sentiu motivado pelos achados iniciais.

“Recentemente, recebemos uma bolsa do NIH para estudar essa intervenção em uma escala maior. Haverá aproximadamente 45 participantes, 15 em cada grupo, e este será o primeiro estudo controlado randomizado a comparar atenção plena vs. farmacoterapia em crianças. Então, estamos entusiasmados”, disse o Dr. David.

Pesquisa de vanguarda

Em comentário sobre o estudo para o Medscape, o Dr. Jim Hudziak, médico, que participou da discussão sobre a sessão, reconheceu a importância do trabalho.

“O Dr. David faz parte de uma equipe fenomenal que entende a importância das pesquisas minuciosas”, disse o Dr. Jim, fundador e diretor do University of Vermont’s Wellness Environment.

“Além disso, ele está realizando a pesquisa de uma maneira muito ecológica. Ele não está aplicando a uma população de crianças privilegiadas; ele não está analisando um grupo no qual os bons resultados seriam previsíveis. Ele está fazendo nas trincheiras”, acrescentou.

O Dr. Jim completou que qualquer programa de intervenção com atenção plena para crianças também deve incluir os respectivos responsáveis.

“Não importa o que você faça por uma criança, se ela voltar para o caos em casa, não surte efeito”, disse ele.

Fonte: Medscape

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