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Robinho, Daniel Alves e apalpada no elevador: como casos de violência sexual viram 'gatilho' para mulheres



Daniel Alves conseguiu o direito de pagar fiança para deixar a cadeia mesmo após condenação por estupro. Uma mulher foi apalpada por um homem em um elevador. O ex-jogador Robinho foi condenado na Itália por estupro coletivo, e o STJ decidiu que ele deve cumprir pena no Brasil.


O noticiário recente é apenas uma amostra da violência que se repete cotidianamente: são casos e mais casos de repercussão que ativam "gatilhos emocionais" nas mulheres: disparam lembranças de episódios de dor emocional, de traumas do passado ou mesmo do medo de ser vítima.


Uma em cada seis mulheres tem a saúde mental afetada pelo medo de ser vítima de algum crime sexual, segundo pesquisa da organização Think Olga, iniciativa premiada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

👉 Por isso, mesmo não sendo a vítima de cada casos citados no noticiário, as mulheres se reconhecem em situações como:


  • Ter medo de ser assediada ou violada ao andar na rua sozinha.

  • Ser olhada de forma desrespeitosa ou ouvir comentários sexuais.

  • Ser tocada por alguém mesmo sem a sua permissão.

  • Ou ainda viver sob constante vigilância por medo de ser vítima de algum abuso.


Esse temor impacta como as mulheres se vestem ou se portam e até o lugar que frequentam - muitas vezes, isso é usado como justificativa para responsabilizar a vítima pelo abuso.


Referência na área de saúde mental e gênero, a pesquisadora Valeska Zanello, doutora em psicologia e professora da Universidade de Brasília (UnB), aponta que a violência de gênero é uma questão importante no desenvolvimento de doenças como ansiedade e depressão.


A revisão de uma série de estudos, publicada em 2018 e da qual ela é uma das autoras, mostra que mulheres vítimas de violência têm ainda mais chance de desenvolver transtornos mentais.


Maíra Liguori, que é presidente da Think Olga, explica que os acontecimentos recentes noticiados na mídia são como gatilhos que lembram o risco constante a que as mulheres estão sujeitas.


Se você é um homem e está sozinho na rua, você tem medo de ser assaltado. Se você é mulher, você tem medo de ser estuprada. Essa vigilância somada à sensação de impunidade diante das violências leva mulheres ao esgotamento mental.

— Maíra Liguori, que é presidente da Think Olga.


🚨 A vigilância tem um motivo: no Brasil, cinco mulheres são estupradas a cada hora, segundo dados do Ministério da Justiça.


Além disso, esse é um crime que vem crescendo ano a ano: foram 81 mil casos em 2023, contra 79 mil em 2022 e 72 mil em 2021.


A sequência de notícias é dura porque expõe questões que vivemos no nosso dia a dia, como o assédio e o estupro. E isso nos impacta porque, se não somos as vítimas, conhecemos uma e vivemos sob a constante vigilância por medo de um dia sermos. E, na forma com que eles terminam, a questão que fica é: nosso corpo vale mais do que dinheiro, poder ou fama?

— Maíra Liguori, presidente do Think Olga


As duas vítimas dos ex-jogadores enfrentaram uma longa batalha para verem seus agressores condenados.


A presidente do Think Olga explica que a mensagem do Judiciário nos dois casos coloca em xeque um avanço importante de ver essas denúncias serem levadas adiante.


“Antes, os agressores estavam cobertos pelo silêncio das vítimas e, agora, elas têm coragem e amparo para fazer a denúncia. Mas o que estamos vendo é uma nova agressão. Essa mulher é revitimizada quando vê o seu agressor impune”, explica.


A especialista reflete que a impunidade, no entanto, não diminuiu os progressos recentes do movimento feminista de conseguir dar visibilidade às violências sofridas por mulheres. Ela reforça ainda que é um momento de resiliência das mulheres, que lidam há décadas com a perda de direitos.


Os direitos das mulheres não são garantidos, eles estão em disputa. Basta qualquer crise para que tenhamos nossos direitos questionados. Os casos geram uma crise de imagem do futebol, que movimenta muito dinheiro. É triste e humilhante, mas não há nada de novo. O que a gente faz agora é o que sempre fez: ter resiliência para proteger as vítimas.

— Maíra Liguori, presidente do Think Olga


Maíra avalia que é momento de usar os espaços de fala para que as vítimas sejam ouvidas, e políticas públicas sejam adotadas para a proteção de mulheres, além de avançar no debate para impedir que pessoas possam, por exemplo, culpar as vítimas pelos crimes que sofrem.


“Estamos exaustas, mas precisamos continuar”.

Fonte: G1


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