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Refrigerantes mais uma vez associados a morte prematura

O consumo de refrigerantes está associado a aumento das mortes por todas as causas, de acordo com o maior estudo pan-europeu já realizado para investigar esta associação.

Os pesquisadores avaliaram o consumo total de refrigerantes examinando separadamente a ingestão de bebidas adoçadas com açúcar ou artificialmente.

O estudo, liderado pela Dra. Amy Mullee, Ph.D., do University College, na Irlanda, foi publicado on-line em 03 de setembro no periódico JAMA Internal Medicine.

“A observação mais marcante do nosso estudo foi a de que o consumo tanto de refrigerantes contendo açúcar como de adoçantes artificiais teve uma relação positiva com o risco de morte”, disse em entrevista para o Medscape o autor sênior Dr. Neil Murphy, Ph.D., pesquisador do Centre International de Recherche sur le Cancer (CIRC), na França.

Em comparação com os que consumiram menos de um copo por mês, os que tomaram dois ou mais copos por dia de refrigerantes adoçados artificialmente tiveram um risco 26% maior de morte por todas as causas (P < 0,001); os que tomaram refrigerantes com açúcar tiveram risco 8% maior (P = 0,004).

Uma associação específica foi o aumento de > 50% de mortes por doença cardiovascular relacionada com os refrigerantes adoçados artificialmente, mas não com os refrigerantes adoçados com açúcar – esta última observação foi um pouco surpreendente, observou Dr. Neil.

“Os resultados vão ao encontro das campanhas de saúde pública destinadas a restringir o consumo de refrigerantes” e incentivando alternativas mais saudáveis, disseram os pesquisadores.

“Prefira água, chá ou café sem açúcar e mantenha os refrigerantes como uma iguaria”, observou o Dr. Jeremy Pearson, Ph.D., diretor clínico associado da British Heart Foundation, em um comunicado.

Mais evidências dão mais peso às conclusões

Existem cada vez mais estudos investigando a associação dos refrigerantes aos desfechos em saúde, e o Medscape perguntou ao Dr. Neil qual é o valor de ter tantos estudos semelhantes. O pesquisador reforçou a importância da realização de vários estudos epidemiológicos de alta qualidade desta natureza.

“Não há como tirar conclusões definitivas a partir de um único estudo, como o nosso. Em vez disso, é melhor avaliar uma possível associação com os resultados de vários estudos epidemiológicos, idealmente com diferentes populações e/ou países”, observou.

“Se os resultados desses estudos forem sistemáticos, isso nos dá mais confiança nas associações encontradas.”

No seu artigo, os autores observaram que estudos anteriores sobre a relação entre os refrigerantes e a mortalidade têm mostrado resultados heterogêneos.

No entanto, alguns achados do estudo em tela refletem os encontrados em estudos anteriores, como os resultados de dois grandes estudos feitos nos EUA publicados no início deste ano.

“Os dois estudos encontraram associações positivas entre os refrigerantes adoçados artificialmente e as mortes por todas as causas, semelhantes aos nossos resultados. Esta coerência entre os estudos sugere uma associação positiva entre os refrigerantes adoçados artificialmente e os desfechos de morte”, ressaltou o pesquisador.

Em termos de refrigerantes adoçados artificialmente, explicou Dr. Neil, o estudo em tela é o terceiro grande estudo feito este ano com o intuito de observar uma associação positiva com as mortes por todas as causas, porém, o autor ressaltou que é necessário continuar as pesquisas sobre os mecanismos subjacentes à esta relação.

Dados “abrangentes” provenientes de 10 países europeus

Os pesquisadores investigaram o consumo total de refrigerantes e suas associações com o total de mortes e com as mortes por causas específicas entre os participantes do estudo European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC), uma grande coorte internacional.

O total de refrigerantes referiu-se a uma combinação de refrigerantes, bebidas gaseificadas e isotônicas, e xaropes diluídos. O consumo total de refrigerantes foi subdividido em refrigerantes com açúcar e adoçados artificialmente em todos os países, exceto na Itália, na Espanha e na Suécia, onde os tipos de refrigerante não foram registrados.

Os dados foram de participantes provenientes de 10 países europeus (Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Itália, Holanda, Noruega, Espanha e Suécia) e do Reino Unido, referentes ao período de 1992 a 2000. A coorte final do estudo continha 451.743 participantes; 71,1% eram mulheres e a média de idade foi de 50,8 anos.

No total, ocorreram 41.693 óbitos durante o período de acompanhamento de 16,4 anos. As mortes por todas as causas foram significativamente mais frequentes entre os participantes que tomavam dois ou mais copos de refrigerante por dia em comparação aos que bebiam menos de um copo por mês (razão de risco ou hazard ratio, HR, de 1,17; P < 0,001).

“De modo geral, até onde sabemos, este foi o maior estudo feito até hoje para investigar as associações entre o consumo de refrigerante e os desfechos de morte, bem como a primeira análise abrangente europeia”, informaram os pesquisadores.

Somente as bebidas adoçadas artificialmente aumentam as mortes por doenças do aparelho circulatório

No que diz respeito a causas específicas de morte, foram observadas associações positivas entre os refrigerantes adoçados artificialmente e a mortalidade por doença circulatória entre aqueles que tomaram dois ou mais copos por dia em comparação com os que beberam menos de um copo por mês (HR = 1,52; P < 0,001).

Para um consumo semelhante de refrigerantes adoçados com açúcar, houve um aumento das mortes por doenças do aparelho digestivo em comparação com as pessoas que tomaram um copo ou menos por mês (HR = 1,59; P < 0,001). A ausência de associação entre os refrigerantes com açúcar e as mortes por doenças circulatórias, como a cardiopatia isquêmica, foi inesperada, observou Dr. Neil.

“Um grande estudo recente nos Estados Unidos revelou uma associação positiva com as mortes por doença cardiovascular, e vários estudos têm descrito associações positivas entre os refrigerantes com açúcar e o risco de doença cardiovascular”, observou ou pesquisador.

A ausência de associação neste estudo “pode ser um achado fortuito, dado que a totalidade das evidências de todos os estudos disponíveis sugere que o maior consumo de refrigerantes com açúcar está associado a aumento do risco de doença cardiovascular”, comentou o autor.

Quanto à associação entre o consumo de refrigerantes com açúcar e a morte por doenças do aparelho digestivo, os autores observaram que a “hiperglicemia resultante do consumo de refrigerantes com açúcar pode alterar a função de barreira do intestino e aumentar o risco de infecção entérica”.

Nenhuma relação com o câncer, a primeira com a doença de Parkinson

Curiosamente, também foi observada uma associação positiva entre a morte por doença de Parkinson e o consumo total de refrigerantes (HR = 1,59; = 0,02).

“Este foi o primeiro estudo identificando uma associação positiva entre o consumo de refrigerantes e as mortes por doença de Parkinson“, disse Dr. Neil.

“Nós não temos nenhuma hipótese predominante sobre esta relação. É possível que este resultado não seja autêntico. Serão necessários novos estudos epidemiológicos e experimentais para investigar melhor esta associação.”

Com relação ao câncer, o consumo total de refrigerantes só teve associação positiva com as mortes por câncer colorretal (um ou mais copos por dia versus menos de um copo por mês) (HR = 1,25; P = 0,004), mas não com as mortes por qualquer outro tipo de câncer.

“O resultado nulo observado para o total de mortes por câncer está alinhado ao de estudos anteriores que encontraram pouca associação entre o consumo de refrigerantes e o risco de câncer”, disse Dr. Neil.

“É possível que o consumo de refrigerantes, no entanto, possa contribuir indiretamente para o risco de câncer através do ganho ponderal e da obesidade, que são fortes fatores de risco para vários tipos de câncer”, alertou o pesquisador.

Não houve diferenças notáveis entre os países, e as associações foram semelhantes entre os 10 países europeus.

Refletindo sobre os achados, o Dr. Neil destacou que, em geral, esses resultados não significam que os refrigerantes causem morte precoce, porque podem existir outros fatores por trás das associações observadas.

“O alto consumo de refrigerantes pode ser indicador de uma alimentação pouco saudável. Além disso, no nosso estudo, os participantes que tomavam muito refrigerante tinham maior índice de massa corporal (IMC) e eram mais propensos a serem fumantes”, disse o autor.

Os pesquisadores ajustaram por IMC, tabagismo e outros riscos, e a associação positiva se manteve.

“Nós observamos associações semelhantes entre os fumantes e não fumantes e entre os participantes magros e obesos, o que reforça o fato de a associação entre os refrigerantes e a mortalidade não estar sendo fortemente influenciada pelo tabagismo e pelo IMC”, comentou Dr. Neil.

“No entanto, não podemos descartar a possibilidade de que esses fatores tenham influenciando nossas observações, e não podemos afirmar que o que identificamos tenham natureza causal”, concluiu o pesquisador.

Fonte: Medscape

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