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Psicodélicos são a nova ferramenta de executivos para aumentar a criatividade; entenda



Ajudar os empresários a tentar otimizar o seu desempenho através do uso de drogas alucinógenas é uma ramificação excêntrica e crescente do campo não regulamentado de 5 milhões de dólares (cerca de 24 milhões de reais) de coaching executivo e de vida.


— Adderall (medicamento neuroestimulante), cafeína e estimulantes ajudam a realizar as tarefas, mas com o advento da inteligência artificial (IA), a produtividade está se tornando menos valiosa. Os psicodélicos podem ajudar com o tipo de pensamento divergente e criativo que é mais necessário agora — explica Paul Austin, um "coach de microdosagem” de 33 anos, fundador da Third Wave, que oferece cursos que custam até 14 mil dólares (cerca de 69 mil reais) para certificar guias psicodélicos.


Novas preocupações surgem no horizonte sobre a credibilidade da investigação científica de substâncias psicodélicas e sobre os efeitos da dosagem diurna no local de trabalho. Ainda assim, drogas como a psilocibina, ou cogumelos mágicos, e o MDMA, ou ecstasy, estão gerando um otimismo generalizado em alguns setores. Acredita-se que eles abrem as pessoas para novas ideias ou mudanças, o que é um grande atrativo.


Alguns destes autodenominados "coaches" de drogas psicodélicas trabalham abertamente em resorts em países como a Jamaica, que não proibiram as drogas, enquanto outros operam silenciosamente em casas particulares ou em Airbnbs nos Estados Unidos, onde essas drogas são ilegais em nível federal, mas as autoridades, em grande parte, ignoram. Eles atendem ao aumento do interesse popular e, muitas vezes, aos anseios específicos de ambiciosos diretores, empresários ou executivos.


— Acredito que a psilocibina me ajuda a ser uma pessoa melhor e, portanto, me ajuda a ser um líder melhor — conta Jim MacPhee, consultor de liderança de 66 anos que se aposentou como diretor de operações do parque temático Walt Disney World.


Ele não incentiva seus clientes a usar drogas, nem endossa o uso ilegal ou recreativo, mas diz que suas próprias duas experiências durante a aposentadoria em um retiro no exterior o ajudaram a estar mais “ligado” ao seu trabalho de consultoria.


O suposto uso de drogas de Elon Musk, dono da Tesla e do X, Sergey Brin, ex-presidente do Google, e do executivo assassinado da Cash App, Bob Lee, trouxe nova atenção para como o mundo dos negócios é afetado pelo uso crescente de psicodélicos. Preocupações comuns como hipersugestibilidade e mudanças na função executiva do cérebro são amplificadas quando se trata daqueles que ocupam posições de poder.


— Eles tornam você mais vulnerável e sugestionável para os outros. Enquanto isso, você está mais propenso a fazer mudanças grandes e significativas. As pessoas podem estar inclinadas a largar o emprego, deixar alguém importante ou fazer grandes mudanças no estilo de vida — afirma Sandra Dreisbach, cofundadora da Comunidade Internacional Psicodélica Ética, que incentiva a integridade entre as pessoas que trabalham com drogas.


Ela aconselha qualquer pessoa a esperar uma semana, ou até meses, após uma experiência psicodélica antes de tomar decisões importantes.


Os riscos são abundantes


O uso de psicodélicos traz riscos, como distorções perceptivas duradouras ou uma sensação de distanciamento da realidade, de acordo com o Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas. Na Califórnia, as visitas hospitalares relacionadas com alucinógenos aumentaram 54% entre 2016 e 2022, de acordo com uma pesquisa recente. A descriminalização também não eliminou o risco legal: as apreensões de psilocibina nos EUA aumentaram 247 por cento entre 2017 e 2022, informou um estudo no início deste ano.


A Terceira Onda de Austin treinou cerca de 200 guias psicodélicos desde 2021, cerca de um quinto deles coaches executivos. Em um retiro no outono passado nas montanhas do Colorado, que descriminalizou as drogas psicodélicas, Austin liderou o “Psychedelic Trailblazers Mastermind”, um fim de semana de 17 mil reais por pessoa, que apresentava exercícios de respiração, olhares indutores de intimidade, exercícios e palestras — tudo levando a uma "viagem" em grupo em uma das variedades mais poderosas de psilocibina, chamada de Ghost.


Um dos participantes, Michael, que pediu para ser identificado apenas pelo primeiro nome, trabalha em Chicago, onde clientes corporativos pagam por suas tradicionais sessões de coaching executivo. Mas ele também realizou cerimônias clandestinas em residências particulares usando MDMA, ou ecstasy, e psilocibina.


— As drogas tiram o ego da pessoa do caminho. Com os psicodélicos, as pessoas ficam totalmente abertas — ele conta.


Michael, como os outros que trabalham ministrando psicodélicos entrevistados para esta matéria, recusou-se a entrar em mais detalhes, citando a confidencialidade do cliente e os seus próprios riscos legais. Muitos disseram que trabalhavam com outra pessoa que servia as drogas propriamente ditas.


A mistura de drogas e pessoas caracterizadas pela ambição, impaciência e competitividade pode criar as suas próprias armadilhas.


— O objetivo dessas sessões é "encontrar sua paixão e seu porquê cósmico". Isso, combinado com momentos em que as pessoas parecem receber mensagens da própria droga, pode levá-las a becos sem saída. Eles podem ser instruídos a construir arcas ou investir todo o seu dinheiro em psicodélicos ou criptografia — alerta Jules Evans, que dirige o Projeto de Experiências Psicodélicas Desafiadoras, uma organização sem fins lucrativos que estuda experiências difíceis com drogas.


Fonte: O Globo

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