A Food and Drug Administration (FDA), órgão que regula o mercado de remédios nos Estados Unidos, havia emitido um alerta em outubro para os riscos de se tratar pacientes psiquiátricos com versões manipuladas de cetamina. A droga foi a causa da morte do ator Matthey Perry, de “Friends”, de acordo com um laudo do legista responsável do Condado de Los Angeles, divulgado ontem.
Perry fazia uso terapêutico da droga anestésica, usada em casos de depressão. A substância, que tem propriedades alucinógenas, também é utilizada recreativamente. No caso do ator, níveis altos de cetamina podem ter provocado “estímulo cardiovascular excessivo ou depressão respiratória”, segundo o laudo.
Segundo a FDA, as versões manipuladas da droga, modificadas para as necessidades específicas de um paciente, têm provocado efeitos adversos quando tomadas sem supervisão médica. Entre eles, hipertensão, reações psiquiátricas, depressão respiratória e problemas no trato urinário que podem levar a incontinência.
O alerta da agência ressalta a diferença do uso com acompanhamento médico da venda direta on-line para tratar problemas psiquiátricos. “Pacientes que recebem produtos com cetamina de farmácias de manipulação e plataformas de comércio para o tratamento de transtornos psiquiátricos podem não receber informações importantes sobre o risco potencial associado a essas substâncias”, afirmou o órgão, em outubro.
O crescimento do mercado de plataformas de itens de saúde on-line impulsionado pela pandemia nos EUA fez surgir uma série de produtos com cetamina em forma de pastilhas, comprimidos e sprays nasais. Essas versões da droga são vendidas depois de uma entrevista rápida com o paciente por vídeo. Muitas dessas empresas fornecem até 30 doses após um único contato, o que pode agravar o perigo de uso equivocado.
Pesquisas recentes mostraram que a droga tem potencial promissor no tratamento da depressão, o que levou ao surgimento de alguns tratamentos assistidos, inclusive no Brasil. Mas médicos dos EUA reclamam de um vácuo regulatório para limitar o uso da substância.
— Quando você tem uma substância ou tratamento novos, pode surgir gente que larga na frente. E também gente que vai usar aquilo de forma menos baseada em evidências científicas — afirmou Joshua Berman, diretor médico de psiquiatria da Universidade de Columbia, que ajudou a desenvolver o programa de cetamina da instituição.
O laudo da autópsia de Perry afirmou que o ator estava passando por um tratamento com a substância, mas que a cetamina encontrada em seu organismo não poderia ser da última sessão terapêutica informada, que ocorreu uma semana e meia antes da sua morte.
Fonte: O Globo
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