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Fome oculta: a carência nutricional silenciosa que causa problemas de saúde


 
 

Será que a sua alimentação é realmente saudável? Com a correria do dia a dia nem sempre é possível garantir que a dieta seja equilibrada e tenha todos os nutrientes necessários. A carência de micronutrientes provoca um fenômeno pouco conhecido da população: a fome oculta.


Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o problema acontece por conta da falta de vitaminas e minerais no organismo, devido ao consumo insuficiente de alimentos como frutas, legumes, peixes e carnes. Estima-se que a fome oculta atinja uma em cada quatro pessoas no mundo, ou seja, 25% da população.


"Diferentemente da fome clássica, a fome oculta ocorre mesmo entre as pessoas que ingerem calorias em quantidades suficientes. É comum também entre os indivíduos que estão acima do peso", destaca Maria Fernanda Elias, nutricionista e PhD em Nutrição Humana pela USP (Universidade de São Paulo) e gerente da DSM Nutrição e Saúde Humana para América Latina.


A fome oculta não acomete apenas pessoas que vivem em situação de escassez de comida. Ela pode impactar quem consome alimentos em quantidades adequadas (ou em excesso) e também àqueles que ingerem alimentos que saciam, mas não nutrem. Por isso, mesmo que a pessoa coma bastante, ela não está equilibrando os micronutrientes necessários para sua saúde.


Possíveis causas


Além da dieta inadequada, algumas doenças intestinais impedem a absorção de nutrientes, causando a fome oculta. Algumas fases da vida, como a gravidez e a lactação, também podem elevar o risco do problema, já que a necessidade de alguns micronutrientes como o ferro é aumentada.


"A obesidade e disfunções hormonais também acarretam desequilíbrios metabólicos que levam ao quadro de fome oculta", completa Elias. Outros fatores que aumentam os riscos para o problema são: a falta de exercícios físicos, a baixa exposição solar (no caso da vitamina D), poucas horas de sono e o estresse.


Como sei que estou com o problema?


Um ponto fundamental a ser considerado é que a fome oculta geralmente é assintomática, pois provoca poucas alterações fisiológicas. Acontece uma carência não explícita de um ou mais micronutrientes, que podem ser imperceptíveis em um exame clínico de rotina, por exemplo.


De modo geral, o indivíduo não percebe que está com algum problema até que o quadro se agrave. É comum que o diagnóstico ocorra apenas quando a falta de nutriente vire uma doença. Entretanto, mesmo que a fome oculta não evolua, a condição ocasiona prejuízos à saúde em fases iniciais.


"Os sinais costumam aparecer quando já existe a deficiência em alta quantidade. Então vale ficar atento a manifestações de fadiga, dificuldade de concentração e câimbras. Também pode surgir irritação, variações de humor e queda de imunidade", aponta Durval Ribas Filho, nutrólogo e presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia).


Já quando há falta de um micronutriente específico, a fome oculta acarreta problemas de saúde bastante distintos. Entre os mais comuns estão a anemia por deficiência de ferro, a cegueira noturna ou problemas de visão e imunidade baixa.


Com o tempo, a situação vai se agravando e começam a surgir doenças crônicas como as cardiovasculares, hipertensão, diabetes, dislipidemia (placas de gordura no sangue) e osteoporose.


Crianças, gestantes e idosos são mais afetados


Em todas as fases da vida, é fundamental manter hábitos alimentares saudáveis. Entretanto, as crianças, por exemplo, precisam ter uma dieta adequada para se desenvolver. Mas, infelizmente, essa não é uma realidade mundial.


Segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), pelo menos uma em cada duas crianças com menos de cinco anos apresentam fome oculta no mundo. Para Ribas Filho, as crianças são mais afetadas porque dependem das escolhas alimentares de seus pais e do tipo de alimentação que é ofertado por eles. "Quando a alimentação é baseada em fast-food e ultraprocessados, fica difícil a criança não ser acometida pela fome oculta. É preciso oferecer um prato colorido para atingir a quantidade suficiente de nutrientes e vitaminas necessárias por dia", diz ele.


A fome oculta em crianças pequenas causa efeitos devastadores. Os especialistas entrevistados por VivaBem destacam que, além da desnutrição, surgem diversos problemas de saúde, podendo até levar ao óbito. "A falta de ferro, por exemplo, reduz a capacidade das crianças de aprender. As deficiências de vitaminas e minerais essenciais roubam a vitalidade das crianças em todas as faixas etárias e comprometem a sua saúde e o bem-estar", diz Elias.


Vale destacar que crianças com excesso de peso e obesidade também são atingidas pela fome oculta e devem ser observadas com atenção. Isso porque, apesar de consumirem uma quantidade de energia maior do que a necessária, não recebem alimentos nutritivos para o organismo.


Outro grupo que merece atenção dos especialistas de saúde são as gestantes. Gerar uma vida causa muitas alterações no corpo das mulheres e elas precisam de mais micronutrientes. A deficiência de ferro, por exemplo, em alguns casos, provoca anemia e aumenta o risco de morte no pós-parto.


E os recém-nascidos também são atingidos com a fome oculta das mães: estima-se que 18 milhões de bebês nascem com danos cerebrais devido à deficiência de iodo a cada ano.


Para Milton Lins, nutricionista da AmorSaúde, rede de clínicas parceira do Cartão de TODOS, de João Pessoa (PB), os idosos também são afetados pela fome oculta quando não se alimentam adequadamente por terem problemas na hora de mastigar ou engolir os alimentos. "Além disso, em casos de idosos mais debilitados e dependentes, a responsabilidade da alimentação fica com os cuidadores. Com a pressa e rotina, a dieta pode deixar a desejar na quantidade de nutrientes, aumentando o risco", destaca.


Como tratar e prevenir?


O primeiro passo é conseguir diagnosticar a fome oculta. A identificação do quadro envolve avaliação física, análise da alimentação e de hábitos de estilo de vida até os exames clínicos. "Basicamente, o diagnóstico é feito por meio de exames clínicos e laboratoriais (de sangue), que identificarão as vitaminas e os minerais deficientes. Por isso, é importante realizar um check-up regular", afirma Lins.


O tratamento é realizado de forma individualizada, suprindo as carências nutricionais, por meio de mudanças na alimentação ou suplementação com vitaminas e minerais.


Segundo Elias, a educação nutricional é extremamente importante para que a pessoa saiba fazer escolhas mais saudáveis ao se alimentar. "É fundamental que o indivíduo aprenda a identificar e optar por alimentos com maior densidade nutricional, como frutas, legumes, verduras, peixes, cereais integrais, lácteos e os alimentos fortificados com vitaminas e minerais".


Vale destacar que a OMS, a ONU (Organização das Nações Unidas) e o Unicef atuam em conjunto promovendo diversos programas para combater e prevenir a fome oculta. Entre as diretrizes apontadas pelas organizações, estão:


  • Uso de suplementos vitamínicos: principalmente vitamina A e ferro com indicação médica;

  • Fortificação de alimentos básicos: a recomendação é adicionar micronutrientes aos alimentos básicos ou condimentos durante o processamento para ajudar a atingir os níveis recomendados por dia. É o caso do sal com iodo, farinhas com vitamina B, ferro e zinco e o óleo e o açúcar com vitamina A;

  • Investir na diversidade alimentar: é importante apostar em uma dieta balanceada e adequada de macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras "boas") e consumir com regularidade frutas, legumes e cereais para ter uma alimentação repleta de micronutrientes essenciais no dia a dia.

Fonte: UOL

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