Contagem de calorias pode atrapalhar consumidores na escolha de alimentos saudáveis, revela pesquisa
- Portal Saúde Agora
- há 5 dias
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Saber a quantidade de calorias dos alimentos não ajuda as pessoas a entenderem quais alimentos são mais saudáveis, de acordo com um estudo em que fui coautora recentemente no Journal of Retailing. Quando os participantes do estudo consideraram as informações calóricas, classificaram alimentos não saudáveis como menos prejudiciais e alimentos saudáveis como menos benéficos. Eles também se mostraram menos confiantes em seus julgamentos.
Em outras palavras, a rotulagem calórica não ajudou os participantes a avaliar os alimentos com mais precisão — na verdade, os fez duvidar de si.
Em nove experimentos com mais de 2.000 participantes, meu colega e eu testamos como as pessoas usam as informações calóricas para avaliar alimentos. Por exemplo, os participantes viam itens geralmente considerados saudáveis, como uma salada, ou menos saudáveis, como um cheeseburger, e eram convidados a classificar o quão saudáveis esses alimentos pareciam. Quando os participantes não viam as calorias, percebiam corretamente uma grande diferença entre os alimentos saudáveis e não saudáveis. Mas, quando consideravam as calorias, esses julgamentos se tornavam mais moderados.
Em outro experimento, descobrimos que pedir aos participantes para estimar a quantidade de calorias dos alimentos reduzia a confiança que eles tinham em sua própria capacidade de julgar o quão saudáveis esses alimentos eram — e essa queda na confiança é o que levava a avaliações mais neutras. Observamos esse efeito com as calorias, mas não com outras métricas nutricionais, como gordura ou carboidratos, que os consumidores tendem a considerar menos familiares.
Esse padrão se repetiu ao longo de nossos experimentos. Em vez de ajudar as pessoas a fazerem avaliações mais precisas, a informação calórica parece criar o que os pesquisadores chamam de incerteza metacognitiva, ou a sensação de “eu achava que entendia isso, mas agora não tenho tanta certeza”. Quando as pessoas não estão confiantes em sua compreensão, elas tendem a evitar julgamentos extremos.
Como as pessoas veem informações calóricas com frequência, acreditam que sabem usá-las eficazmente. Mas os resultados sugerem que essa familiaridade pode ter efeito oposto, criando uma falsa sensação de entendimento que leva a mais confusão — e não menos. Meu coautor e eu chamamos isso de "ilusão de fluência calórica". Quando as pessoas são convidadas a julgar quão saudável é um alimento com base nas calorias, essa confiança desmorona rapidamente, e suas avaliações se tornam menos precisas.
Por que isso importa
Essas descobertas têm implicações importantes para a saúde pública e para as empresas que investem em transparência calórica. As políticas públicas de saúde presumem que fornecer informações calóricas levará a escolhas mais conscientes. Mas nossa pesquisa sugere que visibilidade não é o suficiente — e que as calorias, sozinhas, podem não ajudar. Em alguns casos, podem até levar as pessoas a fazer escolhas menos saudáveis.
Isso não significa que as informações calóricas devam ser removidas, mas sim que precisam ser acompanhadas de mais contexto e clareza. Uma abordagem possível seria associar os números de calorias a indicadores de decisão, como o semáforo nutricional ou uma pontuação geral de saúde, já usados em alguns países europeus. Alternativamente, a informação calórica de um item poderia vir com referências claras, explicando quantas calorias representam na recomendação diária de uma pessoa — embora isso seja desafiador, já que as necessidades diárias de calorias variam bastante.
Nosso estudo destaca uma questão mais ampla na comunicação sobre saúde: o simples fato de a informação estar disponível não significa que ela é útil. Compreender que a informação calórica pode parecer mais simples do que realmente é, pode auxiliar os consumidores a tomar decisões mais informadas e com mais confiança sobre o que comem.
O que ainda não se sabe
Em nossos estudos, observamos que as informações calóricas são especialmente propensas a criar uma ilusão de compreensão. Mas ainda há perguntas importantes sem resposta.
Por exemplo, os pesquisadores ainda não sabem como essa ilusão interage com o uso crescente de aplicativos de saúde e bem-estar, ferramentas de nutrição personalizadas ou recomendações alimentares baseadas em inteligência artificial. Pesquisas futuras podem investigar se essas ferramentas ajudam realmente as pessoas a se sentirem mais seguras em suas escolhas — ou se apenas aumentam a confiança sem melhorar o entendimento real das informações.
*Deidre Popovich é professora associada de Marketing na Texas Tech University, nos Estados Unidos.
*Este artigo foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o artigo original.
Fonte: O Globo
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