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Como pessoas com TOC enfrentam as ameaças de contaminação na pandemia



O Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) pode ser diagnosticado a partir de diferentes sintomas. Com a pandemia do novo coronavírus, alguns pacientes com TOC ligados à contaminação ou à limpeza, podem sofrer com as formas de prevenção e com a ideia de que o vírus possa estar em qualquer lugar.

Daniel Barros, psiquiatra da USP, explica que neste momento os pacientes que sofrem deste transtorno não devem interromper o tratamento e que se tiverem qualquer alteração devem procurar auxílio médico. "Não dá para falar para pensar positivo, para a pessoa não pensar nisso. TOC é doença e, neste momento, tem um estímulo externo forte. Então, a minha recomendação é: se perceber que está ficando instável por causa disso, procure um médico". José Alberto Roza Júnior, psicólogo clínico e professor da Universidade São Judas, explica que as pessoas com TOC, com obsessões e compulsões de sujeira têm visto na prática o que elas mais temem: a contaminação. "Entretanto, para elas, o sentido ultrapassa o da população geral que, por mais desconfortável que esteja com as atividades, não apresenta o mesmo sofrimento psíquico dos diagnosticados com TOC." "Para as pessoas sem diagnóstico, uma vez lavadas as compras, a contaminação ou a ideia de contaminação termina, por mais que dúvidas possam aparecer, como: será que eu lavei tudo direito? No caso das pessoas diagnosticadas com TOC , esse pensamento intruso retorna e é bastante doloroso" - José Alberto Roza Júnior, psicólogo clínico 'Comecei a lavar muito as mãos a ponto de feri-las' A bancária Carolina Melo, de 37 anos, começou a perceber que os sintomas estavam piorando quando viu que suas mãos estavam ficando feridas por causa do excesso de limpeza. Ela sempre tem TOC de limpeza, mas só foi diagnosticada aos 18 anos. Atualmente, está de licença no trabalho por causa da doença. "Comecei a lavar muito mais as mãos e usar álcool, a ponto de feri-las e passava álcool compulsivamente no teclado e mouse."

Melo afirma que já teve que modificar o tratamento após a piora. "Eu estou fazendo tratamento com psiquiatra e psicóloga on-line. Comecei com a dose máxima de um dos remédios, mas tudo indica que iremos mudar todo o esquema dos medicamentos, pois não estou tendo melhora." 'Quase todos os dias eu tenho falta de ar' Jhonatan Costa, de 22 anos, foi diagnosticado com 18 anos. Os sintomas começaram ainda na infância em comportamentos ligados a ações que ele pensava serem erradas, que ficavam compulsivamente em seus pensamentos. "Eu tinha vontade de morrer, eu sabia que eu não havia feito nada de errado, mas pensava em coisas que eu não queria pensar." Na adolescência, Jhonatan ficou com pensamentos compulsivos em relação à questões sexuais. Ele conta que ficou com um homem quando tinha 17 anos. "Ficamos somente nas preliminares, não houve relação sexual, porém depois disso eu comecei a ter a certeza que havia sido contaminado pelo vírus do HIV".

Mesmo o exame dando negativo, Jhonatan, seguiu com o pensamento que havia sido contaminado. "Em meus pensamentos o meu sangue havia sido trocado e o resultado foi um falso-positivo e fiquei por muito tempo acreditando que estava contaminado, por muitos anos o processo foi o mesmo, eu fazia o exame e não acreditava nos resultados."

O diagnóstico veio quando um cabeleireiro cortou sua orelha com um navalha. "Coloquei na cabeça que havia sido contaminado, realizei o exame e não acreditei no resultado. Solicitei ser medicado com Profilaxia Pós-Exposição de Risco (PEP). Um dia eu tive um surto e fui atendido pelo psiquiatra que identificou que eu tenho TOC por contaminação e me receitou medicação e terapia."

Com a Covid-19, Jhonatan conta que não tem conseguido sair de casa, que tem se sentido mais ansioso e que tem lavado as mãos excessivamente. Para tentar amenizar os efeitos dos sintomas, ele tem sido acompanhado por um psiquiatra. "Além de pensar no HIV, eu tenho muito medo de ser contaminado pelo coronavírus, eu não estou conseguindo sair de casa para nada. Fui afastado do emprego, pois toda vez que eu saio na rua me dá um desespero e muitas náuseas, quase todos os dias eu tenho falta de ar e a certeza que irei morrer por causa desta pandemia, estou com um medo excessivo de morrer, só penso nisso agora". -Jhonatan Costa, de 22 anos 'Fiquei algumas noites sem dormir' Thainã Rodriguês, tem 23 anos, e há 5 faz acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Ela conta que alguns sintomas apareceram na infância, mas que todos eles eram tratados como se fossem manias. Ela tem TOC de contaminação e de limpeza. Eles foram descobertos em 2018, após o pai ser diagnosticado com um câncer e a sua melhor amiga com uma doença rara no pulmão. "Por conta disso, eu passei a ter muito convívio com hospitais, e o medo de que os dois pegassem qualquer tipo de infecção era muito grande. Com isso, fiquei obcecada por limpeza, tudo em volta deles tinha que estar extremamente limpo. Eu não notei que era uma doença, até as pessoas à minha volta notarem que eu lavava a mão a cada segundo. Depois surgiu outro medo, eu achava que tinha me contaminado de alguma doença ou que tinha contaminado meu pai e minha amiga". Com o tratamento que começou a fazer, Thainã conta que estava assintomática - até surgir a pandemia. "Meu sintomas voltaram, o medo, o pânico e pavor de me contaminar ressurgiu. Eu passei a lavar as mãos com muita frequência e a tomar vários banhos. Fiquei algumas noites sem dormir"

Thainã tem feito terapia com psicólogos que estão fazendo atendimentos emergenciais. "Eu procurei esses atendimentos algumas vezes e segui todas as dicas. Agora, estou bem melhor. A atividade física tem me ajudado bastante nesse processo."

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