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Comer chocolate amargo pode reduzir o risco de depressão, aponta pesquisa

Comer chocolate amargo pode influenciar positivamente o humor e aliviar os sintomas depressivos, segundo uma nova pesquisa.

No entanto, pelo menos um especialista afirmou que, apesar de as descobertas serem intrigantes, por ora não devem ser usadas para mudar hábitos alimentares.

Usando dados da National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) norte-americana, pesquisadores do University College London, no Reino Unido, descobriram que indivíduos que relataram ter comido chocolate amargo em dois períodos de 24 horas tinham 70% menos chances de relatar sintomas depressivos clinicamente relevantes em comparação com aqueles que não relataram consumo de chocolate.

“Este estudo fornece alguma evidência de que o consumo de chocolate, especificamente o de chocolate amargo, pode estar associado à redução da probabilidade de sintomas depressivos clinicamente relevantes”, disse a primeira autora, Dra. Sarah E. Jackson, em um comunicado.

O estudo, ela acrescentou, é o primeiro a estudar a associação entre depressão e o tipo de chocolate consumido.

O estudo foi publicado on-line em 29 de julho no periódico Depression and Anxiety.

Intensificador do Humor

Tem sido amplamente divulgado que o chocolate tem propriedades que melhoram o humor. Vários mecanismos foram propostos para explicar uma relação entre chocolate e o humor.

O chocolate contém vários ingredientes psicoativos, incluindo dois análogos de anandamina, que têm efeitos semelhantes aos dos canabinoides, agentes que causam a sensação de euforia ao ingerir Cannabis. Além disso, o chocolate contém várias aminas biogênicas endógenas, assim como feniletilamina, um neuromodulador tido como importante para a regulação do humor, disseram os pesquisadores.

Para saber mais os pesquisadores analisaram dados do levantamento NHANES de 2007 a 2008 e de 2013 a 2014. O conjunto total de dados incluiu 13.626 adultos.

O consumo diário de chocolate foi determinado a partir de dois diários alimentares de 24 horas. Sintomas depressivos foram avaliados usando o Patient Health Questionnaire–9.

Dentre os participantes do estudo, 7,6% dos que não consumiram chocolate apresentaram sintomas depressivos, comparados com apenas 1,5% dos que consumiram chocolate amargo. A taxa de sintomas depressivos em pessoas que comeram chocolate sem ser do tipo amargo foi de 6,2%.

Após o ajuste para múltiplos fatores, os participantes que relataram consumo de chocolate amargo tiveram probabilidade 70% menor de relatar sintomas depressivos clinicamente relevantes em comparação com aqueles que não comeram chocolate (razão de chances ou odds ratio, OR, = 0,30; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 0,21 a 0,72). No entanto, os pesquisadores não encontraram nenhuma ligação significativa entre o consumo de chocolate não-amargo e sintomas depressivos clinicamente relevantes.

Nos modelos que incluíram a quantidade de chocolate consumida, os participantes que estavam no quartil mais alto de ingestão de chocolate (104 a 454 g/dia) tiveram 57% menos chances de apresentar sintomas depressivos comparados àqueles que não relataram consumo de chocolate (OR = 0,43; IC 95% de 0,19 a 0,96), após ajuste para o tipo de chocolate consumido.

Essas associações ficaram evidentes após o ajuste para idade, estado civil, escolaridade, renda familiar anual, peso, doenças crônicas, atividade física de lazer, tabagismo, ingestão de álcool, ingestão total de energia e ingestão total de açúcar.

Resultados inconsistentes

Estas observações, segundo os pesquisadores, estão de acordo com a maioria dos estudos experimentais, que mostraram benefícios relacionados com o consumo de chocolate para o humor, pelo menos em curto prazo.

No entanto, os resultados são inconsistentes com os de pesquisas anteriores que mostraram associações positivas entre o consumo de chocolate e sintomas depressivos.

“Os resultados discrepantes podem ser atribuídos aos ajustes feitos nesta análise para uma ampla gama de covariáveis, potenciais fatores confusão”, escreveram os pesquisadores.

Mais pesquisas são necessárias para “esclarecer a direção da causalidade – pode ser que a depressão faça com que as pessoas percam o interesse em comer chocolate, ou podem existir outros fatores que tornam as pessoas menos propensas a comerem chocolate amargo e ficarem deprimidas”, disse a Dra. Sarah.

“Se uma relação causal demonstrando um efeito protetor do consumo de chocolate contra os sintomas depressivos for estabelecida, o mecanismo biológico precisa ser entendido para determinar o tipo e a quantidade de chocolate necessária para a prevenção e tratamento ótimos da depressão”, acrescentou ela.

Comentando sobre os achados para o Medscape, a Dra. Michelle Riba, médica e diretora associada do Comprehensive Depression Center da University of Michigan, nos Estados Unidos, disse: “Não dá para orientar os pacientes a comerem chocolate amargo com base nesse estudo. Não se trata deste tipo de estudo. No entanto, é importante a busca por tratamentos adjuvantes, e por algo que as pessoas podem fazer para se manterem saudáveis.

“O problema é que, se você disser a alguém que chocolate amargo é bom, é provável que as pessoas comam muito chocolate amargo e deixem de lado as frutas e legumes. Se exercitar e ter uma dieta boa e equilibrada é importante para todas as pessoas”, acrescentou a Dra. Michelle.

O estudo não teve financiamento específico. Os autores e a Dra. Michelle Riba informaram não ter conflitos de interesses relevantes.

Depression and Anxiety. Publicado on-line em 29 de julho de 2019.

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