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Ócio: entenda por que o cérebro precisa do tédio para funcionar melhor

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Ficar sem fazer nada é uma ideia difícil de imaginar em tempos de agendas lotadas e telas sempre por perto. Mas esse vazio, frequentemente visto como perda de tempo, pode trazer ganhos importantes para a saúde mental e o funcionamento do cérebro.


Segundo o neurocientista e psicólogo Eduardo Rocha, do Instituto Inner, em Brasília, quando estamos entediados o cérebro muda para um estado introspectivo.


“É um modo de reflexão ativa, criativa e de auto-observação. Nesse estado, o cérebro reorganiza pensamentos e se prepara para retomar suas atividades”, explica.

A neurologista Thaís Augusta Martins, coordenadora de Neurologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, detalha que o tédio reduz a atividade dopaminérgica e ativa a chamada Default Mode Network, uma rede ligada ao descanso cerebral e à autorreflexão.


“Esse tempo vazio favorece a integração de informações internas, a regulação emocional e a consolidação da memória”, afirma.


Motor da criatividade


Esse estado também pode impulsionar a resolução de problemas. Para Rocha, é mais adequado falar em ócio do que em tédio.


“O ócio permite que áreas diferentes do cérebro se conectem. A associação entre regiões auditivas, motoras e visuais favorece o surgimento de ideias criativas e auxilia na solução de desafios complexos”, diz.

A experiência de deixar a mente vagar sem estímulos imediatos é tão importante que práticas como a meditação utilizam esse mecanismo de descanso para gerar efeitos positivos comprovados.


Por que é tão difícil lidar com o tédio hoje?


Se por um lado o tédio pode ter valor, por outro, se tornou cada vez menos tolerado. O neurologista Flavio Sallem, do Hospital Japonês Santa Cruz, em São Paulo, aponta que a vida digital mudou esse cenário.


“Vivemos cercados por estímulos que oferecem recompensas imediatas. Cada notificação ou rolagem de feed ativa circuitos de dopamina. Por isso, o silêncio e a espera parecem insuportáveis”, observa o médico.

Thaís afirma que os algoritmos das redes sociais intensificam essa busca. “Eles exploram circuitos de recompensa dopaminérgica de maneira semelhante ao que ocorre em vícios. Isso condiciona o cérebro a procurar constantemente novos estímulos e diminui a tolerância ao tédio”, complementa.


Quando o tédio é prejudicial


Nem todo tédio é igual. De acordo com a neurologista Thaís, existe uma diferença entre o estado saudável e o prejudicial.


O primeiro é passageiro, ajuda na criatividade e no descanso do cérebro. O segundo está ligado a sintomas como apatia, falta de motivação e dificuldade em sentir prazer, comuns em quadros de depressão e transtornos ansiosos.


Como equilibrar estímulos e pausas no dia a dia


O neurocientista Eduardo Rocha sugere algumas estratégias para incluir o ócio criativo na rotina:

  • Praticar meditação, que ajuda a reorganizar funções cognitivas e a estimular a neuroplasticidade;

  • Fazer pausas no trabalho, de preferência a cada 30 minutos, sem recorrer ao celular ou às redes sociais;

  • Ter contato com a natureza, aproveitando sons, cheiros e paisagens que promovem relaxamento e reduzem o excesso de estímulos mentais.


“Esses momentos de pausa desafogam o pensamento analítico e favorecem a criatividade. É nesse espaço vazio que o cérebro encontra novas conexões”, conclui o especialista.


Fonte: Metrópoles

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