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Suor é um sinal de alerta para o comportamento disruptivo no autismo grave

Em pacientes com autismo grave, os sensores de suor que detectam o aumento da atividade eletrodérmica (EDA, sigla do inglês, electrodermal activity) podem sinalizar comportamentos disruptivos com antecedência, dando uma chance de evitar esses incidentes antes que comecem.

Em um pequeno estudo de viabilidade, envolvendo oito meninos com transtorno do espectro autista (TEA) grave, os monitores de tornozelo e punho registraram um aumento do nível de suor – sinalizando uma elevação da atividade eletrodérmica – 60% das vezes antes da ocorrência de um comportamento problemático, como automutilação ou agressão.

Dr. Bradley Ferguson

“Um pico da atividade eletrodérmica nos indica que o corpo do indivíduo está reagindo fisiologicamente a algo estressante”, disse o primeiro autor, Dr. Bradley J. Ferguson, médico, Departments of Health Psychology and Radiology da University of Missouri (MU) School of Medicine, nos Estados Unidos, em um comunicado à imprensa.

A sinalização do aumento do estresse pode dar aos cuidadores uma chance de interferir e contornar a situação, acrescentou o Dr. Bradley, que também faz parte do Thompson Center for Autism and Neurodevelopmental Disorders da MU.

“Se virmos os níveis de estresse começando a subir, isso seria um indicador de que o indivíduo precisa de algum tipo de intervenção – seja tirando-os da situação, dando-lhes um descanso ou outra coisa”, disse o médico ao Medscape.

O Dr. Bradley explicou que, embora este tenha sido um estudo pequeno, os resultados beneficiarão futuras pesquisas sobre coleta de dados por meio do monitoramento com sensores, e outros estudos de viabilidade sobre como usar esses dados.

Os achados foram publicados on-line em 11 de setembro no periódico Frontiers in Psychiatry.

Agressividade, automutilação e irritabilidade

“As pesquisas têm demonstrado que muitos indivíduos com TEA têm episódios de agressividade e outros comportamentos problemáticos, como automutilação e irritabilidade”, escreveram os pesquisadores.

Além disso, aqueles com capacidade restrita de comunicação e interação social têm um risco ainda maior de apresentar esse tipo de comportamento, acrescentaram.

Como o estresse muitas vezes pode levar a problemas nessa população, os pesquisadores começaram a investigar maneiras de medir a atividade eletrodérmica, a fim de identificar mudanças no nível de estresse do paciente.

“Aumentos na atividade eletrodérmica indicam a ativação do sistema nervoso simpático (a resposta de ‘luta ou fuga’ do sistema nervoso autônomo)”, escreveram os pesquisadores.

“A ativação do sistema nervoso simpático aumenta a secreção das glândulas sudoríparas écrinas por todo o corpo, e o suor conduz eletricidade”, acrescentaram.

“Muitas vezes, esses indivíduos gravemente afetados pelo autismo não podem comunicar verbalmente quando estão ficando estressados. Muitas vezes, a maneira de demonstrar isso é tendo um comportamento disruptivo”, disse o Dr. Bradley.

No estudo atual, os pesquisadores queriam avaliar a viabilidade da coleta de dados de atividade eletrodérmica em adolescentes com TEA grave.

Tecnologia não invasiva

Oito meninos (média de idade de 15,9 anos; seis brancos e dois hispânicos) residentes no Center for Discovery foram incluídos no estudo.

Todos os participantes tiveram pontuações nas Escalas de Classificação do Espectro do Autismo nas categorias “elevado” (de 65 a 69) ou “muito elevado” (de 70 a 85).

Outras medidas utilizadas foram a Escala de Inteligência de Stanford-Binet ou o Teste Abrangente de Inteligência Não Verbal, a pontuação Adaptive Behavior Assessment System General Adaptive Composite e a pontuação Vineland Adaptive Behavior Scales Adaptive Behavior Composite.

O comportamento problemático mais comum foi a automutilação, seguida por agressão, comportamento social inadequado e desobediência.

“Esses indivíduos, que vivem no Center, vão à escola durante o dia e têm diversos comportamentos problemáticos importantes, que vão desde bater e morder a si mesmos até incomodar seus colegas de classe ou levantar e correr pela sala”, relatou o Dr. Bradley.

Os dados da atividade eletrodérmica foram coletados enquanto os participantes estavam em uma sala de aula “normal” no laboratório-escola do Center for Discovery, que usa câmeras e microfones escondidos para coletar informações comportamentais.

Pulseira Q-Sensor pod.

Quando bem toleradas, as pulseiras de Q-Sensor pod (Affective Inc) com eletrodos secos foram usadas para coletar dados sobre os padrões de atividade eletrodérmica. Caso um participante não tolerasse usar o sensor no pulso, o dispositivo era colocado no tornozelo.

“Esses sensores não são muito invasivos. Você pode prendê-los como um relógio com uma pulseira de velcro, e não têm fio. Basta pressionar um botão, que o dispositivo liga e grava por algumas horas”, disse o Dr. Bradley.

Somente a primeira ocorrência de um comportamento problemático por sessão foi analisada.

Uma oportunidade

Os resultados mostraram que 60% dos episódios de comportamento problemático estavam ligados a um “aumento da atividade eletrodérmica” prévio.

“Isso tem implicações importantes nos esforços para utilizar marcadores psicofisiológicos como preditores de comportamentos problemáticos”, escreveram os pesquisadores.

“No entanto, a frequência que um aumento prévio na atividade eletrodérmica foi observado em cada indivíduo variou”, acrescentaram.

Curiosamente, a maior incidência de aumento da atividade eletrodérmica ocorreu em meninos que apresentaram comportamento de automutilação e perturbação geral na sala de aula. Por outro lado, a menor incidência de um aumento prévio da atividade eletrodérmica ocorreu naqueles que se envolveram principalmente em agressões.

Para todos os comportamentos problemáticos registrados, os níveis de atividade eletrodérmica retornaram aos valores medianos basais, em uma média de 45% das vezes após a ocorrência de um comportamento problemático.

A frequência com que esses níveis retornaram às medições da linha de base também variou entre os estudantes.

As respostas da atividade eletrodérmica entre os participantes do estudo diferiram. Alguns apresentaram um aumento gradual até o comportamento problemático, atingiram o pico durante o incidente e depois diminuíram gradualmente, enquanto em outros os padrões variaram.

Quando um aumento prévio foi encontrado, a atividade eletrodérmica aumentou, em média, 10 minutos antes da ocorrência do comportamento problemático, “o que oferece uma oportunidade de intervenção”, segundo os pesquisadores.

No geral, “os resultados deste estudo exploratório indicam que avaliar a relação entre atividade eletrodérmica e comportamentos problemáticos é viável” em pacientes com TEA grave e nesse tipo de ambiente, acrescentaram.

Uma lição?

“Esta pesquisa destaca a variabilidade individual… que deve ser considerada, e que pode ter implicações nas abordagens de tratamento individualizado no futuro”, disse o copesquisador Dr. Devid Beversdorf, médico, professor de radiologia, neurologia e psicologia no MU College of Arts and Sciences, em um comunicado.

Dr. Bradley disse que os sensores podem ser usados apenas quando é mais provável que uma criança desenvolva comportamentos problemáticos, como ao aprender coisas novas. No entanto, “o ideal” seria que os sensores pudessem ser usados o tempo todo.

“Já estamos começando a ver o surgimento dessa tecnologia, não necessariamente com os eletrodos atividade eletrodérmica, mas com outros sinais fisiológicos, como a variabilidade da frequência cardíaca no eletrocardiograma”, disse ele.

O Dr. Bradley relatou que o próximo passo é desenvolver um aplicativo móvel que alertaria os cuidadores em tempo real sobre aumentos nos níveis de estresse de uma criança, e que daria uma oportunidade de intervenção precoce.

“Talvez para os indivíduos mais funcionais, seja possível usar os dados de estresse para fornecer biofeedback, ensiná-los sobre o que está acontecendo quando o corpo está estressado, e ensiná-los a pedir um tempo ou solicitar alguma outra intervenção”, ele disse.

O Dr. Bradley também disse que a tecnologia seria útil para outras populações com problemas de estresse.

“Acho que essa é a beleza dessa tecnologia, e acredito que é para onde as coisas estão caminhando naturalmente, biossensores, etc. Você poderá ver os dados ao longo do tempo para conhecer os padrões de estresse”, afirmou.

O estudo foi financiado pelo New York State Center of ExcellenceNew York State Department of HealthOffice for People With Developmental Disabilities e por doações ao Center for Discovery. Dr. Bradley J. Ferguson informou não ter conflitos de interesses relevantes.

Fonte: Medscape

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