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Sociedade médica alerta para aumento do uso indiscriminado do chip da beleza


 
 

Imagine um pequeno tubo alocado sob a pele, que libera hormônios gradualmente e promete evitar a gravidez, amenizar a cólica e a dor de cabeça durante a menstruação e ainda tonificar o corpo, aumentar a disposição e incrementar a libido. Essa é a promessa do implante hormonal popularmente conhecido como "chip da beleza". A expectativa da beleza sem esforço fez com que explodisse a procura por esse tipo de produto no Brasil, o que preocupa especialistas e entidades médicas.


"No Brasil, a utilização de implantes hormonais utilizando esteroides sexuais e seus derivados aumenta de forma avassaladora. Por serem apresentações customizáveis, existe um real risco de superdosagem e de subdosagem", alerta a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), em posicionamento divulgado neste sábado, endossado pela Associação Médica Brasileira (AMB).


O chip, na verdade, é um tubinho de silicone, com 3 a 5 centímetros de comprimento e e 3 mm de espessura. Em geral, o implante é colocado na parte interna do braço, próximo à axila, ou acima das nádegas, por meio de uma microincisão em um procedimento com anestesia local, que não dura mais de 10 minutos. Até o momento, o único implante hormonal industrializado aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é o Implanon, nome comercial do implante anticoncepcional composto por etonogestrel, um tipo de progesterona. O produto evita a gravidez, mas não causa os efeitos estéticos almejados, de acordo com Alexandre Hohl, presidente do Departamento de Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da SBEM.


Para isso, é necessário recorrer a implantes manipulados, que podem incluir uma mistura de hormônios, a depender dos efeitos desejados. A gestrinona é o mais usado, pois além de inibir a ovulação, estimula a ação da testosterona. No corpo da mulher, o aumento desse hormônio masculino se traduz no tão desejado vigor físico. Por outro lado, é ele o responsável por efeitos colaterais, como acne, aumento de oleosidade de pele, queda de cabelo, aumento de pelos, mudança de timbre da voz e aumento do clitóris. De acordo com Hohl, pode haver doença no coração, no fígado e há até mesmo relatos de mortes.


— Quando você ouve falar em "chip da beleza ou "implantes hormonais", é tudo uma mistura de diversos hormônios que começa com a justificativa de melhorar a TPM, suspender a menstruação e tratar a endometriose. Mas quando você vê, é para melhorar a massa muscular e diminuir gordura. E isso é totalmente questionável do ponto de visto ético — diz o médico.


Além disso, segundo a SBEM, devido à sua ação anabolizante, a gestrinona está na lista de substâncias proibidas no esporte da World Anti-Doping Agency (WADA). Entretanto, ela não está na lista de anabolizantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que facilita o acesso.


O valor do implante varia de 3 a 4 mil reais e a validade pode chegar a três anos. Após esse período, é preciso colocar um novo para obter os mesmos efeitos. Mas ele pode ser retirado a qualquer momento. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia também alerta para a ausência de bula. Como esses produtos são manipulados, a paciente fica sem as informações básicas sobre indicações, posologia, interações medicamentosas, estudos de segurança e eficácia e efeitos adversos.


Diante destes fatos, a SBEM concluiu que "não reconhece os implantes de gestrinona como uma opção terapêutica para tratamento de endometriose, rechaça veementemente o seu uso como anabolizante para fins estéticos e de aumento de desempenho físico”.


Fonte: O Globo

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