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Saúde mental é a maior preocupação da população LGBT+ durante a pandemia



Qual é a maior dificuldade que você está enfrentando durante o isolamento? Essa foi a pergunta que conduziu a pesquisa “Diagnóstico LGBT+ na pandemia”, realizada entre 28 de abril e 15 de maio, numa parceria do coletivo #VoteLGBT com a Box1824. Em primeiro lugar, disparado, ficou a questão da saúde mental, que incluía problemas como ansiedade, depressão e crise de pânico, com 42,72% das mais de 9.500 respostas que alimentaram o relatório. Depois vinham as novas regras de convívio, com 16.58%; solidão, com 11.7%; e falta de renda, com 10.62%.

Para quem sofre preconceito dentro da própria família por causa da orientação sexual, redes de apoio formadas por amigos, conhecidos e lugares de acolhimento são da maior importância. Só que o isolamento imposto pela pandemia privou esse grupo do suporte e, em alguns casos, ainda obrigou muitos a voltar para a casa de pais ou parentes. Esse é o cenário das novas regras de convívio, explicou Samuel Araújo, doutorando em demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais, que apresentou a pesquisa no seminário on-line “Pessoas LGBTQI+ no Brasil, vulnerabilidades e impactos da Covid-19”, realizado dia 15: “o convívio familiar e social é fonte de preconceito e violência contra essa população. Na pandemia, quando não há acesso às redes de apoio e a família de origem não aceita essas pessoas, a situação piora. O isolamento social tem repercussão mais aguda para esse grupo”.

Indivíduos na faixa etária acima dos 45 anos foram os que mais se ressentiram com as regras de quarentena: 26% disseram que esta era a maior dificuldade enfrentada. A solidão também bateu forte nos segmentos maduros: se no cômputo geral este sentimento respondia por 11.7% das menções, o percentual subia para 60% para quem tinha entre 45 e 54 anos; e chegava a 80% para quem tinha mais de 55. Sobre as dificuldades financeiras, é bom lembrar que a taxa de desemprego LGBT+ é da ordem de 21.6%. Quase metade dos responderam ao questionário atuava em atividades que foram paralisadas.

Também é importante esclarecer que o termo LGBT+ se refere à orientação sexual e identidade de gênero de mais de 11 grupos diferentes. Dentro desse universo há desigualdades e diferentes graus de vulnerabilidade: a expectativa de vida de uma travesti, por exemplo, é de 30 anos, enquanto a de um brasileiro é de 74,6 anos. Symmy Larrat, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), a maior entidade do gênero da América Latina, foi direta: “somos invisíveis, nosso afeto é motivo de agressão. O isolamento já nos foi imposto há muito tempo, as pessoas não querem conviver conosco. São as respostas comunitárias que dão acolhimento depois do abandono familiar, e agora tem gente voltando para a casa dos pais porque não há outra alternativa”. Ela acrescentou que travestis e transexuais, em sua grande maioria, trabalham na informalidade ou se prostituem: “acabam não tendo outra saída a não ser ir para a rua, sujeitando-se a mais violência”. Andrey Lemos, presidente da União Nacional LGBT, rede organizada em 21 estados, enfatizou a necessidade da integralidade do cuidado para essa população: “temos uma pandemia sanitária e uma crise econômica, e o quadro é mais perverso para aqueles que são negligenciados ao longo de todo o curso de vida”. No final, coube a Samuel Araújo a observação mais incisiva sobre a falta de políticas públicas: “por que não há perguntas sobre a orientação sexual no censo, na Pnad, ou em qualquer outra pesquisa? A inexistência da informação é uma estratégia pensada, para que não sejam feitas as transformações necessárias. É mais fácil dizer: ‘não sei como identificar esse grupo’, ‘não sei quais são as demandas’. Só contabilizando vamos ter a dimensão do estigma”.


Fonte: G1

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