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Risco de esclerose múltipla quase duplica 15 anos após concussão na adolescência

Estocolmo, Suécia — Pessoas que sofrem uma concussão na adolescência têm risco significativamente elevado de esclerose múltipla (EM) mais tarde na vida, especialmente ≥ 15 anos após o traumatismo cranioencefálico, sugere um grande estudo retrospectivo.

O risco de esclerose múltipla ao longo do tempo praticamente dobrou nessa população em comparação com as pessoas sem história de concussão.

“Também encontramos um aumento significativo do risco entre os homens, e não entre as mulheres”, a partir de cerca de oito anos depois da concussão em uma análise secundária, disse ao Medscape o primeiro autor, Christopher Povolo, BSc, do Departamento de Ciências em Neurologia Clínica da Schulich School of Medicine & Dentistry na Western University, no Canadá.

Os resultados foram apresentados durante uma sessão de poster no35º congresso do European Committee for Treatment and Research in Multiple Sclerosis (ECTRIMS 2019).

Anteriormente, outros pesquisadores já haviam relacionado os traumatismos cranianos, inclusive a concussão, com a esclerose múltipla.

Por exemplo, um estudo sueco de caso-controle apresentado no ECTRIMS 2017 mostrou que adolescentes com diagnóstico de concussão tinham mais risco de evoluir com esclerose múltipla (razão de chances ou odds ratio, OR, de 1,22; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 1,05 a 1,42; P = 0,008).

O estudo, publicado no mesmo ano no periódico Annals of Neurology , revelou que o risco foi ainda maior entre aqueles com dois ou mais diagnósticos de concussão (OR = 2,33; IC 95%, de 1,35 a 4,04; P = 0,002).

Na pesquisa em tela, Christopher e colaboradores estudaram a correlação entre as concussões em adolescentes dos 11 aos 18 anos de idade e o futuro quadro de esclerose múltipla utilizando informações de vários bancos de dados canadenses interligados. Os pesquisadores avaliaram 391.860 pessoas, dentre as quais, 97.965 com diagnóstico de concussão na adolescência.

O grupo da concussão procurou atendimento em algum pronto-socorro em Ontário (Canadá) entre 1992 e 2011. Os pesquisadores parearam cada um desses casos a três pessoas sem história de concussão, com ajuste por idade, sexo, endereço e data de ocorrência.

Quem evoluiu com esclerose múltipla teve uma ou mais hospitalizações relacionadas ou cinco ou mais diagnósticos relevantes por código da Classificação Internacional de Doenças (CID) usados para faturamento do atendimento médico em dois anos.

Desfechos primários e secundários

Os pesquisadores informaram não haver aumento do risco global de esclerose múltipla em 15 anos de acompanhamento dos pacientes com história de concussão na adolescência.

Por outro lado, o mesmo grupo teve um risco significativamente elevado de esclerose múltipla depois de 15 anos ou mais (razão de risco ou hazard ratio, HR, de 1,85; = 0,05) na estratificação pela análise de regressão de Cox.

Uma análise secundária mostrou diferença entre os sexos. Os homens que sofreram concussão na adolescência tiveram mais risco de esclerose múltipla mais precoce em ≥ 8 anos de acompanhamento (HR = 1,58; P = 0,02). As mulheres não apresentaram esse aumento significativo do risco.

Christopher e colaboradores também tentaram uma definição mais precisa para a ocorrência de esclerose múltipla: três ou mais pedidos de pagamento de consultas hospitalares ou médicas, usando todos os anos com dados disponíveis. Neste caso, todos os participantes, independentemente do sexo, tiveram aumento do risco de esclerose múltipla (HR = 1,37; P = 0,08) se tivessem tido pelo menos oito anos de acompanhamento desde a concussão.

Os pesquisadores gostariam de expandir suas pesquisas nesta área. “Futuramente poderemos analisar um período maior, ou utilizar um banco de dados nacional”, disse Christopher.

“Está tudo certo com os dados do estudo”

A principal mensagem da pesquisa é “a prevenção e o risco na adolescência”, disse ao Medscape o Dr. Tomas Olsson, Ph.D., médico e professor de neurologia afiliado ao Departamento de Neurociências Clínicas do Centro de Medicina Molecular do Karolinska Universitetssjukhuset,em Estocolmo, quando convidado a comentar.

“Esportes violentos como boxe, hóquei no gelo e futebol americano podem não ser bons em termos da esclerose múltipla, especialmente para os adolescentes cujos pais têm esclerose múltipla”, acrescentou o comentarista.

O Dr. Tomas foi coautor do estudo de 2017 na Suécia que descreveu associações semelhantes entre a concussão na adolescência e o risco de esclerose múltipla mais tarde. “Basicamente, seus resultados replicam os nossos, que foram publicados há alguns anos. Então, eu acho que está tudo certo com os dados” deste estudo.

O estudo foi subsidiado por uma subvenção irrestrita para o estudo iniciado pelo pesquisador pela empresa Roche Canada e por financiamento da pesquisa do Vetenskapsrådet, Knut och Alice Wallenbergs Stiftelse e pela Hjärnfonden. Christopher Povolo informou não ter conflitos de interesses relevantes. Dr. Tomas Olsson informou subvenções irrestritas e remuneração por participação em conselhos consultivos e/ou palestras das empresas Biogen, Genzyme, Novartis, AstraZeneca e Allmiral.

Fonte: Medscape

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