
Questões sobre a duração de um tratamento psicológico são comuns nos consultórios dos profissionais. Em uma sociedade acostumada aos resultados imediatos da tecnologia e a conseguir tudo rapidamente, é compreensível que muitos fiquem desesperados quando uma fase de desconforto psicológico não possui uma data de validade para acabar.
– O principal a saber é que a terapia ajuda você a se sentir emocionalmente melhor. É um espaço em que se pode falar livremente e expressar as emoções. As pessoas adquirem ferramentas para lidar com as situações que enfrentam diariamente – explica a psicóloga Julieta Fabi.
Segundo ela, na terapia, a pessoa descobre o quão importante é não guardar internamente os sentimentos e pensamentos negativos, pois isso, a longo prazo, causa danos internos e externos.
– Isso ajuda você a perceber a liberdade que se sente ao falar e pedir ajuda – afirma.
Dependendo a quem você pergunte, existem pelo menos 10 tipos de abordagens ou terapias no campo da psicologia. Logo, por conta da grande variedade de tratamentos, é impossível determinar uma duração exata. Isso ocorre porque cada abordagem tem seu próprio modelo de cérebro ou mente, a natureza da angústia e o caminho para a cura. Ou seja, cada uma tem seu próprio sistema de valores.
– Muitos ainda imaginam um psicólogo sentado atrás de um divã, enquanto a pessoa deita e conta o que está acontecendo, mas a psicologia é um campo muito amplo que vai além da psicoterapia – esclarece Fabi.
No entanto, ela acrescenta que, embora haja diversas abordagens que estudem a mente humana, todas têm uma base geral, apenas o foco que está em aspectos diferentes. – Essa diversidade faz com que o tipo de terapia escolhida por uma pessoa seja mais específica em alguns aspectos e ajude a resolver seus próprios problemas – explica.
Em geral, as pesquisas mostram que a maioria das pessoas faz apenas uma sessão de terapia psicológica ao longo da vida. Essa primeira consulta com o profissional de saúde mental geralmente se concentra em fazer perguntas introdutórias sobre a vida do paciente, não em fornecer um suporte substancial. Então, como resultado, pode não levar a pessoa a continuar o tratamento.
A maioria dessas pessoas que busca ajuda alega se sentir desencorajada por aqueles que afirmam que a terapia é algo que "deve ser feito para a vida toda". No entanto, alguns terapeutas e pacientes questionam essa ideia e defendem que é possível obter resultados positivos desde o início do tratamento. Existe um número mínimo de sessões de terapia que seja eficaz? A duração do tratamento de problemas psicológicos varia de uma pessoa para outra, destacam os profissionais da Sociedade de Psicologia Americana (APA). Segundo eles, o tratamento (tipo e duração) sempre deve ser adaptado à natureza e gravidade das dificuldades apresentadas pela pessoa.
– Problemas agudos geralmente exigem menos sessões de tratamento do que condições crônicas. Outro fator a ser considerado para a duração é o tipo de tratamento fornecido, pois alguns tendem a oferecer menos sessões que outros – eles explicam.
De acordo com a APA, várias pesquisas recentes indicam que, em média, são necessárias de 15 a 20 sessões para que 50% dos pacientes percebam melhora. Além disso, eles acrescentam que, na prática, pacientes e terapeutas às vezes preferem continuar o tratamento por períodos mais longos para alcançar um "fechamento" mais completo dos sintomas e sentir-se confiantes nas habilidades adquiridas para manter os benefícios do tratamento.
– Acredito que muitas vezes, dar o passo inicial de marcar uma consulta já traz certo alívio para a pessoa. O fato de se mobilizar e dar espaço para aquilo que está acontecendo já tem um efeito positivo – destaca a psicóloga Ludmila Bosco. Além disso, ela acrescenta que é fundamental que o paciente entenda que a melhora na terapia não vem de se livrar do sintoma rapidamente, mas de acolhê-lo, dar-lhe um lugar, reconhecê-lo como parte de si mesmo e entender como isso se relaciona consigo mesmo.
Além disso, a profissional afirma que, em vários pacientes, é impossível determinar a data de resolução do desconforto, pois à medida que a terapia avança, surgem novos temas e são elaboradas outras questões diferentes do motivo inicial da consulta.
“Venho porque quero resolver todos os meus problemas"; "quero voltar a me sentir feliz"; "busco resultados rápidos"; "preciso que o psicólogo me diga o que fazer" são algumas das frases ou pedidos mais comuns feitos pelos pacientes na primeira sessão, de acordo com as especialistas citadas.
– Os pacientes buscam mudanças notáveis em um tempo recorde, quando, na verdade, a terapia é um processo, uma intervenção individualizada e personalizada entre o paciente e o especialista, e, portanto, estabelecer um prazo de conclusão se torna uma tarefa quase impossível – esclarece Fabi. Ela também acrescenta que a duração do tratamento depende de variáveis como o tipo de terapia, o paciente, a adesão ao tratamento e a regularidade das sessões.
Além disso, outro elemento que não deve ser negligenciado ao medir a eficácia de um tratamento é o vínculo entre o profissional e o paciente. Um artigo publicado pela APA descreve como o relacionamento terapêutico é fundamental para melhorar a terapia. Nele, são fornecidos alguns pontos a serem considerados ao iniciar um tratamento psicológico:
É importante que a relação terapeuta-cliente seja baseada na colaboração, onde tanto o terapeuta quanto o cliente sejam parceiros iguais no processo terapêutico;
O paciente e o profissional devem estabelecer juntos as metas e expectativas para o tratamento, e precisam estar na mesma página;
As metas gerais podem incluir desde estabelecer limites até encontrar um novo emprego, reduzir o consumo de álcool ou controlar os sintomas da depressão;
Um relacionamento terapêutico eficaz também envolve resolver novos problemas que possam surgir. Como em qualquer relacionamento, é importante reconhecer que pode haver desacordos no tratamento, também conhecidos como rupturas terapêuticas;
Para o psicólogo Robert Rosenthal, o cliente médio que recebe psicoterapia está melhor do que 79% das pessoas que não procuram tratamento. Essa suposição pessoal é respaldada por evidências: o profissional comparou os efeitos da psicoterapia com os efeitos da medicação e demonstrou de forma convincente que os efeitos típicos da psicoterapia frequentemente superam o grau de efeito encontrado nos avanços biomédicos.
– Cada pessoa é diferente. A psicologia não é uma ciência exata, e é por isso que ela tem a capacidade de se adaptar à necessidade e aos tempos de cada pessoa. O paciente pode ter a certeza de que, como resultado positivo, obterá um maior conhecimento de seu comportamento e forma de pensar, além da confidencialidade terapêutica que alcançará com o profissional – conclui Fabi.
Fonte: O Globo
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