Psiquiatras são mais atingidos pela violência no local de trabalho
- Portal Saúde Agora
- 27 de nov. de 2019
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A violência no local de trabalho é comum para os profissionais da saúde mental, mas parece que, entre os membros da equipe, os psiquiatras são atingidos de forma mais agressiva, revela nova pesquisa.
Resultados de um estudo transversal feito com psiquiatras, residentes de psiquiatria, enfermeiros e outros profissionais da saúde mental mostraram que 90% dos participantes do estudo foram alvo de agressão verbal ou agressão com objetos durante a carreira.
“A agressão no local de trabalho foi extremamente comum entre os profissionais da saúde mental na nossa amostra, em consonância com os resultados de outros autores. Esses resultados destacam a importância de capacitar os profissionais da saúde mental sobre como lidar com a violência no local de trabalho”, escreveram os pesquisadores liderados pelo Dr. Andrea Aguglia, Ph.D., médico da Università di Genova, na Itália.
Impacto no burnout
Outros estudos já haviam mostrado altos níveis de burnout entre os profissionais da saúde mental, mas poucos avaliaram se havia alguma relação com a violência no local de trabalho.
Para essa pesquisa, os pesquisadores entrevistaram 183 profissionais da saúde mental que trabalhavam em serviços de emergência psiquiátrica e/ou em centros de tratamento da saúde mental na Itália em 2018.
A coorte foi formada por 39 psiquiatras (19 mulheres), 58 residentes de psiquiatria (30 mulheres), 56 enfermeiros (34 mulheres) e 30 outros profissionais (técnicos de reabilitação, psicólogos e educadores; 20 mulheres).
Os pesquisadores elaboraram um questionário que indagou sobre a frequência e a modalidade de exposição a comportamentos violentos de pacientes ou familiares dos pacientes. O questionário continha perguntas sobre ameaças verbais, agressão verbal, agressão física e agressão com objetos. Os entrevistados também foram indagados sobre sinais e sintomas psiquiátricos vividos após a pior experiência de violência sofrida por parte dos pacientes. Estes sintomas foram insônia, anorexia, flashbacks e desconforto.
O burnout foi avaliado por meio do Maslach Burnout Inventory (MBI).
A grande maioria dos profissionais (90%) referiu agressões verbais dos pacientes ou dos familiares dos pacientes. Não houve diferenças por profissão entre os grupos estudados.
Os psiquiatras descreveram um número significativamente maior de agressões pelos pacientes do que qualquer outro grupo de profissionais da saúde mental. Por exemplo, 97% informaram agressão verbal, 74% referiram ameaças verbais, 97% relataram agressão por com objetos por parte do paciente e 62% contaram casos de agressão física perpetrada pelo paciente.
No total, mais de metade (53%) do grupo informou ter recebido ameaças verbais e 82% referiram terem sido agredidos com objetos. Além disso, a metade dos profissionais da saúde mental informou ter sofrido agressão física.
Profissionais da saúde mental que sofreram agressão verbal ou com objetos no último ano tiveram uma pontuação significativamente maior de burnout no MBI em comparação com os outros membros da equipe, que não sofreram essas agressões.
Em especial, os atos de agressão verbal no último ano foram fortemente associados a altos níveis de burnout entre as mulheres, mas a associação não foi significativa entre os homens.
Não houve diferenças de pontuação no MBI em relação à exposição à agressão física no último ano.
Na coorte do estudo, 90% dos psiquiatras disseram ter feito algum tipo de treinamento para lidar com a violência no local de trabalho, em comparação com apenas 48% dos residentes, 66% dos enfermeiros e 50% dos outros profissionais.
Profissão de risco
Comentando o estudo para o Medscape, David Ballard, psicólogo e diretor sênior de psicologia aplicada na American Psychological Association (APA) e chefe do programa da APA Psychologically Healthy Workplace Program, disse não estar surpreso com os resultados.
“Sabemos que os profissionais de saúde têm maior exposição à violência e à agressão no ambiente de trabalho do que muitos outros profissionais”, disse o comentarista.
David disse que “o estudo destaca a importância de não apenas capacitar estes profissionais para avaliar e lidar com o risco de violência de forma eficaz, mas também de as instituições terem mecanismos e políticas ativas para conter esse risco”.
A área da saúde é “famosa” por ter altos níveis de burnout, acrescentou David, “porque as pessoas muitas vezes trabalham durante muitas horas em circunstâncias difíceis e estão expostas a diferentes fatores de estresse”.
David disse que o fato da nova Classificação Internacional das Doenças(CID-11) da Organização Mundial de Saúde (OMS) incluir o burnout especificamente como uma síndrome crônica decorrente de estresse no local de trabalho que não foi bem elaborado é “um passo na direção certa, e coloca o burnout muito alinhado com o que mostram as pesquisas”.
Fonte: Medscape
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