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O poder das flores no alívio dos sintomas da fibromialgia

Participar de um curso de arranjos florais pode melhorar tanto a dor como os sinais e sintomas psiquiátricos dos pacientes com fibromialgia, sugere nova pesquisa.

Esses achados destacam os potenciais benefícios dos arranjos florais como terapia ocupacional para melhorar a qualidade de vida dos pacientes com fibromialgia.

O copesquisador Dr. Howard Amital, médico e chefe do Center for Autoimmune Diseases do Sheba Medical Center e professor de medicina na Faculdade de Medicina de Sackler da Universidade, ambas as instituições em Israel, notou que os arranjos florais são particularmente eficazes por ser uma terapia “com muitos estímulos”.

O arranjo floral mobiliza diferentes sentidos, e “todos conspiram para produzir um efeito muito positivo para o paciente”, disse o Dr. Howard ao Medscape.

O pesquisador acrescentou que é importante para os médicos ouvirem falar de intervenções terapêuticas não farmacológicas para a fibromialgia, razão pela qual ele quis publicar o estudo em uma revista médica. Os achados foram publicados on-line na edição de julho do periódico Israel Medical Association Journal.

Criando arranjos florais

A fibromialgia se caracteriza por dor e fadiga crônicas e generalizadas, sendo frequentemente acompanhada de síndromes somáticas, como a síndrome do intestino irritável e a migrânea. Os pacientes também podem apresentar transtornos do humor e de ansiedade.

Em todo o mundo, a fibromialgia acomete 2% a 4% da população. Atinge mais as mulheres.

Pouco se sabe sobre a fisiopatologia dessa síndrome, de modo que os tratamentos se concentram em aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida. Os especialistas recomendam uma abordagem com um leque de modelos incluindo exercícios aeróbicos, terapia cognitivo-comportamental, além dos esquemas farmacológicos.

O estudo observacional em tela foi feito com 61 pacientes do sexo feminino (média de idade de 51 anos) com diagnóstico de fibromialgia.

As mulheres fizeram um curso de 12 semanas de arranjos florais com aulas semanais sob a supervisão de um florista profissional. As participantes aprenderam a criar bouquets de flores que pudessem levar para casa. Dois grupos consecutivos participaram do estudo. O primeiro grupo participou da 1ª à 12ª semana e o segundo da 12ª semana até a 24ª semana.

Ao início do estudo, na 12a semana e ao término do estudo (24a semana), os pesquisadores avaliaram uma série de índices de atividade da fibromialgia. Os instrumentos de avaliação foram a Short Form Survey (SF-36) com 36 itens, o Brief Pain Impact Questionnaire (BPI), a Visual Analogue Scale (VAS), a contagem dos pontos dolorosos e o Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQ).

O estudo também avaliou a depressão, utilizando a Hamilton Depression Rating Scale (HDRS) e a ansiedade, utilizando a Hamilton Anxiety Rating Scale(HAMA).

Os dois grupos eram semelhantes em termos de saúde física e mental ao início do estudo, mas a pontuação VAS foi significativamente maior no grupo 1, o primeiro grupo a completar o curso, do que no grupo 2 (média de 8 versus 7 pontos, respectivamente; = 0,01).

Não houve diferenças entre os grupos em termos de uso de inibidores da recaptação de serotonina-noradrenalina, inibidores seletivos da recaptação da serotonina ou pregabalina. No entanto, os participantes do grupo 1 referiram uso significativamente mais frequente de Cannabis (46,7% vs. 13,3%; P = 0,010).

“Impressionante”

Os resultados revelaram diferenças estatisticamente significativas dos SF-36 componentes de saúde física e mental, da pontuação VAS, FIQ, HAMA e HDRS em toda a população de estudo (para todos, P < 0,05), que o Dr. Howard considerou “absolutamente incrível”.

No entanto, o número de pontos dolorosos permaneceu inalterado, o que não causou surpresa, indicou Dr. Howard. Os pontos dolorosos não são suficientemente discriminados e refletem um aspecto limitado da síndrome, que também engloba o sono que não revigora, a fadiga e o déficit cognitivo, acrescentou o pesquisador.

Ao avaliar os grupos separadamente, os pesquisadores encontraram melhora significativa de todas as medidas do estudo durante o curso, exceto da contagem dos pontos dolorosos. Houve uma discreta diminuição da melhora no grupo 1 após o término do curso (entre a 12a e a 24a semanas), mas as medidas não retornaram aos níveis iniciais.

“Os participantes do estudo ainda preservaram o efeito positivo”, disse o Dr. Howard.

No entanto, acrescentou o pesquisador, como ocorre em qualquer intervenção, especialmente para os pacientes com fibromialgia, “você precisa fazer a manutenção” para preservar o efeito ideal. Participar de um curso de arranjos florais combina a arte-terapia ao tratamento de exposição a um elemento natural, as flores, ambas tendo se revelado benéficas.

Por exemplo, estudos têm mostrado que a expressão criativa pela arte terapia alivia os sintomas psiquiátricos dos pacientes com trauma e depressão. Acredita-se que a relação com os elementos naturais – p. ex., flores e floriculturas em ambientes fechados e ao ar livre, parques e florestas – promove o relaxamento, reduz a pressão arterial e a frequência cardíaca, melhora o humor e diminui os níveis de estresse.

O Dr. Howard agora está planejando iniciar um curso de arranjos florais para pacientes com fibromialgia e outras doenças reumáticas no Sheba Medical Center, que é o maior hospital em Israel.

“Me pareceu que seria uma boa plataforma para mostrar que, mesmo sendo um pouco diferente da maneira convencional de orientar e pensar à qual nós médicos estamos geralmente expostos, tem um efeito positivo e não provoca efeitos colaterais”, disse o pesquisador.

Parece promissor

Comentando os resultados para o Medscape, o Dr. Clayton Jackson, médico e ex-presidente da Academy of Integrative Pain Management e professor assistente clínico de medicina de família e psiquiatria do University of Tennessee College of Medicine, nos Estados Unidos, observou que o estudo teve algumas limitações, como seu pequeno tamanho e seu desenho observacional, sem cegamento.

No entanto, Dr. Clayton disse que a intervenção é promissora e os resultados “agregam às evidências que existem vários tipos de intervenção que podem ser úteis para os pacientes com dor crônica”. O Dr. Clayton, que não participou da pesquisa, destacou que é “particularmente problemático” aliviar os sintomas da fibromialgia.

“Este estudo é interessante porque é uma estratégia não farmacológica, sem opioides e para um difícil problema de controle da dor dos pacientes com fibromialgia”, disse o Dr. Clayton.

“Qualquer coisa que não seja farmacológica e possa comprovar eficácia é incrivelmente interessante pela possibilidade de ter repercussões em outras síndromes dolorosas.”

Ao contrário de outros tipos de terapia ocupacional, o arranjo floral “pode ter um efeito multissensorial” na fibromialgia, acrescentou Dr. Clayton.

“Existe o contato social, o estímulo visual das flores, o estímulo tátil, a organização de determinadas maneiras, e, potencialmente, um elemento de aromaterapia, porque as flores são fragrantes”, disse o comentarista. Uma teoria da dor diz que “experiências sensoriais agradáveis podem ajudar a bloquear as experiências sensoriais desagradáveis”, disse o Dr. Clayton.

Fonte: Medscape

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