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Na contramão da OMS, planos de saúde mandam médicos receitar cloroquina



A despeito da falta de comprovação científica de que funcione no combate à covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, grandes planos de saúde particulares orientam e até pressionam médicos a prescrever cloroquina e hidroxicloroquina para pacientes com confirmação ou suspeita da doença que apresentam sintomas leves tomar em casa.

Prevent Senior, Hapvida e planos do sistema Unimed, dentre outros operadores, adotam e defendem a prática.


A orientação —que precede o protocolo lançado na semana passada pelo Ministério da Saúde para o SUS (Sistema Único de Saúde), no qual orienta a prescrição do medicamento, originalmente utilizado contra malária e outras doenças, para casos leves de covid-19— vai na contramão da OMS (Organização Mundial da Saúde), que suspendeu temporariamente todos os testes clínicos que conduzia com a substância na segunda-feira (25). A decisão da entidade foi tomada após um estudo publicado na revista médica "The Lancet", uma das mais respeitadas do mundo, indicar que a taxa de óbitos entre pacientes internados que usaram os medicamentos era maior do que a dos que não usaram. O estudo conclui que a cloroquina e a hidroxicloroquina podem piorar o estado de saúde dos pacientes em vez de ajudar. Representantes dos planos de saúde ouvidos pela reportagem afirmam que os estudos divulgados tratam apenas de casos graves, e não os leves, como os de quem recebe a receita para tomar a substância em casa. Os planos defendem esse procedimento para quem tem os primeiros sintomas. Apesar de admitirem que o uso precoce dos medicamentos ainda não foi avaliado cientificamente, essas instituições defendem o protocolo e dizem que ele é seguro se feito sob supervisão médica (leia mais abaixo).


"A percepção clínica de nossos médicos é de que o uso da hidroxicloroquina, em associação com outras drogas, na fase inicial da doença, tem sido um elemento essencial para evitar a gravidade da covid-19, em nossos pacientes", afirmou José Pinheiro, presidente da operadora, em um comunicado público divulgado no início de maio. A apuração do UOL, no entanto, permite afirmar que o uso do medicamento não é um consenso entre os médicos que trabalham para a Hapvida e que a pressão exercida tem gerado debates entre os profissionais e aqueles em posições de chefia do convênio. Uso precoce em casos leves Nos prontos-socorros e na telemedicina da Prevent Senior, com 425 mil clientes em São Paulo, médicos também estão receitando os medicamentos para pacientes com confirmação ou suspeita de covid-19 para seguir com o tratamento em casa. "Não é que haja uma pressão, mas o pessoal se sente pressionado com a recomendação que vem da chefia", afirma um médico que atua em hospitais da rede. "Muitos médicos até concordam e diversos pacientes pedem, mas a maioria tem dúvidas sobre o tratamento." De acordo com Pedro Batista Júnior, diretor-executivo da Prevent Senior, a maior parte da rede privada aplica o protocolo de uso da cloroquina e hidroxicloroquina para casos leves de covid-19, desde que o uso em casa seja feito com a recomendação e sob supervisão de um médico. "Nos casos mais graves, de internação, já abandonamos a cloroquina faz tempo, não há benefício nenhum", afirma ele. Apesar de não haver comprovação científica, vemos que o uso precoce, em casos leves, tem resultados positivos sim, desde que feito com acompanhamento" "São medicamentos seguros, desde que um médico receite e diga se o paciente pode e deve tomar ou não", afirma Batista Júnior. Dos cerca de 110 mil pacientes com confirmação ou suspeita do novo coronavírus atendidos pela PreventSenior desde março, 5.400 receberam prescrição das substâncias e foram acompanhados a distância enquanto faziam o tratamento em casa. "Sabe quantos morreram? Nenhum", afirma o diretor-executivo da empresa. "E apenas 128 chegaram a ser internados depois disso."


Distribuição gratuita em Fortaleza

"A Unimed Fortaleza conta com um protocolo médico de acordo com cada estágio e gravidade dos sintomas, com objetivo de orientar o médico quanto à prescrição da medicação", afirma comunicado publicado no site e nas redes sociais do plano de saúde, sobre a cloroquina.

Como parte do plano de enfrentamento à pandemia da Covid-19, a partir desta terça-feira (19), a Unimed Fortaleza iniciará o fornecimento gratuito de medicamentos utilizados no tratamento da doença"

De acordo com o plano só recebe a cloroquina, disponível para retirada em três locais da cidade, quem tiver uma receita médica. "A decisão para a prescrição dos medicamentos é exclusivamente do médico. Caso o cliente esteja de acordo com o tratamento indicado, ele deve assinar o termo de consentimento disponibilizado pelo médico", afirma.

Planos defendem protocolo

Em resposta ao UOL, a Hapvida afirma que o uso do medicamento é uma decisão de cada médico, mas defendeu o uso da hidroxicloroquina, pois, "segundo observações clínicas, tem demonstrado resultados positivos, principalmente quando ministrado nos primeiros dias de sintomas".

A empresa afirma que segue, "rigorosamente", as diretrizes da Abramge (Associação Brasileira de Medicina de Planos de Saúde).

"Todas as alternativas objetivam alcançar o melhor resultado assistencial e a preservação da vida das pessoas. Não é opção deixar o paciente desassistido."


A recusa em chancelar a adoção do protocolo para receitar cloroquina e hidroxicloroquina para uso em casa na rede do SUS causou a saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde. Ele ficou menos de um mês no governo Bolsonaro. Seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, chegou a afirmar que o uso dos remédios para tratar a covid-19 em casa para casos leves poderia aumentar o número de mortes.

"Isso será cobrado"

Médicos que trabalham para o convênio Hapvida, o maior operador de planos de saúde das regiões Norte e Nordeste, relatam que são pressionados por diretores da empresa a receitarem os medicamentos a seus pacientes.

"Nós recebemos mensagens constantes de membros da direção para uso da cloroquina ou hidroxicloroquina para pacientes com qualquer tipo sintoma semelhante ao da covid-19", diz um médico que trabalha para a empresa pelo sistema de teleconsulta e pediu para não ser identificado.


"Recebi um pedido da presidência para que todos médicos prescrevessem a cloroquina de acordo com nosso protocolo institucional", lê-se em uma mensagem enviada por um dos diretores da operadora a um grupo de WhatsApp formado por profissionais da área de telemedicina.

"Isso será cobrado em casos de suspeita de covid-19", termina a mensagem obtida pela reportagem.


Fonte: Uol

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