Dentro do seu peito bate músculo assimétrico e de aparência retorcida, desprovido de emoção e nada romântico. Apesar disso, usamos um formato de “coração” anatomicamente incorreto para representar o órgão, ao qual erroneamente atribuímos de características sentimentais.
Um novo estudo, publicado no Journal of Visual Communication in Medicine, tenta explicar como esses enganos viralizaram muito antes de existir internet. De acordo com os pesquisadores, antigos filósofos gregos podem ter sido os primeiros a associar o coração às emoções, citando Aristóteles como um dos principais responsáveis.
De acordo com o neurocirurgião e autor holandês Pierre Vinken, a primeira ilustração do clássico símbolo em forma de coração apareceu num texto do século XIII e pode ter sido inspirada na descrição excêntrica do órgão feita por Aristóteles. Outras fontes sugerem que o logotipo clássico do coração representa a folha de uma espécie extinta de erva-doce gigante chamada silphium, que já cresceu no Norte da África e foi usada como forma de controle de natalidade pelos antigos gregos e romanos. O estudo aponta que o símbolo se tornou popular nos séculos XV e XVI.
Nem tão errado assim
Os pesquisadores observam que “o símbolo do coração representado universalmente não se parece em nada com um coração humano real". Mas, em meados do século XX, os cientistas finalmente perceberam que a forma simplificada pode, na verdade, estar baseada em fatos anatômicos.
"Ao realizar vários procedimentos de recanalização de oclusão coronariana total, tornou-se evidente que, durante injeções duplas contemporâneas nas artérias coronárias direita e esquerda, a sombra icônica do coração pode ser efetivamente observada. Mas é difícil supor a possibilidade de que a evidência desta forma já pudesse ser visível aos olhos das pessoas que viviam na época das primeiras aparições icônicas da imagem do coração", dizem os pesquisadores em comunicado.
Na verdade, as primeiras réplicas do sistema arterial coronário foram criadas na década de 1950, quando plásticos foram injetados na aorta de pessoas mortas, produzindo moldes que, surpreendentemente, “se assemelhavam ao formato icônico do coração”.
O desenvolvimento de novas técnicas envolvendo a injeção de contrastes nas artérias coronárias revelou quão preciso é realmente o formato tradicional do coração.
“Ao injetar ao mesmo tempo as artérias coronárias direita e esquerda, toda a circulação arterial coronária pode ser visualizada”, explicam os pesquisadores. “A visualização contemporânea das árvores coronárias direita e esquerda forma a forma exata do que estamos acostumados a reconhecer como ‘o coração humano’.”
Estas observações levantam, portanto, a questão de saber se os antigos anatomistas teriam de alguma forma vislumbrado este padrão milhares de anos antes de ter sido revelado pela ciência moderna. Especulando sobre esta possibilidade, os autores do estudo questionam-se se estes primeiros estudiosos teriam produzido moldes post-mortem semelhantes das artérias coronárias, utilizando materiais mais rudimentares, como gesso, em vez de plástico.
Fonte: O Globo
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