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Médicos devem ter tatuagens?

Os médicos podem fazer a tatuagem que quiserem? As tatuagens são uma forma válida de expressão pessoal para os médicos, assim como para qualquer outra pessoa, ou existem regras especiais para estes profissionais?

É uma área indefinida. Não existe nenhuma orientação oficial de boas práticas do General Medical Council (GMC), a entidade que regula e fiscaliza a prática médica no Reino Unido. Esta é considerada uma questão entre o profissional e o seu empregador dele.

Em nível local algumas empresas podem ter políticas de apresentação pessoal que versam sobre as tatuagens. Por exemplo, o Southern Health NHS Foundation Trust sugere que qualquer tatuagem potencialmente ofensiva ou intimidante seja coberta, desde que isso esteja em conformidade com os protocolos de higiene das mãos e mangas compridas em relação à possibilidade de contaminação.

Um estudo de 2018 sobre a percepção de alunos e funcionários da University of Dundee, no Reino Unido, sugeriu que certas tatuagens não seriam apropriadas para os médicos. Os dois grupos também concordaram que tatuagens no rosto são as mais controversas.

Houve um renascimento da tatuagem neste século. As tatuagens não pertencem mais a uma bolha. Estima-se que um em cada cinco adultos no Reino Unido seja tatuado, e essa proporção é ainda maior entre os jovens. Se os médicos refletem a sociedade como um todo, o fato de fazerem ou não tatuagem, e o tipo de tatuagem, deveria ser algo problemático?

Essa é a opinião da Dra. Sarah Gray, de 31 anos de idade. Ela é residente de cirurgia em Adelaide, Austrália, e pretende se especializar em cirurgia ortopédica. Ela tem sido descrita como “a médica mais tatuada do mundo”.

Dra. Sarah quer acabar com os estereótipos sobre deve ser a aparência de um médico tradicional. O Medscape conversou com ela. Leia a entrevista.

Medscape: Como os pacientes e os seus colegas tendem a reagir às suas tatuagens?

Dra. Sarah Gray: Eles reagem de forma positiva. Muitas vezes recebo elogios pela minha aparência colorida. Os pacientes, em especial a geração mais jovem, acham que pode ser uma boa maneira de quebrar o gelo, e muitas vezes dizem que eu pareço mais acessível do que alguns dos médicos mais conservadores e tradicionais. Eu sempre me visto de modo apresentável e, em última análise, se você for um bom ouvinte, tiver empatia e compaixão, parece que ter obras de arte na sua pele não faz diferença. Certamente não incapacita a exercer a sua profissão.

Medscape: Você acha que em alguns casos as tatuagens podem ajudar a deixar os pacientes mais à vontade, por enxergarem você como uma pessoa com a qual podem conversar?

Dra. Sarah Gray: Com certeza. Eu me deparei muitas vezes com essa situação quando rodei na emergência. Também percebo que, às vezes, os pacientes muito tatuados têm mais facilidade de se abrir comigo, eles contam casos de ocasiões em que se sentiram julgados pela sua aparência quando procuraram atendimento.

Medscape: Você acha que qualquer tatuagem deve ser permitida para os médicos? Deveria haver algumas regras?

Dra. Sarah Gray: Eu não acho deva ter nenhuma regra do que é ou não permitido para os médicos ou para qualquer outra pessoa. A arte no corpo é uma escolha pessoal, sendo apenas uma forma de colecionar arte, só que na sua pele. Sua aparência não define você, nem define a sua competência, e devemos incentivar a expressão criativa. Embora eu não ache que ter qualquer coisa ofensiva visível seja apropriado na nossa profissão.

Medscape: Você acha que está demonstrando que os médicos não precisam ter uma determinada aparência e ainda assim podem ser competentes e profissionais?

Dra. Sarah Gray: Eu estou apenas sendo eu mesma. Tenho orgulho de ser quem eu sou e não permito que a minha profissão me defina como pessoa. É uma grande parte de quem eu sou, e estou me empenhando muito para ser uma excelente médica e cirurgiã, mas a minha vida fora da medicina é tão importante quanto a vida profissional. Por que deveríamos ter de nos encaixar em um molde pré-fabricado do que os outros pensam de como deve ser a aparência de um médico “competente e profissional”? Digo a todos: seja você mesmo, e se você for atencioso, compreensivo, competente e trabalhar muito pode ser qualquer coisa, especialmente um excelente médico.

Medscape: Você acredita que as opiniões sobre as tatuagens em geral estão mudando à medida que cada vez mais pessoas se tatuam? Você planeja fazer mais tatuagens?

Dra. Sarah Gray: Tudo que você precisa fazer é olhar as estatísticas para ver como o mundo está mudando. Só no ano passado, na Austrália, 15% das pessoas tinham pelo menos uma tatuagem e esse número está aumentando. Fora da medicina eu tenho um estúdio de tatuagem com meu marido, que é um tatuador artístico, e temos visto um número cada vez maior de profissionais de todas as áreas se tatuando. Estou contente que o estigma esteja sendo desconstruído, porque ter a pele colorida não faz de ninguém uma má pessoa.

Fonte: Medscape

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