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Maior eficácia da meia dose da vacina de Oxford contra a Covid ainda não tem explicação definitiva


 
 

A vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela AstraZeneca apresentou a taxa de eficácia nesta segunda-feira (23): até 90%. Entretanto, o percentual foi obtido quando, na primeira etapa da vacinação, os voluntários receberam meia dose. No grupo que recebeu duas doses completas, a eficácia ficou em 62%.

Especialistas acreditam que ainda é cedo para cravar a razão e qual deverá ser de fato o resultado definitivo.

Diretor do Grupo de Vacinas de Oxford, Andrew Pollard afirmou, em entrevista à BBC, que a causa do resultado é "intrigante". "Esses 90% são um resultado intrigante. Acho que é um resultado realmente excitante e intrigante que precisamos aprofundar mais", afirmou. À revista científica "Nature", o virologista Luk Vandenberghe, da Universidade Harvard em Boston, disse acreditar que os dados não são suficientes para avaliar a diferença entre as duas doses, e que essas diferenças devem desaparecer quando mais casos do novo coronavírus forem detectados em pacientes já vacinados.

Em entrevista ao G1, Jorge Elias Kalil Filho, da Universidade de São Paulo e parte do comitê americano de monitoramento dos estudos clínicos de vacinas contra a Covid-19, afirma que a quantidade de pacientes infectados após a aplicação da vacina é baixa.

"Os números são muito pequenos. Este grupo de dose menor deve ter no máximo 30 casos de Covid. Não tem uma explicação", diz. Kalil defende a divulgação e análise com mais dados para entender a relação eficácia x dose.

Na mesma linha, o médico infectologista Pedro Folegatti, à frente do desenvolvimento da vacina de Oxford e da AstraZeneca, diz que "não vale muito a pena ficar especulando as razões" e que "é possível que a gente tenha mais informações mais para frente". Como funciona a vacina? Esta vacina usa um processo de fabricação (plataforma) chamado de vetor viral. Os cientistas colocam uma proteína do novo coronavírus (Sars-CoV-2) dentro de um outro vírus (no caso da vacina de Oxford, um adenovírus), que vai carregá-la para dentro do corpo.

A proteína usada na vacina, a proteína S, é importante porque é ela que o vírus usa para infectar as células. O objetivo é que, a partir dessa proteína, o corpo consiga montar uma defesa se entrar em contato com o novo coronavírus "de verdade".

Apesar de ser cedo para criar teorias a respeito da dose, como defende Folegatti, alguns cientistas acreditam que o mecanismo de resposta não está ligado apenas à proteína S, mas também ao adenovírus, o que pode dificultar a ação e o desenvolvimento da resposta imunológica. "Quando se trabalha com vetor, podemos ter uma reação ao vetor, que deve ser o que aconteceu aqui. Uma exposição menor ao vetor na primeira dose [de meia dose em vez da dose completa] pode garantir uma reação menor na segunda dose e uma maior reação à proteína spike (S), que é o que queremos", explica Natália Pasternak, microbiologista da Universidade de São Paulo (USP). Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas, complementa a explicação: "E, se tem muito do vetor viral, nosso sistema imune pode atacar o vetor antes de ele liberar a proteína Spike (S). Então, o prime [ativação do sistema imune] seria mais para o vírus vetor do que para o antígeno do coronavírus". Principais pontos do anúncio sobre a vacina de Oxford:

  • A vacina teve 90% de eficácia quando administrada em meia dose seguida de uma dose completa com intervalo de pelo menos um mês, de acordo com dados de testes no Reino Unido e no Brasil. Esse foi o regime de menor dose – o que foi um ponto positivo para os pesquisadores, porque significa que mais pessoas poderão ser vacinadas.

  • Quando administrada em 2 doses completas, a eficácia foi de 62%.

  • A análise que considerou os dois tipos de dosagem indicou uma eficácia média de 70,4%.

  • Andrew Pollard, diretor do Grupo de Vacinas de Oxford, disse estar otimista que a resposta imune gerada pela vacina dure pelo menos um ano.

  • Foram registrados 131 casos da doença entre os voluntários: 101 entre os que receberam o placebo (substância inativa) e 30 entre os que receberam a vacina. Não houve nenhum caso grave da doença entre os que tomaram a vacina.

  • Para chegar aos resultados, os pesquisadores analisaram os dados de 11.636 pessoas vacinadas. Dessas, 8.895 receberam as duas doses completas, e 2.741 receberam a meia dose seguida de uma dose completa.

  • A AstraZeneca pretende ter 200 milhões de doses prontas até o fim de 2020 e 700 milhões de doses até o fim do primeiro trimestre de 2021, em todo o mundo.

  • A vacina pode ser armazenada, transportada e manuseada em condições normais de refrigeração (entre 2°C e 8°C) por pelo menos 6 meses. (É uma vantagem em relação à candidata da Pfizer, que precisa ser armazenada a -70ºC durante o transporte, e da Moderna, que precisa ficar a -20ºC).


Fonte: G1

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