Homem com câncer recupera voz após transplante inédito de laringe

Um homem de Massachusetts recuperou a voz depois de passar por um transplante total de laringe em meio a um tratamento contra um câncer na região.

🗣️A laringe, também conhecida como caixa vocal, é essencial para respirar e engolir. Abas de tecido muscular chamadas de cordas vocais abrem para deixar o ar entrar nos pulmões, fecham para evitar que alimentos ou bebidas sigam na direção errada – e vibram quando o ar passa por elas para produzir a fala.

Cirurgiões da Mayo Clinic, no Arizona, ofereceram o transplante a Marty Kedian como parte de um novo ensaio clínico. O objetivo do estudo é tornar a operação uma alternativa para mais pacientes que convivem com a doença.

Transplantes da laringe são extremamente raros e normalmente não são uma opção para pessoas com câncer ativo. Kedian é apenas a terceira pessoa no Estados Unidos a passar pela cirurgia – e a primeira com um câncer ativo. Os outros dois pacientes realizaram o transplante por conta de ferimentos.

A operação, realizada por seis médicos, durou cerca de 21 horas. Além da laringe, foram transplantadas a traqueia, as glândulas tireoide e paratireoide, a faringe e pequenos vasos sanguíneos.

Usando novas técnicas microcirúrgicas, os médicos conseguiram conectar nervos essenciais para que o paciente possa sentir quando precisa engolir e moves as cordas vocais.

Cirurgiões da Mayo Clinic realizam transplante em Kedian. — Foto: Mayo Clinic via AP

Histórico do caso

Marty Kedian foi diagnosticado com um câncer raro na cartilagem da laringe há cerca de uma década. O homem passou por mais de uma dúzia de cirurgias, tendo que utilizar um tudo de traqueostomia para respirar e engolir.

Lutando até mesmo para sussurrar por meio do tubo, ele deve que se aposentar por invalidez. Kedian foi resistente à remoção total da laringe.

Sua esposa descobriu o estudo da Mayo e ele foi eleito um bom candidato para fazer parte da pesquisa. Seu câncer não estava crescendo rápido e ele já tomava medicamentos antirrejeição para um transplante de rim.

Após dez meses de espera, os pesquisadores encontraram um doador falecido com uma laringe saudável e do tamanho correto, o que possibilitou o transplante.

Cerca de três semanas depois do procedimento, Kedian disse "olá". O paciente também reaprendeu a engolir, mas terá que continuar com o tubo de traqueostomia por alguns meses.

"Estou me esforçando para fazer isso ir mais rápido porque quero esses tubos fora de mim, para voltar a uma vida normal", comenta Kedian.

Futuro do transplante de laringe

Os dois primeiros receptores de transplante de laringe dos EUA – um na Cleveland Clinic, em 1998, e outro na Universidade da Califórnia, em 2010 – perderam suas vozes devido a ferimentos, mas o câncer é o principal motivo para a perda de função desse órgão.

Atualmente, muitos nessa condição passam por tratamento de preservação de voz. Outros milhares têm suas laringes completamente removidas e passam a respirar por um tubo de traqueostomia.

Embora os primeiros receptores tenham alcançado uma fala quase normal, os médicos não adotaram esses transplantes. Em parte, isso ocorre porque as pessoas podem sobreviver sem uma laringe, enquanto os medicamentos antirrejeição que suprimem o sistema imunológico podem desencadear tumores novos ou recorrentes.

"Queremos ser capazes de ultrapassar esses limites, mas fazê-lo da forma mais segura e ética possível", explica David Lott, chefe de cirurgia de cabeça e pescoço da Mayo.

Especialistas em cabeça e pescoço dizem que o teste da Mayo é essencial para ajudar os transplantes de laringe a se tornarem uma opção viável.

Fonte: G1