A mosca-das-frutas se mostrou um modelo útil para a compreensão do declínio cognitivo. Ao estudar este inseto, que vive por até dois meses, pesquisadores conseguiram reverter os efeitos estender esse período de vida em 30%.
O estudo, publicado na revista científica Nature Communications, descobriu que quando uma proteína, chamada actina filamentosa ou F-actina, se acumula no cérebro ela inibe um processo que remove componentes desnecessários ou disfuncionais dentro das células, chamado autofagia.
O acúmulo de resíduos diminui as funções neuronais e contribui para o declínio cognitivo. Dessa forma, a equipe ajustou alguns genes específicos em neurônios de moscas-das-frutas envelhecidas para impedir o acúmulo de F-actina.
Assim, mantiveram a reciclagem celular e estenderam a vida útil saudável das moscas-das-frutas em aproximadamente 30%.
"As moscas ficam mais esquecidas à medida que envelhecem, e sua capacidade de aprender e lembrar diminui na meia-idade, assim como acontece nas pessoas. Se impedirmos o acúmulo de F-actina, isso ajuda as moscas a aprender e lembrar quando mais velhas — o que nos diz que o acúmulo não é benigno", explica David W. Walker, autor sênior e professor de biologia integrativa e fisiologia da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), em comunicado.
Dessa forma, a equipe conclui que a prevenção do acúmulo de F-actina protege a função cognitiva, o que mostra que o acúmulo está impulsionando o declínio cognitivo com o início da idade.
Actina é uma família de proteínas que ajudam a dar forma às células, e está presente em abundância em todo o corpo. Já a F-actina forma filamentos que são essenciais para manter a estrutura celular e diversas funções.
Os pesquisadores notaram que moscas idosas em uma dieta restrita tinham uma vida mais longa e menos acúmulo desta proteína no cérebro e também ao passaram por tratamento com um medicamento chamado rapamicina, não houve um grande acúmulo cerebral da F-actina.
"Mas isso é correlação, não uma demonstração direta de que a F-actina é prejudicial ao envelhecimento do cérebro. Para chegar à causalidade, recorremos à genética", pontua Walker.
Os experimentos realizados pela equipe ainda não foram testadas em humanos, mas os cientistas acreditam que estes achados abrem novas possibilidades para a área de pesquisa em envelhecimento.
"A maioria de nós no campo do envelhecimento está focada em ir além da expectativa de vida para o que chamamos de expectativa de vida saudável. Queremos ajudar as pessoas a desfrutar de boa saúde e alta qualidade de vida enquanto estendemos a expectativa de vida. Nosso estudo melhorou a função cognitiva e intestinal, o nível de atividade e a expectativa de vida geral das moscas-das-frutas — e oferece esperança para o que podemos conseguir em humanos", conclui o pesquisador sênior.
Fonte: O Globo
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