top of page

Cada pessoa pode ter uma 'impressão digital' da respiração, revelam cientistas

Sua impressão digital, o padrão de linhas na íris dos seus olhos: sabe-se que esses traços são, em geral, únicos para cada pessoa, ou, pelo menos, específicos o bastante para desbloquear seu celular. Mas, em um artigo publicado nesta quinta-feira na revista Current Biology, pesquisadores relatam que seus padrões respiratórios pelo nariz são tão distintos que deve ser possível identificá-lo apenas pela respiração, sugerindo que temos “impressões respiratórias”.


O estudo foi realizado com 100 pessoas que usaram sensores durante 24 horas, e a técnica mostrou-se eficaz para distinguir indivíduos em mais de 90% dos casos. Os pesquisadores também descobriram que certos traços respiratórios estavam ligados aos resultados dos participantes em questionários sobre ansiedade, entre outras características, sugerindo que o monitoramento da respiração por longos períodos pode ser uma janela útil para estados e transtornos mentais.


A maioria das pessoas raramente pensa sobre a respiração, mas para cientistas que estudam o olfato, como Noam Sobel e seus colegas do Instituto Weizmann de Ciências, em Israel, o ciclo contínuo de inspirar e expirar contém informações fascinantes sobre o cérebro. Cada inalação ativa neurônios sensoriais e outras células envolvidas na percepção do ambiente, e Sobel e Timna Soroka, doutoranda no instituto, se perguntaram se seria possível identificar indivíduos com base em gravações prolongadas de seus padrões respiratórios.


— Nossa hipótese era: cérebros são únicos, logo, padrões de respiração também seriam — disse Sobel.


Soroka desenvolveu um sensor vestível que se prende à parte superior das costas dos voluntários, com tubos que contornam até captar o fluxo de ar de cada narina. Os pesquisadores descobriram que, ao utilizar um software para analisar um dia inteiro de dados, conseguiam diferenciar as pessoas.


Para além de inspirar e expirar


Uma pessoa pode ter uma pausa muito consistente antes de cada inspiração. Outra pode pausar ocasionalmente, ou raramente. Alguém pode expirar muito rapidamente, ou suspirar com mais frequência. Em muitas pessoas, uma das narinas pode ter maior fluxo de ar do que a outra em determinados momentos do dia.


Quanto mais medições eram fornecidas ao software, melhor ele identificava a pessoa, concluíram os pesquisadores. Essas características mostraram-se consistentes ao longo do tempo: quase dois anos após a primeira fase do estudo, cerca de 40 voluntários voltaram para uma nova gravação e foram reconhecidos tão precisamente quanto antes.

— Ficamos surpresos com o quão potente foi o método — disse Soroka.


Jack Feldman, neurocientista da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), que identificou regiões do cérebro envolvidas no controle da respiração, afirmou que o artigo revelou um novo e interessante aspecto da respiração.


Ele disse que, antes do estudo, acharia improvável a existência de um padrão respiratório que funcionasse como impressão digital. Mas declarou que a pesquisa “apresenta dados muito convincentes de que temos padrões respiratórios distintos”.


Isso faz sentido, acrescentou, porque a respiração está intimamente ligada a muitos processos do corpo: cada um possivelmente único para cada indivíduo.


Diego Laplagne e Adriano Tort, neurocientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, disseram por e-mail que o trabalho é “fascinante”. Embora existam formas mais rápidas e eficientes de identificar pessoas, eles escreveram, o estudo traz a promessa de “entender o que está por trás dos padrões respiratórios idiossincráticos”.


De fato, Sobel, Soroka e seus colegas encontraram uma correlação entre o índice de massa corporal (IMC) dos participantes e certos traços da respiração. Eles também observaram possíveis ligações entre os padrões respiratórios e os resultados dos questionários sobre traços ligados à ansiedade, depressão ou autismo. Por exemplo, pessoas que pontuaram alto em características depressivas tinham tendência a expirar muito rapidamente, segundo os pesquisadores.


Já se sabe que a respiração pode estar ligada ao humor. Pessoas com ansiedade, por exemplo, costumam ser orientadas a praticar exercícios respiratórios calmantes. Mas Sobel e Soroka se perguntam se seria possível identificar, de forma mais precisa, o que constitui um padrão respiratório mais saudável — tanto para diagnosticar doenças quanto para investigar se é possível ensinar formas de respirar que poderiam modificar a biologia do indivíduo.


Por enquanto, essa ideia ainda é especulativa. É difícil separar os padrões respiratórios das atividades realizadas ao longo do dia, observam Laplagne e Tort, o que pode dificultar o uso da respiração como ferramenta diagnóstica.


Questões de privacidade também podem surgir. Talvez gravações prolongadas do padrão respiratório de uma pessoa, por serem identificáveis, possam ser consideradas informações cobertas por leis de proteção de dados, disse Sobel.


— Mas só se houver dados suficientes — alertou. — Dez minutos não são suficientes. Vinte e quatro horas, sim.


Fonte: O Globo

Comments


© 2020 Portal Saúde Agora. Tudo sobre SAÚDE em um só lugar!

  • Instagram
logoportal1.png
bottom of page