Em março do ano passado, a brasileira Sandra, de São Paulo, começou a sentir dores ortopédicas e fez um exame de sangue. O hemograma mostrou alterações, conta sua filha, Marina Assis, de 25 anos. Sua mãe consultou um hematologista e descobriu que tinha leucemia. "Foi um susto para a gente”, lembra.
Marina, a mais nova de quatro irmãos, tornou-se a cuidadora de Sandra assim que o diagnóstico foi confirmado. Ela acompanha a quimioterapia e ajuda Sandra nos períodos mais críticos do tratamento. “Minha mãe faz uma terapia diferente da convencional porque tem um problema no coração. Ela faz um tratamento injetável associado a comprimidos, que a deixam fraca, dão muitos sintomas, e às vezes a obrigam a interromper o tratamento”, relata.
Para dar o apoio necessário, Marina, que trabalha em uma construtora, concilia sua vida profissional com os tratamentos da mãe, que até então tomava conta de tudo em casa. “Fico duas semanas em casa e duas no escritório”, explica. A agenda é definida em função dos efeitos colaterais provocados pela quimioterapia. Por enquanto, Sandra luta contra a doença, e seu problema cardíaco a impede de passar por um transplante de medula. Como diz Marina, a família vive um dia após o outro. Tipos de leucemia No Brasil, cerca de 10 mil pessoas devem ser diagnosticadas com uma leucemia entre 2020 e 2022, segundo dados do INCA (Instituto do Câncer). Os tipos mais comuns da doença são a mieloide aguda e a crônica, e a linfocítica aguda e a crônica. São quatro patologias diferentes, que envolvem diferentes células do sangue, que passam a se reproduzir de maneira desordenada e se tornam cancerosas. O desenvolvimento mais ou menos rápido da doença determinará se ela é crônica ou aguda.
De acordo com a onco-hematologista Elisângela Ribeiro, a leucemia é mais comum em adultos com mais de 50 anos. Trata-se de um câncer, lembra a especialista, frisando que muitos de seus pacientes têm essa dúvida. “É diferente de um tumor sólido, que você vê crescendo. É um câncer hematológico que se desenvolve no sangue, mas é uma doença maligna que afeta os glóbulos brancos do organismo, que é o nosso sistema de defesa”, diz. A doença começa na medula óssea – a “fábrica” onde o sangue é produzido, situada no interior dos ossos. A medula é uma substância gelatinosa, conhecida como tutano, explica a especialista. A doença não tem uma causa definida, mas há fatores de risco, como o tabagismo, radioterapias prévias ou a exposição à radiação ionizante – caso de sobreviventes de acidentes nucleares. Há também a predisposição genética, provocada por mutações adquiridas ao longo da vida.
Mas, contrariamente a outros tipos de cânceres, não há como prevenir o aparecimento da doença. “Como ela atinge a fábrica do sangue, acaba prejudicando a formação das células vermelhas, as hemácias, e das plaquetas, que estão relacionadas com a coagulação sanguínea, além dos glóbulos brancos”, acrescenta a onco-hematologista. Hemograma pode despertar suspeitas Um simples hemograma pode despertar suspeitas. “O hemograma geralmente mostra os glóbulos brancos muito diminuídos ou aumentados, as plaquetas diminuídas e um certo grau de anemia. Isso me faz pensar que alguma coisa errada está acontecendo na medula óssea”, frisa. Ela lembra que alterações no hemograma são comuns, e apenas um especialista pode avaliar a necessidade de exames complementares.
Há outros sintomas inespecíficos, afirma, como falta de ar, hematomas espontâneos, febres e infecções frequentes, mas que podem não estar relacionados à condição. “Num mundo como o de hoje, com a Covid, e o stress da vida cotidiana, é muito comum que o indivíduo possa se sentir cansado, ficar doente e ter um pouco de febre. Isso não significa que ele está com uma leucemia”, explica.
Ela alerta, entretanto, para sangramentos anormais, gengivas muito inchadas e grandes hematomas, cansaço profundo e anemia grave, sinais de que alguma coisa está errada. A boa notícia é que todas as leucemias são curáveis e novas terapias estão à disposição dos pacientes. “Existe a possibilidade de cura para todo tipo de leucemia, mas algumas têm maior chance de cura, dependendo do tipo de mutação”, detalha.
Em algumas situações, o transplante de medula é a melhor opção. Independentemente do caso e da remissão o acompanhamento deve ser rigoroso, até o paciente ser considerado curado. “O diagnóstico precoce é essencial para que a gente possa programar a melhor terapia. Quando acontecerem sinais de alerta, como sangramentos importantes, é importante consultar. Até porque o indivíduo vai estar num estado melhor para enfrentar o tratamento”, resume a oncologista.
Fonte: G1
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