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Foto do escritorPortal Saúde Agora

A cirurgia para reconstruir orelha dos arrependidos com furo grande de alargador


 
 

O intérprete e analista de assuntos públicos Thiago Luis começou a alargar a orelha com 15 anos de idade. O primeiro procedimento ocorreu no lado direito e com 16 anos começou no esquerdo.


"Eu furei a esquerda sem autorização dos meus pais e já comecei com seis milímetros. E já tinha oito na direita", conta à BBC News Brasil.

Na época, seu interesse por rock e amigos descolados, como ele mesmo define, fez com que começasse a realizar a abertura do lóbulo. Quando iniciou os procedimentos, ele lembra que a dor era intensa. "Eu sentia que estava esticando por dentro, a orelha latejava e incomodava bastante." Depois disso, passou a alargar o furo em casa mesmo, com tampas de canetas. Thiago esperava cicatrizar a abertura para depois colocar um acessório maior.

Já na faculdade, com seus 20 anos, o furo na orelha já chegava a 20 milímetros, dois centímetros aproximadamente. Como o hábito de fazer o procedimento fora de estúdios era frequente, uma vez tentou aumentar a abertura na orelha com a proteção de um alicate e provocou um acidente.

"Eu quase rasguei a orelha. Lembro que infeccionou e tive que colocar um alargador de ferro", diz.

Mesmo diante desse imprevisto, ele não se incomodava e seguia com o acessório. Quando começou a trabalhar, acredita que perdeu algumas oportunidades de emprego por causa do tipo do brinco.

"Já perdi entrevista de emprego. Quando a gente é uma pessoa negra e ainda com alargador, era mais um ponto que tinha que passar. Depois consegui trabalhos, mas era a única pessoa com alargador."

Quando trabalhou em um café na Europa, ele conta que os chefes mandavam tirar o alargador, para evitar acidentes ou até mesmo cair na comida e bebida dos clientes. Como a orelha já estava muito flácida há anos, ele começou a não gostar mais do alargador e acreditava que não condizia mais com sua personalidade. Foi então que ele cogitou fazer a cirurgia chamada loboplastia, que é a reconstrução do lóbulo da orelha. Ele não queria deixar os furos aparentes. "Se as pessoas já me olhavam com alargador, imagina sem. Eu sempre achei legal, mas não fazia mais parte de quem eu sou hoje", afirma.

De férias no Brasil, em dezembro do ano passado, o intérprete procurou um cirurgião plástico e realizou o procedimento cirúrgico, que durou duas horas e foi feito na própria clínica. Depois da técnica, ele seguiu as orientações do médico, para melhorar a cicatrização e recuperação total da orelha.

Como tem a pele negra, tinha maior risco de desenvolver queloide e, por isso, precisava passar sempre filtro solar e pomadas. Agora, com quase um mês após a cirurgia, ele afirma que gostou muito do resultado. "Eu estou super feliz. É estranho porque você fica procurando ele na orelha e se sente um pouco estranho. Mas estou super satisfeito", diz. 'Comecei a alargar a orelha escondida da minha mãe' Assim como Thiago, a tatuadora Heloisa Dassie, de 36 anos, começou a alargar a orelha quando ainda estava no colégio. Ela sempre adorou tatuagem e achava incrível ter modificações pelo corpo. "Comecei escondido da minha mãe. Fiz em casa mesmo, bem errado. Achava bonito e queria ter, mas não pensava no depois", afirma.

Heloisa conta que o hábito de aumentar o lóbulo da orelha virava quase um vício. "Você começa a fazer, coloca joias de aço e o próprio peso do alargador faz com que o furo da orelha".

A tatuadora relembra que chegou a ter aproximadamente 24 milímetros de furo na orelha e que sua mãe odiava que ela usasse o acessório. "Não tenho muitas fotos porque naquela época nem tinha celular com câmera direito, mas cheguei a ter dois centímetros de diâmetro, que já considerava grande. Alguns amigos tinham mais de 40 milímetros, com a pele super fina e esticada. Corria o risco de estourar."

Mesmo com a joia aparente, ela afirma que nunca perdeu oportunidades de emprego, justamente por trabalhar em ambientes menos formais. Depois de pouco mais de 15 anos usando o alargador, Heloisa conta que se sentiu incomodada com o objeto na orelha. "A coisa começou a se popularizar demais. Foi ficando uma coisa esquisita e assim como moda de roupa, eu perdi a vontade de usar o alargador", diz à BBC.

Ela tirou os alargadores por alguns anos e queria que os furos diminuíssem. Para esconder o buraco, sempre colocava os cabelos e sentia um pouco de vergonha. Foi então que ela também optou pela cirurgia reparadora. "Tiraram uma parte extra da minha orelha, ficou perfeita e não parecia que eu já tinha usado o alargador. Depois de um ano, consegui até furá-la para ter brinco e coloquei com a própria médica que fez a cirurgia."

Escolher um cirurgião especializado fez com que o resultado fosse o melhor possível. "Tem muita gente que faz com profissional que não é capacitado. É preciso ter técnicas para não deixar a orelha pontuda, por exemplo. Minha orelha ficou boa graças a um bom profissional", destaca.

Tanto Heloisa quanto Thiago afirmam que hoje não colocariam mais o acessório, devido aos riscos e dificuldade em fechar os furos. "Hoje não colocaria já que sei de todo o trabalho que deu. Eu até acho bonito, mas não combina mais comigo", diz a tatuadora. "Eu acredito que esses tipos de acessórios que podem deixar cicatrizes permanentes devem ser pensados e repensados. Não me arrependo de forma alguma de ter colocado alargadores. Naquela época, foi divertido. Tenho lembranças positivas, histórias engraçadas a respeito deles. Só que hoje, eu já não conseguia me ver mais usando tal acessório", diz Thiago. Quais são os riscos de usar alargador? O uso de alargadores pode aumentar as chances de desenvolver problemas sérios na orelha. Entre eles está o rompimento e infecção no local. Além disso, o uso da joia eleva o risco de necrose e deformidade definitiva do lóbulo. Entre os problemas menos graves estão inchaço e vermelhidão.

Quando a pessoa alcança um alargamento grande, o tecido dessa região não volta mais ao normal. "Não retorna sozinho em hipótese alguma. O tecido aumenta de tamanho e o alargador expande o lóbulo", destaca Juarez Avelar, cirurgião plástico da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e especialista em cirurgias de orelha.

Caio Soares, otorrinolaringologista do Hospital IPO (Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia), de Curitiba, afirma que furos com mais de dois milímetros de abertura não se reconstituem. "O defeito é definitivo."

Os médicos ainda reforçam que não é recomendado realizar qualquer procedimento em casa, tanto para abrir o lóbulo quanto para fechá-lo. Deve-se sempre fazer em locais apropriados e que tenham autorização para a realizar a técnica. Loboplastia: como funciona a cirurgia para reconstrução da orelha Como o furo da orelha não volta depois de muitos milímetros aberto, o recomendado é realizar uma cirurgia de reconstrução do lóbulo, também conhecido como loboplastia. "O mais comum dessas cirurgias são pacientes que tiveram rasgos provocados por brincos. Aproximadamente 75% das pessoas é por causa disso", diz Soares, que também é especialista em otoplastia.

Contudo, o procedimento também é muito utilizado para reconstruir a orelha no caso de alargadores, mordidas provocadas por animais ou outros acidentes. "É bom frisar que a cirurgia nunca vai deixar a orelha como antes", destaca o otorrinolaringologista.

A técnica funciona para refazer a região com um tecido já existente e, em alguns casos, é necessário fazer enxerto. "Pode ficar feio. O tecido traumatizado nem sempre cicatriza bem", reforça Avelar.

Antes da cirurgia, os especialistas recomendam que o paciente fique sem usar o alargador por cerca de três semanas e não provoque mais traumas na região.

Para realização da loboplastia, é feito uma anestesia local, sedação e o procedimento é realizado em ambiente hospitalar. Dependendo da deformidade da orelha, também pode ser feito em nível ambulatorial, como clínicas.

Depois da técnica, o paciente precisa ter cuidados como secagem dos pontos, uso de remédios e evitar a todo custo colocar objetos que pesem na orelha. "É uma cirurgia delicada, que requer muitos cuidados", afirma o cirurgião plástico. No caso de peles negras e orientais, Avelar destaca ainda que é necessário ter mais atenção devido ao alto risco de desenvolver queloide no lóbulo. Para evitar o efeito colateral, é recomendado o uso de corticoides e medicações específicas.

Caso a pessoa queira colocar brinco, o furo até pode ser feito, mas depois de mais de três meses, até completar toda a cicatrização da região.


Fonte: G1

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