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#ÉFakeNews que pandemia de gripe suína teve início na China como as da Sars e da Covid-19



Circulam nas redes sociais mensagens que dizem que cinco pandemias mundiais desde 1997 tiveram origem na China: a de H5N1 (gripe aviária), a da Sars (síndrome respiratória aguda grave), a de H1N1 (gripe suína), a de H7N9 (subtipo do vírus influenza que também causa a gripe aviária) e a da Covid-19. É #FakeNews.

A mensagem, em tom xenófobo, diz: “A China já nos venceu cinco vezes sem disparar nenhum tiro”. Mas o H1N1 foi verificado primeiro no México (em 2009), e não na China. E o surto de H5N1 em humanos se deu em Hong Kong (em 1997), um território autônomo do país.

Ou seja, das cinco epidemias citadas, que causaram milhares de mortes pelo mundo, três foram mesmo identificadas na China continental, como é chamado o território chinês excluindo Hong Kong e Macau: a de Sars-CoV (em 2002), a de H7N9 (em 2013) e a de Covid-19 (em 2019, responsável pelo surto atual, que já deixou mais de 438 mil pessoas mortas no mundo todo, em seis meses e meio).

Não se trata de uma coincidência o fato de elas terem acometido primeiro os chineses, explica o virologista Rômulo Neris, doutorando pela UFRJ. As ocorrências se relacionam com os hábitos alimentares da população e com o fato de o país ter mais de 1,4 bilhão de habitantes.

“A maior parte desses vírus é obtida a partir do contato e da manipulação de animais vivos. Os wet market ('mercados molhados') chineses têm o hábito de manter animais domesticados e selvagens vivos para venda. Além disso, o fato de o país ser populoso e ter meios de transporte capazes de cruzar o território com facilidade aumenta não somente o risco de surgimento de novos vírus, mas também sua disseminação na população”, esclarece. “Essa é a hipótese mais provável para o fenômeno.”

Segundo o infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, já existe, inclusive, uma discussão ética sobre os hábitos chineses envolvendo o convívio com animais vivos e suas implicações mundiais.

“A Ásia tem sido o berço dessas epidemias porque culturalmente há o convívio forte de animais e seres humanos, além da alta densidade. Não à toa, quando se discute o ‘novo normal’ já se debate se é ético, justo e aceitável esse tipo de comportamento, levando em conta todos os riscos mundiais que isso implica, ou seja, não só pra a China. É algo a ser discutido em nível de saúde global. É uma discussão ética incipiente”, conta Kfouri.

“Esses vírus zoonóticos vão surgindo todo o tempo e, por vezes, um adquire esse potencial pandêmico. Para isso, é preciso ter proximidade de animais vivos e seres humanos, e grandes adensamentos populacionais. O México, com o H1N1, foi uma exceção”, diz o médico. Na época, o H1N1 também causou preocupação após deixar um rastro de mortes no país da América do Norte. Uma das primeiras medidas do governo foi recomendar que a população evitasse beijos e apertos de mão.

A China vem sendo alvo de críticas desde o início da pandemia de Covid-19, e líderes mundiais já se referiram ao novo coronavírus como “o vírus chinês” – o presidente norte-americano, Donald Trump, inclusive, acusou o país de ter fabricado o vírus num laboratório em Wuhan, cidade onde ele apareceu primeiro. A tese conspiratória também se alastrou pelo Brasil, embasando mensagens falsas que disseminam xenofobia pelas redes sociais.

O governo da China também foi acusado de demorar a alertar o resto do mundo sobre a severidade dos casos de Covid-19, e de falsear os dados no país. O fato de a doença ter sido contida de forma relativamente rápida no país e de o número de óbitos de chineses ter ficado na casa dos 4.600 – quando nos EUA, no Brasil e em países europeus o contingente verificado é muito superior – tem fortalecido as teorias da conspiração.


Fonte: G1

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