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Água do Rio de Janeiro é contaminada por algas e fica com odor forte e tonalidade escura

O odor forte e a tonalidade escura da água que chegou nos últimos dias às casas de pelo menos 20 bairros do Rio e da Baixada Flumiense acenderam um sinal de alerta. Em um comunicado divulgado ontem à tarde, a Cedae informou que detectou a presença de geosmina — substância orgânica produzida por algas — em amostras coletadas ao longo de sua rede de abastecimento. A empresa garantiu que não há risco à saúde da população, mas especialistas recomendam o consumo de água mineral ou fervida nos locais onde há alteração do padrão.

A presença da giasmina na água foi antecipada pelo blog do colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo. A Prefeitura do Rio informou ter registrado um aumento do número de pacientes com diarreia e vômito em suas unidades de saúde, mas frisou que não é possível relacionar os casos a problemas no abastecimento da Cedae. Hoje, novas análises da água deverão ser divulgadas pelo Laboratório Municipal de Saúde Pública (Lasp).

Na casa da gerente de loja Carla Cristina de Souza Nunes, de 44 anos, na Tijuca, cinco pessoas adoeceram. O primeiro foi o filho Miguel, de 5 anos, que, após passar o réveillon com o pai no Andaraí, voltou se sentindo mal. No pronto-socorro, o quadro foi diagnosticado como virose.

— Depois do Miguel, foi minha mãe, de 66 anos, e meus dois outros filhos, Gabriela, de 11 anos, e Rafael, de 25 anos, que tiveram diarreia e vômitos. Por fim, eu adoeci — diz Carla, contando que, ao saber da suspeita de contaminação, passou a beber a água fervida.

As alterações na água da Cedae foram relatadas por moradores do Rio em pelo menos 15 bairros. Aos 78 anos, Janete Geralda Assad Rodrigues, que mora em São Cristóvão, está com diarreia desde sextafeira, quando quando a água em sua residência passou a ter um forte cheiro de terra.

— Primeiro, pensei que fosse a caixa d’água. Mas aí começaram a surgir notícias de água suja da Cedae. Estou comprando água mineral para beber e fervendo a água da torneira para fazer a comida — relata a idosa.

‘Nem para banho nem para comida’

Técnicos da Vigilância sanitária coletaram 18 amostras em Paciência, Campo Grande e Santa Cruz, na Zona Oeste, eOlaria, Brás de Pina, Ramos, Tijuca e São Cristóvão, na Zona Norte, que serão analisadas pelo Lasb. A coordenadora do laboratório, Roberta Ribeiro, orientou a população a não consumir a água até o resultado das análises:

— Essa água nem para banho nem para fazer comida é recomendável. Não bebam a água. E é importante que consumidores, ao apresentarem sintomas, procurem uma unidade hospitalar. Seria leviandade minha se desse alguma opinião sobre o caso sem a análise laboratorial.

O infectologista Edimilson Migowski, diretor de relações externas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), disse que pretende enviar para um laboratório da instituição amostras da água para análise. Mesmo depois de a Cedae ter divulgado se tratar de uma substância sem risco à saúde, ele recomenda cautela.

— Se a água tinha geosmina, pode ter outras substâncias. É preciso investigar — observou.— É preciso pesquisar possíveis bactérias e vírus. A coleta da água tem que seguir um certo rito para para poder ter validade.

Fenômeno natural e raro

A Cedae explicou, por nota, que a água fornecida pela companhia está própria para consumo. O crescimento de algas em mananciais, em decorrência de variações de temperatura, luminosidade e do índice pluviométrico, teria provocado a proliferação da geosmina. O fenômeno natural e raro, de acordo com a empresa, deixa água com “gosto e cheiro de terra”. No texto, a companhia acrescentou que análises na Estação de Tratamento do Guandu já estavam dentro do padrão, mas que a água, “ao longo do sistema, pode apresentar gosto e cheiro alterados em alguns locais. Por isto, a Cedae continuará monitorando todo o sistema de abastecimento”.

A Secretaria municipal de Saúde lembrou que é normal um aumento de casos de gastroenterite, doença que não tem notificação obrigatória, no verão e após as festas de fim de ano, “principalmente em função do consumo de alimentos de procedência duvidosa ou com armazenamento inadequado”. Ou seja, os casos não podem necessariamente ser ligados ao consumo da água.

Aumento de 40% nas vendas

O medo de uma contaminação provocou ontem um significativo aumento na procura por água mineral em alguns bairros da Zona Norte do Rio. Em Del Castilho, a prateleira de garrafas de um supermercado ficou totalmente vazia. Em Olaria, um depósito vendeu 280 galões de 20 litros, 40% a mais que a média diária.

— Vou aumentar o estoque amanhã (hoje) — afirmou Victor Garrido, proprietário do estabelecimento. — Para se ter uma ideia, em um único dia, vendi 30 galões para pessoas que sequer têm o suporte para usá-los — relata ele.

Em São Cristóvão, a preocupação do motorista José Amorim está pesando no bolso. Depois de ver a filha e oneto passarem mal, ele decidiu usar água mineral até para lavar a louça:

— Meu neto está de férias e resolveu passar uns dias comigo. Pouco tempo depois que chegou, sentiu-se mal, com ânsia de vômito e dor de barriga. Já minha filha reclamou de ardência nos olhos quando tomou banho e teve febre.

Não sei se esses problemas têm relação com a água que saiu escura das torneiras, mas achei melhor prevenir. Amorim disse que pagou R$ 8 pelo galão de 20 litros. Porém, na Tijuca, há quem esteja gastando mais.

— Um depósito me cobrou R$ 15, achei caro, mas levei mesmo assim. A água já está saindo transparente dos canos da minha casa, porém, o cheiro continua forte. Não quis arriscar — lamentou a vendedora Luísa Carneiro, que mora com o marido e dois filhos.

Fonte: Extra

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