O skatista Robson Lopes, conhecido como Reco, passou por um grande susto que poderia ter interrompido seu estilo de vida marcado pela união entre esporte e aventura.
Em fevereiro do ano passado, Reco, de 44 anos, foi pular em uma das piscinas naturais da Barra do Sahy, em São Paulo, quando escorregou e caiu de uma altura de 12 metros.
“Não me lembro de muita coisa do dia do acidente, além de ter ido levar minha sobrinha para conhecer as piscinas. Ela conta que escorreguei, bati nas pedras, cai na água e não voltei mais à superfície”, relata.
Reco ficou entre 5 a 6 minutos debaixo d’água antes de ser socorrido. O acidente provocou fratura exposta da tíbia, quebra da patela, do colo do fêmur e estilhaçamento do calcanhar esquerdo, além de comprometer o pulmão por causa de lesões e da entrada de água.
O skatista, que também surfa desde criança, foi levado com urgência a um hospital no município de São Sebastião, a cerca de 40km do local onde o acidente aconteceu.
“Foi um milagre ter sobrevivido. Além das fraturas, tive duas paradas cardíacas: uma quando me afoguei e a outra quando estava no hospital, em São Sebastião. Os médicos estavam muito preocupados com o meu pulmão, achando que teria sequelas”.
Reco ficou em coma por três dias e, ao acordar, foi levado para a sala de cirurgia onde operou o fêmur. Ele explica que o osso, o maior do corpo humano, poderia necrosar e impedir que ele voltasse a movimentar a perna atingida.
Temendo o pior cenário, o skatista chegou a perguntar se seria necessário amputar a perna. Felizmente, os médicos responderam que não, mas havia a possibilidade de ele não conseguir mais andar sem a ajuda de andadores ou muletas.
“Fiquei oito dias na UTI e 30 dias no hospital. Depois fui para a casa dos meus pais, no interior, e para mim essa foi a pior fase da minha vida. Fiquei de cama por uns três meses, perdi cerca de 20 quilos”, relata.
Para ele, parecia impossível ter quaisquer perspectivas de melhora. O processo era ainda mais difícil porque, como esportista, ele estava acostumado a uma vida ativa e independente e, durante os meses que seguiram o acidente, ele não conseguia fazer nada sem precisar de ajuda.
Reabilitação
O episódio do skatista comoveu toda a cidade litorânea onde ele vive, além de ter repercutido para associações de skate e de surfe. O médico Beny Schimdt, que já conhecia Reco, ficou sabendo do caso e se propôs a ajudá-lo em sua clínica de reabilitação, localizada em São Paulo capital.
“Cheguei de andador e me colocaram para usar muleta. Não achava que ia conseguir voltar a ser como antes. Depois de três meses, já conseguia correr e praticar esporte, graças à equipe médica que acreditou em mim”, agradece o esportista.
Schimdt, que é especialista em patologia muscular – ou seja, em dificuldades musculares causadas por lesões e atrofias – foi um dos responsáveis pela recuperação dos movimentos de Reco.
“Optamos por um tratamento intensivo e contínuo. Foi trabalhado a condição do equilíbrio e ganho de massa muscular. Fizemos com ele a simulação de prancha e skate, tudo no meio aquático. Trabalhamos bastante o equilíbrio, as forças concêntrica e excêntrica, já pensando no retorno da vida esportiva”, explica o médico.
As sessões de reabilitação eram longas, de duas horas por dia, de segunda a sexta-feira. A primeira hora consistia em imersão na piscina, com simulação de surf, e a outra, em exercícios motores e funcionais de fisioterapia.
Reco lembra que, a cada sessão, com pequenos progressos, ele conseguia enxergar luz no fim do túnel.
Inteligência neuromuscular
O médico Beny Schimdt conta que o planejamento para a reabilitação de um paciente depende, em primeiro lugar, do exame clínico.
“A gente começa o exame clínico dos pacientes através da anamnese, que deve ser muito mais abrangente do que a medicina faz normalmente. Precisamos saber, de verdade, quem é a pessoa que vamos tratar. Saber quais foram as doenças anteriores, o contexto de vida, como é a família, como é a rotina dele. Depois, solicitamos outros exames clínicos necessários”, relata.
Na recuperação de Reco o médico fez uso da inteligência neuromuscular, que consiste em compreender as propriedades dos músculos, como eles se contraem, geram força, relaxam e hipertrofiam, por exemplo.
A análise sobre a inteligência neuromuscular de um paciente é um processo bastante detalhado, mas quando esse conhecimento é apreendido de forma integral, as intervenções passam a ser mais detalhadas e os resultados pretendidos são mais facilmente alcançados.
“No caso do Reco, o exame de forças musculares, dos agonistas e antagonistas, por exemplo, foi um dos principais exames para a gente conseguir traçar um tratamento que desse o resultado excelente e ele pudesse recuperar todos os movimentos e até voltar a andar de skate novamente”, afirma Schimdt.
Retorno aos esportes
Reco conta que foi retomando suas atividades aos poucos. Hoje ele já anda de skate normalmente e, recentemente, retomou o surfe. Para ele, voltar a “pegar onda” foi um processo lento, pois ficou um traumatizado com água depois do acidente.
“A gente precisa viver. Se não fizermos nada, ficamos estagnados. É uma evolução do ser humano”.
O esportista trabalha hoje como gerente de marketing em uma empresa de surfe. Para ele, a única coisa que mudou depois de se recuperar do acidente foi que parou de pular de pedras, mas ele continua amando a água e os esportes.
Fonte: Metrópoles
Commentaires