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Ultrassom vs. raio-X: diagnóstico de tuberculose pulmonar em crianças

Um estudo prospectivo desenvolvido em um hospital terciário da Cidade do Cabo, na África do Sul, e publicado em dezembro no periódico Pediatric Pulmonology,[1] mostra que a ultrassonografia detectou anomalias em crianças com suspeita de tuberculose pulmonar com mais frequência do que a radiografia de tórax, e também apresentou maior concordância quanto à interpretação dos resultados.

Os pesquisadores da África do Sul, Alemanha, Brasil, Estados Unidos e Holanda defenderam que, embora ainda sejam necessários mais estudos para avaliar a acurácia diagnóstica, a ultrassonografia se mostra uma ferramenta promissora nesse cenário.

O Dr. Henrique Lederman, especialista em radiologia pediátrica e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e um dos autores da pesquisa, falou ao Medscape sobre o trabalho.

O estudo incluiu 159 crianças com quadro de tosse somada a perda ponderal ou falha de crescimento nos últimos três meses e/ou prova tuberculínica positiva e/ou raio-X sugestivo de tuberculose e/ou um contato familiar com tuberculose. Os participantes tinham até 13 anos, com média de idade de 26,6 meses. A maioria (57%) era do sexo masculino e 14% eram soropositivos para o HIV.

Em 36 casos (23%), o diagnóstico de tuberculose foi confirmado por avaliação microbiológica; em 73 casos (46%), a tuberculose não foi confirmada (diagnóstico clínico e testes microbiológicos negativos); e, em 50 casos (31%), a tuberculose foi considerada improvável (é possível que se tratasse de outra doença respiratória, visto que houve melhora do quadro sem tratamento para tuberculose).

Ao comparar o resultado da ultrassonografia pulmonar feita à beira do leito com o da radiografia de tórax, os autores identificaram que a ultrassonografia detectou anomalias em 72% dos pacientes, enquanto a radiografia revelou alterações em 56% dos casos. Consolidação foi o achado anômalo mais comum, sendo que consolidação ≥ 0,5 cm foi observada em 47% das crianças a partir da ultrassonografia e em 52% por meio da radiografia. Derrame pleural e linfonodos mediastinais aumentados foram detectados mais frequentemente na ultrassonografia (15% versus 9% e 22% vs. 6%, respectivamente).

A ultrassonografia também detectou mais frequentemente linfonodos mediastinais aumentados na categoria de tuberculose improvável, porém o tamanho dos nódulos (1,0 cm) foi menor do que nas outras duas categorias (1,4 cm e 1,5 cm).

A concordância entre os observadores sobre diversos achados foi maior diante da análise dos resultados da ultrassonografia do que da radiografia torácica (consolidação: 0,67 vs. 0,47; derrame pleural: 0,86 vs. 0,56; linfonodos aumentados: 0,56 vs. 0,27).

Segundo o Dr. Henrique, a ultrassonografia não tem radiação, tem a comodidade de poder ser realizada à beira do leito por um especialista e permite investigar o parênquima pulmonar: “Quando queremos estudar o mediastino, por exemplo, a ultrassonografia permite analisar a estrutura interna dos gânglios, o que não é possível com a radiografia”, disse o pesquisador, e destacou, no entanto, que a ultrassonografia ainda deve ser feita de forma complementar à radiografia.

Para o Dr. Henrique, a radiografia simples ainda é o método diagnóstico de primeira linha para tuberculose. “Na verdade, é o melhor exame de triagem para entender doenças pulmonares, inclusive a tuberculose, tanto na doença que acomete o parênquima pulmonar como os gânglios do mediastino. As limitações dependem de quem está interpretando, e não do método. O método é bom, porém nem todos os profissionais sabem interpretá-lo; a especialização em radiologia pediátrica é fundamental”, destacou.

A diferença quanto à interpretação, segundo o pesquisador, pode ter sido um dos fatores que levou à aparente superioridade da ultrassonografia em relação à radiografia no estudo. “Quando a radiografia simples de tórax é feita hoje, na maioria das vezes, a interpretação inicial não é feita pelo radiologista; é feita pelo pediatra, pelo médico do pronto-socorro, ou seja, profissionais que não têm especialização para realizar o diagnóstico. Por outro lado, quando se solicita uma ultrassonografia, o exame é obrigatoriamente realizado pelo especialista, e este profissional consegue identificar mais alterações significativas. No nosso trabalho, creio que a ultrassonografia se mostrou um pouco superior à radiografia justamente porque, no cenário analisado – e no mundo –, não existem muitos especialistas em radiografia pediátrica”, ressaltou o Dr. Henrique.

Fonte: Medscape

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