Trabalhar em casa faz bem para a saúde? Um novo estudo revela a resposta
- Portal Saúde Agora
- há 3 horas
- 4 min de leitura

Trabalhar em casa tornou-se uma constante na cultura de trabalho australiana (e brasileira), mas seu impacto na saúde mental ainda é amplamente debatido. Trabalhar em casa pode melhorar a saúde mental? Se sim, quantos dias por semana são ideais? Quem se beneficia mais com o bem-estar? E isso se deve à ausência de deslocamento diário?
Essas são algumas das perguntas que respondemos em nosso novo estudo, baseado em dados de longo prazo de uma pesquisa com mais de 16 mil trabalhadores australianos. Descobrimos que trabalhar em casa melhora a saúde mental das mulheres mais do que a dos homens.
O que fizemos
Analisamos 20 anos de dados da Pesquisa Nacional de Dinâmica Familiar, Renda e Trabalho na Austrália (HILDA), o que nos permitiu acompanhar o trabalho e a saúde mental de mais de 16 mil funcionários. Não incluímos dois anos da pandemia de Covid (2020 e 2021), porque a saúde mental das pessoas nesse período poderia ter sido afetada por fatores não relacionados ao trabalho remoto.
Os dados nos permitiram acompanhar as pessoas ao longo do tempo e examinar como sua saúde mental mudou em função de seus padrões de deslocamento e arranjos de trabalho remoto. Nossos modelos estatísticos removeram quaisquer mudanças impulsionadas por grandes eventos da vida (por exemplo, mudanças de emprego ou o nascimento de filhos).
Nos concentramos em dois aspectos para verificar se havia algum efeito sobre a saúde mental: tempo de deslocamento e trabalho remoto. Também examinamos se esses efeitos diferiam entre pessoas com boa e má saúde mental, uma característica inédita do nosso estudo.
O deslocamento diário afeta homens e mulheres de maneiras diferentes
Para as mulheres, o tempo de deslocamento não teve efeito detectável na saúde mental. Mas, para os homens, deslocamentos mais longos estiveram associados a uma pior saúde mental para aqueles que já apresentavam problemas de saúde mental.
O efeito foi modesto. Para um homem próximo ao meio da distribuição de saúde mental (perto da mediana), adicionar meia hora ao seu deslocamento de ida reduziu a saúde mental relatada em aproximadamente a mesma proporção que uma queda de 2% na renda familiar.
O trabalho híbrido foi o melhor para as mulheres
Trabalhar em casa teve um forte efeito positivo na saúde mental das mulheres, mas apenas em certas circunstâncias. Os maiores ganhos foram registrados quando as mulheres trabalhavam principalmente em casa, mas ainda passavam algum tempo (um a dois dias) no escritório ou em outras instalações da empresa a cada semana.
Para mulheres com problemas de saúde mental, esse modelo resultou em melhor saúde mental do que o trabalho exclusivamente presencial. Os ganhos foram comparáveis aos obtidos com um aumento de 15% na renda familiar.
Essa descoberta corrobora um estudo anterior, que constatou que o mesmo tipo de modelo de trabalho híbrido levou a uma maior satisfação no trabalho e produtividade.
Os benefícios para a saúde mental das mulheres não se resumiram apenas à economia de tempo com deslocamento. Como nossa análise considerou o deslocamento separadamente, esses benefícios refletiram outros aspectos positivos do trabalho remoto. Entre eles, a redução do estresse no trabalho e a maior facilidade em conciliar trabalho e vida familiar.
O trabalho remoto ocasional ou em pequena escala não apresentou efeito claro na saúde mental das mulheres. As evidências para o trabalho remoto em tempo integral foram menos conclusivas, principalmente porque observamos um número relativamente pequeno de mulheres nessa modalidade.
Para os homens, o trabalho remoto não apresentou efeito estatisticamente significativo na saúde mental, seja positivo ou negativo, independentemente do número de dias trabalhados em casa ou no escritório. Isso pode refletir a distribuição de tarefas entre os gêneros nos lares australianos, bem como o fato de que as redes sociais e de amizade dos homens tendem a ser mais voltadas para o trabalho.
Qual é a mensagem principal?
Trabalhadores com saúde mental mais frágil são os mais sensíveis a longos deslocamentos e os que mais se beneficiam de regimes substanciais de trabalho remoto. Isso ocorre, em parte, porque pessoas com saúde mental debilitada já possuem uma capacidade mais limitada de lidar com eventos estressantes.
Para mulheres com saúde mental frágil, o trabalho remoto pode representar um grande impulso para o bem-estar. Para homens com saúde mental debilitada, a consequente redução do tempo de deslocamento também pode ser benéfica.
No entanto, trabalhadores com boa saúde mental parecem menos sensíveis tanto ao deslocamento quanto aos padrões de trabalho remoto. Eles podem até valorizar a flexibilidade, mas as implicações para a saúde mental decorrentes de seus regimes de trabalho são menores.
E agora?
Aqui estão nossas recomendações com base em nossas descobertas.
Se você é um trabalhador, monitore como o deslocamento e os diferentes modelos de trabalho remoto afetam seu bem-estar, em vez de presumir que existe uma única abordagem ideal. Se você enfrenta problemas de saúde mental, planeje suas tarefas mais exigentes para os dias em que estiver trabalhando no ambiente em que se sente mais confortável.
Se você é empregador, ofereça horários flexíveis de trabalho remoto, especialmente para funcionários com problemas de saúde mental. Considere modelos híbridos que incluam tempo em casa e no escritório, pois estes parecem ser os mais benéficos. Trate o tempo de deslocamento como um fator importante nas discussões sobre carga de trabalho e bem-estar. Evite políticas de retorno ao escritório que sejam iguais para todos.
Se você é responsável por políticas públicas, invista na redução do congestionamento e na melhoria da capacidade do transporte público. Fortaleça as estruturas que incentivam horários de trabalho flexíveis. Apoie o acesso a serviços de saúde mental.
Fonte: O Globo


