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Tipo de obesidade é um dos fatores para o sucesso da perda ponderal

Maui, Havaí — Quando o tratamento da obesidade correto é combinado com o paciente certo, a perda ponderal pode dobrar, disse o Dr. Andres Acosta, Ph.D., médico do laboratório de medicina de precisão para obesidade na Mayo Clinic, nos Estados Unidos.

Entender o que está promovendo o ganho ponderal de cada paciente será a chave para reverter a projeção sombria de que a prevalência de obesidade nos EUA chegará perto de 50% em 2030, disse o especialista no Gastroenterology Updates IBD Liver Disease Conference 2020.

Sua equipe está tentando entender por que algumas pessoas conseguem perder peso apenas com mudanças do estilo de vida, enquanto outras ganham peso mesmo depois de uma cirurgia bariátrica. Identificar a causa da obesidade está se tornando crucial com o aumento da lista de opções terapêuticas.

Dr. Andres e sua equipe na Mayo Clinic convidaram pacientes a participar do estudo por meio de anúncios e folhetos. Os pesquisadores recrutaram 600 pacientes com índice de massa corporal (IMC) > 30 kg/m2, sem comorbidades relacionadas com a obesidade. Os pesquisadores utilizaram então um algoritmo de aprendizado de máquina (machine learning) para contabilizar a quantidade de calorias consumidas, a energia gasta em repouso e o esvaziamento gástrico; também foram utilizados questionários sobre hábitos alimentares, prática de exercícios e estado emocional. Os pacientes foram classificados em quatro fenótipos: FenótipoDESCRIÇÃOCérebro esfomeado“Quando esses pacientes começam a comer não param mais e não ficam satisfeitos. Em geral não sentem fome, mas quando começam a comer, não conseguem mais parar.”Barriga vazia“Essas pessoas comem até ficarem satisfeitas, e em uma hora ou duas começam a sentir fome outra vez. O trato digestivo não envia o sinal para o cérebro.”Fome emocional“Essas pessoas comem para se sentir recompensadas e ter boas sensações. Alguns chamam isso de ‘vício em comida’.”Queima lenta de gordura“Esses pacientes têm um metabolismo defectivo e não queimam as calorias de forma eficaz.”

Quando os pesquisadores testaram a prevalência dos quatro fenótipos em outra coorte com 180 pacientes na Mayo Clinic, que haviam sido recrutados da mesma forma que a coorte anterior, eles descobriram que 25% se enquadravam em mais de um fenótipo e 9% não se enquadravam em nenhum.

Estas coortes refletem a população obesa geral dos EUA, disse Dr. Andres para o Medscape. E, “sabemos que pode haver mais fenótipos – esta é uma nova forma de classificar a obesidade”.

Os fenótipos que os pesquisadores identificaram ajudam a mostrar como os pacientes de cada grupo diferem da população obesa em geral, acrescentou. Por exemplo, quando os pesquisadores da Mayo Clinic deram uma refeição de presente para os pacientes, no estilo buffet, na qual eles podiam comer o quanto quisessem, descobriram que as mulheres obesas geralmente comeram cerca de 700 calorias. Mas as mulheres com o fenótipo “cérebro esfomeado” comeram cerca de 1.100 calorias antes de se saciarem, informou o pesquisador. Para os homens obesos, esses limites foram 900 e 1.600 calorias, respectivamente.

É uma diferença considerável se você levar em conta as calorias a mais em cada refeição, disse o Dr. Andres.

“Para os que pensam que a obesidade é uma doença comportamental, eu digo que com certeza é, mas apenas em um subgrupo de pacientes”, os que têm o fenótipo “fome emocional”, acrescentou.

Da mesma forma, existe um subgrupo de pacientes com gasto energético anômalo e ineficiente, descobriram os pesquisadores.

Quando um paciente chegar dizendo que pesa 204 kg por ter um metabolismo ruim, o Dr. Andres disse que, em vez de rejeitar essa hipótese de cara, usar a classificação em fenótipos pode auxiliar a determinar quando vale a pena seguir essa linha de pensamento.

“Podemos trazer um método de medicina de precisão para a obesidade”, indicou o pesquisador.

Um exame de sangue criado para ajudar a determinar o fenótipo está sendo testado pelo laboratório do Dr. Andres na Mayo Clinic, em um trabalho conjunto com a empresa Phenomix Sciences , que o Dr. Andres fundou e da qual tem ações.

O exame sangue está sendo validado externamente, mas o pesquisador disse que a previsão é que esteja disponível comercialmente entre julho e setembro de 2020.

Tratamento orientado pelo fenótipo

Os pesquisadores testaram a perda ponderal em dois grupos de pacientes tratados com medicamentos para emagrecer: 75 fizeram tratamento orientado pelo fenótipo e 200 fizeram tratamento sem relação com o fenótipo.

Os grupos foram semelhantes, exceto pelo fato de os pacientes no grupo sem relação com o fenótipo terem sido um pouco mais velhos. O uso de medicamentos foi o mesmo, ambos os grupos tinham comorbidades e, nos dois grupos mais de 40% dos pacientes tinham diabetes.

No entanto, mais pacientes no grupo do fenótipo do que no grupo sem relação com o fenótipo perderam > 20% do seu peso corporal (37% vs. 1%), o que é “tão bom como a cirurgia bariátrica em um ano”, informou o Dr. Andres. E mais pacientes no grupo do fenótipo perderam > 10% do seu peso corporal (42% vs. 18%).

“A intervenção orientada pelo fenótipo pode de fato selecionar os que têm mais probabilidade de resposta, e modificar o índice de resposta de 35% para 80%”, disse o médico. “Isso promove uma perda ponderal significativa, com os pacientes indo de 8% do peso total em um ano até 16% do peso total em um ano.”

“Apenas por meio da escolha correta do paciente para a intervenção adequada” – sem nenhum medicamento ou dispositivo novo – “podemos duplicar a quantidade de peso perdido”, explicou Dr. Andres.

Os resultados finais do estudo serão apresentados em maio, na reunião anual da Digestive Disease Week, disse Dr. Andres.

Programa POWER

Enquanto a fenotipagem ajuda a identificar quais pacientes podem se beneficiar mais de que tipo de tratamento, outro projeto do Dr. Andres lança as bases da continuidade do tratamento. O documento oficial – Practice Guide on Obesity and Weight Management, Education and Resources (POWER) – elaborado pela American Gastroenterological Association com a colaboração de nove sociedades médicas, tem quatro partes: avaliação, intervenção intensiva de perda ponderal, estabilização do peso com reintensificação quando necessário e prevenção do ganho ponderal.

O objetivo do programa POWER é oferecer um atendimento personalizado por equipes multidisciplinares, com planos de controle do peso em longo prazo que incorporam as diretrizes e metodologias existentes, explicou o Dr. Andres.

O POWER começa pela avaliação personalizada, e o primeiro passo é perguntar aos pacientes se querem falar sobre obesidade, disse o pesquisador ao Medscape.

“Se eles não estiverem prontos, deixe estar. Se você tentar falar sobre obesidade e gerenciamento de peso com um paciente que não está pronto, você vai se queimar; o paciente não será feliz”, disse o médico.

Na próxima consulta, pergunte como ele(a) se sente sobre o seu progresso e lembre que a perda ponderal é uma opção que pode ser discutida, orientou Dr. Andres.

Para os pacientes que estiverem prontos, o programa estabelece metas nutricionais e de atividade física.

Os pacientes obesos são informados que precisam perder peso “múltiplas, inúmeras vezes”, disse a Dra. Laura Kulik, médica da Feinberg School of Medicine, nos EUA.

A estratégia descrita pelo Dr. Andres – que define um plano claro e diminui o desafio ao dar metas específicas para os pacientes em termos de alimentação, calorias e número de passos diários (solicitando que retornem caso isso não funcione) – parece promissora, disse a Dra. Laura ao Medscape.

“Quando os pacientes não têm nenhum plano, acho que perdem a esperança”, disse a médica.

A obesidade está seguindo outras doenças em direção à medicina personalizada, indicou Dra. Laura, e a fenotipagem do Dr. Andres parte do mesmo princípio que descobrir o papel da grelina, ou “hormônio fome”, e sua ação no peso de cada pessoa que faça gastrectomia vertical em comparação com o procedimento de banda gástrica.

“É uma questão de encontrar como determinar um biomarcador que você possa usar para individualizar o tratamento”, disse a Dra. Laura.

Fonte: Medscape

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