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Pesquisadora da USP estuda métodos para individualizar tratamento de câncer agressivo sem cura



Uma pesquisadora da USP de Ribeirão Preto (SP) estuda métodos para individualizar o tratamento de um tumor agressivo, ainda sem cura, no sistema nervoso central. A ideia é mapear geneticamente as células cerebrais glia afetadas com o câncer para entender como aplicar métodos mais precisos para cada paciente.


A pesquisa sobre os gliomas, que é o nome dado ao tumor, começou há nove anos, quando a farmacêutica Tathiane Malta, de 39 anos, fazia pós-doutorado na Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão. Depois, a pesquisadora, que é de Campo Grande (MS), foi para os Estados Unidos e seguiu trabalhando na hipótese de subdividir os pacientes a depender da genética de cada célula. “Entre os gliomas, existe uma grande porcentagem dos pacientes com mutação no gene IDH1. Na verdade, os tumores que têm essa mutação vão melhores dos que não têm. É um contrassenso. Muitas vezes a gente pensa que a mutação está sempre associada a um prognóstico ruim. No caso dos gliomas, os pacientes com IDH1 têm um prognóstico mais favorável do que os que não têm. Estou estudando esses pacientes, qual a diferença entre os pacientes com célula com tumor e uma célula que não tem tumor, não tem mutação nesse gene. Estou fazendo alguns testes com drogas para ver se os pacientes respondem da mesma forma quem tem mutação e quem não tem”, explica.

A tese rendeu a conquista de um prêmio de mulheres cientistas em novembro deste ano com mais de 400 concorrentes. O valor da bolsa na premiação vai ser usado para financiar a sequência da pesquisa. Divisões do glioma A pesquisadora explica que gliomas são tumores que afetam células cerebrais e ocorrem principalmente em adultos, mas há casos em crianças. De acordo com Tathiane, a doença é muito agressiva e atinge mais as pessoas conforme avanço da idade, mas ainda não tem cura, nem fatores que levam ao desenvolvimento do tumor. “Eles são muito agressivos mesmo. Pelo menos metade dos pacientes com gliomas vão vir a óbito entre um ano e um ano e meio. Isso classifica os gliomas como muito agressivos. Não tem cura. Todo paciente com glioma, invariavelmente, vai falecer em decorrência do tumor. Não existe nenhum paciente na literatura que foi curado do glioma. A gente consegue controlar cirurgicamente. Existe um medicamento aprovado, bastante utilizado, existem outros que estão em estudo, estão sendo testado, mas bem estabelecido existe apenas uma droga, além da radioterapia”.

Um dos casos mais famosos de glioma é o do ex-jogador de basquete Oscar Schmidt. No entanto, o subtipo dele é menos agressivo, possibilitando que ele conviva com mais tempo com o tumor.

“A gente procura alterações genéticas, no DNA e RNA, alterações moleculares dentro das células, que nos ajudam a entender porque essas células viram tumor em primeiro lugar. Qual a diferença com tumor e não tumoral? E, dentre os tumores, porque um é mais agressivo e outro é menos? Eu procuro marcas no DNA que nos ajude a entender e nos ajude ajudar o médico no diagnóstico. Não ficar basicamente na histologia, na patologia do tumor, mas que ajude o médico a classificar certinho o tipo de tumor, para definir melhor o tratamento”, afirma Tathiane. Tratamento individualizado Com o avanço dos estudos, que já têm partes publicadas em artigos científicos, Tathiane quer alcançar o que chama de medicina de precisão ou tratamento individualizado para cada paciente.

A intenção é que, personalizando os métodos e protocolos, o paciente sinta menos as ações dos procedimentos na qualidade de vida e consiga conviver com o tumor por mais tempo.

“Existem subtipos de gliomas, que têm essas alterações específicas no DNA, que têm essa particularidade e por isso deve seguir o protocolo número 1. Se tem essas outras, deve seguir o número 2. E assim a gente vai subdivindo os pacientes, reclassificando eles, rumo a chegar um dia em uma medicina realmente individualizada. A gente vê se o paciente vai receber radioterapia antes ou depois, se vai ter uma cirurgia mais agressiva, porque no caso do cérebro pode afetar questões comportamentais, cognitivas. Se a gente souber com antecedência se o tumor é bastante agressivo, vale a pena arriscar e tirar ele com uma maior margem de cobertura? Aí você define o protocolo. Quanto mais informações a gente tiver, maior o manejo clínico do paciente mesmo, as drogas que vão ser usadas, o momento, as doses, como vai ser a cirurgia”. Como parte do trabalho, quando foi coautora de uma pesquisa em 2016, Tathiane descobriu um subtipo inédito de glioma com comportamento mais agressivo que o comum. O grupo é estudado até hoje e tem contribuído na definição de diretrizes para o tratamento.

“Eu gostaria muito de saber que eu contribui, em uma instância, na qualidade de vida dos pacientes. Eu sei que por mais que a gente não encontre a cura, um medicamento que trate todo mundo, mas se eu conseguir prolongar alguns meses de vida ou dar uma qualidade de vida maior para esses pacientes, e isso eu provavelmente vou conseguir fazer se conseguir ajudar o médico direcionar melhor o tratamento, aí que vou conseguir contribuir. Se eu souber que contribuí para melhorar a qualidade de vida, dar mais esperança para esses pacientes diagnosticados com gliomas, estou feliz, é meu maior objetivo”, diz a pesquisadora.


Fonte: G1

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