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'Não perdi só meu neto, perdi o amor da minha vida', diz avó de criança de 10 anos morta por Covid


 
 

"Não perdi só meu neto, perdi o amor da minha vida". O relato cheio de dor e revolta é da auxiliar de serviços gerais Socorro de Jesus da Silva, 51 anos. Ela perdeu o neto Guilherme Monteiro, de 10 anos, para a Covid-19, em agosto do ano passado.


A avó defende a vacinação de crianças e critica os obstáculos impostos pelo governo federal para a inclusão do público na campanha (veja mais abaixo). Socorro imagina que, se a imunização estivesse disponível, o neto poderia ter sido salvo: "Se ele tivesse tomado a vacina, com certeza estaria aqui com a gente." Luta no hospital O pequeno Guilherme, que tinha síndrome de Down, faleceu após 12 dias internado. No final de julho de 2021, ele começou a apresentar febre e mal-estar. A família imaginava se tratar de uma reação a um medicamento para anemia, que ele havia começado a tomar há poucos dias.

Como os sintomas persistiram, ele foi levado ao Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). Ao fazer o teste de Covid, veio o diagnóstico: positivo. "Foi uma surpresa para nós, porque sempre fizemos de tudo para protegê-lo dessa doença, ainda mais pela condição dele", contou a avó materna. O menino precisou ser internado imediatamente. Depois foi encaminhado para o Hospital da Criança de Brasília José Alencar, onde ficou internado, mas não resistiu e morreu em 1º de agosto.

"A gente tinha esperança que ele fosse ficar bem, porque, como ele tem síndrome de Down, era muito bem acompanhado por uma equipe. Se não fosse essa maldita Covid, ele estaria aqui. Os médicos fizeram de tudo, mas infelizmente ele perdeu essa batalha. Ele lutou", lamenta Socorro. Apreensão pela vacina A auxiliar de serviços gerais conta que, ao saber da liberação da vacina para crianças, lembrou de momentos de apreensão. "Toda semana eu ligava nos postos para saber sobre a imunização para a idade dele, porque era uma maneira de protegê-lo. A gente fez de tudo, mas não foi possível", diz. "Espero que a história do meu neto sirva de alerta para outras famílias. Tem que se vacinar." Guilherme vivia com os avós desde que nasceu. O casal morava na Cidade Ocidental (GO), mas, para oferecer melhores condições para a criança, foram para um apartamento no Recanto das Emas. Hoje, sem o neto, decidiram voltar para o Entorno. "Tudo lá me fazia lembrar o Guilherme. Não dava para continuar. Era uma criança tão cheia de vida, inteligente. Ele era o nosso milagre", completa. Internação em UTI A família do veterinário Daniel Salgueiro também viveu momentos de tensão após contrair Covid. Os filhos dele, Lucca e Vittório, de 7 e 9 anos, testaram positivo em setembro de 2021. O mais novo teve sintomas leves, já o mais velho ficou assintomático.

Mesmo assim, os pais iniciaram o tratamento para os dois. Após 18 dias isolada, a família retomou a rotina. Porém, Vittório adoeceu novamente, duas semanas depois.

Desta vez, o menino adquiriu síndrome hemolítico-urêmica (SHU), uma doença grave, caracterizada por anemia, baixa produção de plaquetas e lesão renal aguda.

Segundo o pai, vários médicos que acompanharam o caso consideram que o quadro pode estar ligado à Covid, por causa da baixa imunidade que o vírus causa. "Eles não conseguem bater o martelo dizendo que é pela Covid-19, mas há indícios de que é uma síndrome extremamente grave e letal, que tem acontecido com mais frequência em casos de crianças que tiveram Covid", diz. Daniel conta que Vittório adoeceu, no dia seguinte foi para o hospital e já ficou internado. No terceiro dia, passou para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). "Uma anemia muito grave, os rins parados, ele já com dificuldade respiratória. Foi um negócio super agressivo", lembra. Apesar do susto, o menino conseguiu se recuperar "Todos nós temos medo. Sou vacinado, já tenho a terceira dose, de reforço. Pretendo vacinar os meninos, pois sabemos que a vacina salva vidas. Isso é notório. Nem todos tiveram a sorte do Vittório", afirma Daniel. Vacinação e proteção O Ministério da Saúde anunciou, na quinta-feira (5), as regras para imunização contra Covid em crianças de 5 a 11 anos. Segundo a pasta, o primeiro lote de vacinas pediátricas deve chegar ao país no próximo dia 13.

O MS voltou atrás em um anúncio anterior e abriu mão da exigência de receita médica para imunização dessa faixa etária. No entanto, o caminho até a inclusão do público na campanha passou por percalços. Em 16 de dezembro, a Anvisa aprovou o uso da versão pediátrica da vacina da Pfizer para aplicação nas crianças de 5 a 11 anos. Desde o sinal verde da Anvisa, o ministro Queiroga afirmou diversas vezes que a autorização da agência não era suficiente para iniciar a vacinação.

Em 20 de dezembro, o ministro disse que a "pressa é inimiga da perfeição" e que a pasta só teria uma posição sobre o tema em janeiro. Na noite de 23 de dezembro, o Ministério da Saúde abriu uma consulta pública sobre vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid.

De 24 de dezembro, a 2 de janeiro, qualquer pessoa pôde participar, preenchendo um formulário online, da consulta que, segundo a pasta, estava aberta a "contribuições devidamente fundamentadas". Na quarta-feira (4), o Ministério da Saúde apresentou os resultados da pesquisa e também convidou entidades e profissionais ligados ao tema para uma audiência pública.

Sociedades médicas e científicas defenderam a vacinação de crianças de 5 a 11 anos. A coordenadora do departamento de pediatria da Sociedade de Pediatria do Distrito Federal (SPDF), Andrea Jacomo, ressalta que, embora os índices de casos graves de Covid entre as crianças sejam menores, merecem atenção. "As crianças não podem ser esquecidas. Vale lembrar que esses casos existem. Por isso, mais do que nunca, é preciso vacinar esse público", diz a pediatra. "Já temos visto as enfermarias e UTIs pediátricas enchendo. São vários vírus circulando. Por isso, não podemos negligenciar. Os pais não precisam entrar em pânico. Já temos dados seguros sobre as vacinas contra a Covid, que podem proteger contra outras extensões da doença. Eles devem tomar a decisão, e a melhor é a de proteger os filhos", ressalta.


Fonte: G1

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