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Mães com coronavírus podem ter que esperar até sete dias para conhecer seus bebês

Desde o final de março o Hospital das Clínicas de São Paulo se tornou um centro de tratamento exclusivo para pacientes com coronavírus. Isso mudou a rotina dos médicos e de outros profissionais de saúde, mas impactou também o momento mais importante da vida de muitas mulheres: a hora do parto.

Os casos mais graves de gestantes com coronavírus, quando elas precisam ser entubadas, tem colocado a equipe obstétrica diante de um dilema.

“Não tem um protocolo exato do que fazer com grávidas com coronavírus que precisam ser entubadas. É uma situação delicada, porque para entubar a mãe, é preciso sedá-la, e aí o bebê também fica sedado. E como você faz esse controle pra saber se o bebê está bem lá dentro? Então, temos feito partos super prematuros, com 30 semanas, 32 semanas. E aí fica naquela decisão difícil, na balança, porque tem todos os riscos de um bebê prematuro, mas tem muito risco pra mãe se ela não for entubada na hora certa – e aí podemos perder os dois; mãe e bebê”, desabafa a médica Marcela Bernardi, residente de ginecologia e obstetrícia do Hospital das Clínicas.

Na hora do parto, só a equipe de médicos e enfermeiros acompanha a gestante. Sedada e entubada, a mãe não participa do parto, não vê o nascimento de seu bebê e só poderá segurá-lo no colo pela primeira vez quando os dois tiverem alta do hospital – período que pode durar até sete dias.

Referência para gestantes infectadas

Logo que os casos começaram a aumentar em São Paulo, o Hospital das Clínicas se organizou para ser o centro de referência para pacientes com coronavírus.

No setor de obstetrícia, as gestantes que faziam o pré-natal foram direcionadas para o Hospital Universitário – todo o equipamento necessário foi levado para lá também – e no HC passaram a ser atendidas apenas grávidas infectadas com o vírus – tudo para diminuir a chance de transmissão para outras gestantes.

O objetivo é que todas as gestantes que são consideradas caso suspeito de coronavírus sejam transferidas para o HC, não só as que precisem de UTI.

“Lá temos todo o EPI [equipamento de proteção individual], temos 20 leitos para deixar a paciente isolada, temos o teste PCR que sai em 24 horas, já está tudo organizado para atender essas gestantes, independente de elas estarem graves por conta da covid ou não”, explica.

“Os residentes foram divididos entre o HC e o HU, mas eu me voluntariei para ficar no HC porque eu queria entender essa doença, que é muito diferente de qualquer coisa que eu já vi. A evolução, a transmissibilidade, tudo é muito diferente de outras doenças. Então eu queria estar frente a frente com uma paciente com covid para entender com o que estamos lidando”

Partos prematuros

Marcela conta que um dos partos mais marcantes que fez foi de uma paciente que estava grávida de 32 semanas e foi transferida para o Hospital das Clínicas com muita falta de ar.

Ela precisava ser entubada para respirar melhor, então a equipe decidiu fazer o parto. “Conversamos com a equipe da clínica para que ela fosse entubada na hora da cesárea, e aí teríamos três minutos para tirar o bebê antes da sedação chegar nele. Isso é importante porque se o bebê nascesse sedado, ele também teria que ser entubado”, conta.

Mas como contar para uma mãe que a filha dela vai nascer e que ela não vai poder ver, nem pegá-la no colo?

“Enquanto nos preparávamos para o parto, ficamos falando com a mãe para tentar acalmá-la, mas ela sabia que seria entubada e que não veria sua filha. E eu mesma estava super apreensiva, não só com o parto que teria que ser feito rápido, mas também com o que poderia acontecer com essa mãe, pensando em como ela iria evoluir depois do parto, se ficaria muitos dias entubada”, relata a profissional.

“Geralmente em uma cesárea, quando você tira o bebê da barriga, você já quer logo falar pra mãe ‘olha, seu filho nasceu, tá tudo bem com ele’ e eu não pude falar isso pra ela, porque quando a filha dela nasceu ela já estava sedada e entubada”, conta a médica.

Depois do parto, a paciente precisou ficar mais dois dias entubada. Uma semana depois que a filha nasceu, ela teve alta e finalmente pode conhecer seu bebê.

Marcela explica que embora ainda não tenha nenhum estudo que comprove, a equipe de obstetras do HC tem observado que as mulheres grávidas que estão com o coronavírus evoluem melhor depois do parto.

“Tem também a questão que a mãe que está em estado muito grave pode ficar com pouco oxigênio e aí o bebê vai receber pouco oxigênio também, então fazer o parto prematuro pode salvar a vida da mãe e do bebê”. A boa notícia é que mesmo prematuros, os bebês estão evoluindo bem.

Mesmo depois de saírem da entubação para continuar a recuperação no quarto, as mães não podem ficar com seus filhos recém nascidos.

O primeiro encontro só acontece quando os dois recebem alta. Para ajudar a aplacar um pouco esse sofrimento, a equipe do berçário filma os bebês todos os dias para mandar para elas e até fazem vídeo-chamadas para que as mães possam de alguma forma ver os primeiros dias de seus filhos.

Fonte: G1

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