Para auxiliar no tratamento de ferimentos, pesquisadores desenvolveram um curativo que envia dados de umidade do machucado por Wi-Fi e que pode ser acompanhado em tempo real. Essa tecnologia é importante porque, até então, a única forma de verificar a condição de cicatrização – algo intimamente ligado à umidade no local – é removendo o curativo, o que pode atrasar o processo de reparação do tecido.
Esse não é o primeiro caso de curativo inteligente – um dispositivo criado por pesquisadores brasileiros, por exemplo, usou açafrão em sua composição. Porém, a nova técnica se destaca na forma como usa a tecnologia para manter os profissionais informados sobre um detalhe importante na recuperação de feridas. O estudo foi publicado no periódico científico Frontiers in Physics.
Como esse curativo inteligente funciona
Antes de mais nada, é importante entender o papel da manutenção de umidade na recuperação de uma ferida. Do ponto de vista clínico, esse controle é essencial para a cicatrização adequada de machucados crônicos, como aqueles provenientes de cirurgias ou até mesmo acarretados por acidentes graves.
Mas para conferir o nível de umidade de uma ferida, os profissionais da saúde precisam remover o curativo para a avaliação, expondo o local a infecções ou simplesmente prejudicando a processo de cicatrização do organismo. A vantagem dessa nova tecnologia é poder medir a umidade de um ferimento sem a necessidade de remover o curativo.
A técnica consiste em utilizar um polímero – chamado de poly (3,4-ethylenedioxythiophene):polystyrene sulfonate (PEDOT:PSS) – junto com uma gaze utilizando um processo batizado de “screen printing”. Quando esse composto é aplicado em uma ferida que apresenta mudanças no nível de umidade, um sinal elétrico é emitido e captado por uma tag RFID instalada juntamente com o curativo.
A cientista Marta Tessarolo, pesquisadora na Universidade de Bolonha (Itália) e uma das responsáveis pelo desenvolvimento do produto, explica em um comunicado que os dados captados podem ser enviados para um smartphone e auxiliar na tomada de decisão com relação a troca das bandagens. Dessa forma, o curativo só será trocado quando houver necessidade e os níveis de umidade indicarem esse momento.
Testes precisam avançar para um curativo prático
Para testar essa nova tecnologia, os pesquisadores a expuseram uma ferida artificial (um experimento que simula a cicatrização) que demonstrou o funcionamento promissor da técnica. Diferentes tamanhos e formatos do curativo também foram testados e todos manifestaram uma sensibilidade aceitável para as variações de umidade detectada.
Porém, o pesquisador Luca Possanzini, outro médico da Universidade de Bolonha envolvido na pesquisa, destaca a necessidade de desenvolver melhor a técnica antes que ela possa ser testada na prática. De acordo com ele, é preciso “otimizar o sensor que detecta a umidade” e determinar os “valores ótimos” que vão auxiliar no processo de cicatrização de feridas.
Portanto, embora a descoberta seja promissora, pode ser que ainda demore um pouco até que esse curativo inteligente seja usado para tratar as feridas na prática.
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