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Confinamento por causa do coronavírus já registra impacto psicológico na população

Enquanto a França se prepara por um possível confinamento total, Itália e China já vivem há dias ou semanas com parte da população dentro de casa. Além das consequências sanitárias, a pandemia de coronavírus também tem um impacto psicológico nos moradores, com casos de depressão e aumento de violência conjugal.

Com informações de Stéphane Lagarde, correspondente da RFI em Pequim

Ficar em casa “sem fazer nada”. O que pode parecer um sonho para alguns, se tornou o pesadelo para milhões de pessoas desde o início do surto de COVID-19. Desde que as autoridades chinesas decidiram colocar a região de Hubei em quarentena, várias cidades e até países inteiros decidiram que a melhor maneira de impedir a propagação do vírus era forçar as pessoas a ficarem em casa.

Na China, as autoridades vigiam de perto quem desrespeita as regras, enquanto na Itália a imposição de uma multa de € 206 e o risco de até três meses de prisão foi a solução encontrada para manter a população em seus domicílios. O governo italiano autoriza deixar as residências apenas para comprar comida, ir a farmácia ou trabalhar, quando indispensável.

No entanto, se o confinamento é usado como uma forma de conter o vírus, a medida também pode ter um impacto social e psicológico nocivo. Na China, por exemplo, as autoridades registraram um aumento nos índices de violência doméstica nas regiões onde as pessoas foram proibidas de sair de casa. O número de casos de divórcio também está em alta no país.

“Quando estamos confinados, perdemos a nossa rotina, reduzimos a nossa atividade física e, em caso de quarentena, as pessoas podem ser vítimas de stress pós-traumático, irritabilidade, angústia e insônia”, explica Chee Ng, professor de psiquiatria da universidade de Melborne e colaborador da Organização Mundial da Saúde (OMS). “O confinamento gera um sentimento de incerteza, de tédio e de solidão. E quanto mais longo, mais importantes são as repercussões na saúde mental”, analisa.

Estudos mostram que a solidão provocada pela falta de vida social também pode provocar uma elevação no organismo dos índices de cortisol, o hormônio do stress, e que esse aumento também representa um risco desenvolvimento de doenças cardiovasculares, sem esquecer a depressão e a obesidade.

Solidão da quarentena

Com mais de 50 milhões de pessoas confinadas desde 23 de janeiro na província de Hubei, a China se tornou um exemplo flagrante dos efeitos do isolamento físico na saúde mental. O país tem visto uma explosão de pedidos de consultas com psicólogos. Os moradores procuram ajuda por terem medo de serem contaminadas com o COVID-19, mas também para enfrentaram a solidão da quarentena.

Para completar, a China sofre com um déficit de profissionais qualificados para o tratamento da saúde mental. O país conta com pouco mais de 2 psiquiatras para cada 100 mil habitantes, de acordo com dados da OMS.

Diante desse contexto, o governo de Pequim colocou à disposição mais de 300 linhas de assistência telefônica administradas por universidades ou associações especializadas. Mas o número é insuficiente para uma população de mais de um bilhão de habitantes e, numa tentativa de atingir um público mais amplo, alguns terapeutas implementaram programas gravados, com exercícios de meditação. Sessões de análise em streaming, nas quais psicólogos respondem às perguntas dos internautas, também estão sendo realizadas.

O assunto começa a preocupar os especialistas, muito além dos países que decretaram o confinamento. “Entramos em um novo período de sofrimento social”, alerta Eric Klinenberg, sociólogo da Universidade de Nova York em entrevista ao site Vox. “Haverá um nível de sofrimento social relacionado ao isolamento e ao custo do distanciamento social que poucas pessoas estão discutindo por enquanto”, pontua.

Ficar conectado na internet nem sempre é a solução

Além disso, ao contrário do que pode se pensar, estar conectado via internet não significa necessariamente que o isolamento é menor. “Poderíamos imaginar que o acesso às redes sociais ajudaria a nos sentirmos menos sozinhos durante as crises. No entanto, as pessoas confinadas têm acesso a um volume muito grande de notícias que nem sempre são verdadeiras. E ainda não sabemos ainda se todas essas informações podem agravar ou não o impacto psicológico do confinamento”, alerta o professor Chee Ng.

Esse fluxo de informações que provocam ansiedade ganhou até um nome da OMS: infodemia. E como ressalta o professor de psiquiatria da universidade de Melborne, durante a epidemia de Sras, em 2003, as redes sociais ainda eram balbuciantes, o que faz da pandemia de COVID-19 um fenômeno inédito, cujas consequências para a saúde mental da população ainda são desconhecidas.

Fonte: RFI

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