As causas da morte de Paulinha Abelha, vocalista da banda Calcinha Preta, no dia 23 de fevereiro, ainda não foram esclarecidas. Médicos já vinham estudando o que ocasionou o quadro de comprometimento multissistêmico que levou a cantora à morte.
Intoxicação causada por remédios para emagrecer, chás diuréticos e comida estavam sendo analisados. A assessoria de imprensa da banda informou que um laudo prévio, que não foi divulgado, foi entregue à família, mas que as causas trazidas nele ainda não eram conclusivas. Internação após turnê A cantora foi internada em Aracaju em 11 de fevereiro, após sentir dores logo depois de ter chegado à cidade depois de uma turnê com a banda em São Paulo. Seu quadro se agravou rapidamente. No dia 14, a cantora foi transferida para a UTI; três dias depois, Paulinha entrou em coma. No dia 23, as lesões neurológicas da cantora se agravaram e sua morte encefálica foi confirmada (leia mais detalhes no final da reportagem). Marido fala sobre uso de chás e remédios Em entrevista ao Fantástico neste domingo (27), o marido de Paulinha Abelha, Clevinho Santos, falou sobre a rotina de medicamentos da artista. “Às vezes tinha uma gravação, ela ia tomava o medicamento e treinava, mas ela nunca chegou a tomar nenhum tipo de anabolizante, mas os medicamentos que ela sempre tomou sempre foram esses, mais diuréticos. Quase toda semana ela tava tomando. Quando tinha um show, uma coisa que ela queria dar uma secada, esses chás de emagrecer”, contou. A equipe médica que a acompanhava no Hospital Primavera, para onde foi transferida, já em coma, no dia 11 de fevereiro, falou sobre uso de medicamentos e diuréticos em uma entrevista coletiva no dia 22 de fevereiro. "De fato o uso abusivo seja de anti-inflamatório, diurético, e de alguma substância de cunho estético pode levar à lesão renal. O uso abusivo, rotineiro, tem esse risco, mas não parece ter sido isso que aconteceu. Nosso exame de imagem não tem nenhum sinal de lesão crônica.
Fomos questionados se o tratamento ou as tentativas estéticas de perda de peso teriam alguma responsabilidade no quadro clínico dela agora”, disse o médico e diretor-técnico do hospital, Ricardo Leite. O médico também explicou o que era a síndrome tóxico-metabólica que estava ocorrendo com a cantora.
“Existe alguma substância ou algo que está circulando no corpo do paciente que deve estar gerando uma cascata de inflamação ou de lesões nesses órgãos a ponto de deixá-los em disfunção”.
Ainda segundo ele, os medicamentos que Paulinha usava eram supervisionados por um profissional de saúde.
“Então a gente trabalha com a possibilidade de intoxicação”. Intoxicação alimentar Outra intoxicação, a alimentar, também foi levantada como uma das causas de problemas nos rins da cantora.
De acordo com o Ministério da Saúde, a Doença de Haff, também conhecida como doença da urina preta, é causada por uma toxina que pode ser encontrada em peixes como o tambaqui, o badejo, a arabaiana ou em crustáceos, como a lagosta, o lagostim e o camarão. O paciente sente muita dor muscular e a coloração da urina fica escura.
Como a doença é pouco estudada, acredita-se que esses animais possam ter se alimentado de algas com certos tipos de toxinas que, consumidas pelo ser humano, provocam os sintomas.
Contudo, a toxina, sem cheiro e sem sabor, surge quando o peixe não é guardado e acondicionado de maneira adequada. O quadro descrito nos pacientes graves é compatível com a rabdmiólise, doença que destrói as fibras que compõem os músculos do corpo. Quando associada ao consumo de peixes, a síndrome é conhecida como Doença de Haff. O médico infectologista e professor universitário Matheus Todt Aragão, que não faz parte da equipe que cuidou da cantora, explica que os casos registrados no Brasil de Síndrome de Haff estão associados a surtos em locais onde há o consumo de peixe com essa toxina. “E normalmente, apesar de alguns pacientes irem para UTI e serem submetidos à diálise, por algum tempo, essa é uma doença que tem um desfecho normalmente benigno, as pessoas morrem pouco”.
Ainda segundo o médico, no caso da Paulinha Abelha, apesar de ter um histórico de consumo de sushi algum tempo antes da internação, não houve nenhum relato de surto, ou seja, de outras pessoas tendo os mesmo sintomas, o que seria típico da Doença de Haff.
“Apesar de ela ter tido um quadro de insuficiência renal aguda, ela não teve relatos de dores musculares, alterações nos marcadores musculares, nem alteração da cor da urina . Então torna-se menos provável que ela tenha sofrido de uma Doença de Haff e sim, ela pode ter tido outra condição clínica sistêmica que a levou ao óbito”, disse o infectologista. Quem foi Paulinha Abelha Natural do município de Simão Dias, no interior de Sergipe, Paula de Menezes Nascimento Leça Viana, trabalhou com pai comercializando em feiras livres. Começou a carreira como cantora profissional na banda Panela de Barro, onde fez dupla com o cantor Daniel Diau.
Os dois voltaram a cantar juntos na Calcinha Preta, que também é composta, atualmente, por Silvânia Aquino e Bell Oliver. A história na banda tem idas e vindas, mas começou no final dos anos 90, quando o empresário Gilton Andrade a descobriu. Ao todo, ela gravou 21 CDs e três DVDs.
A cantora foi homenageada na música que leva o seu nome, "Paulinha". Deixou a banda em 2009 para integrar a G.D.Ó. do Forró com Marlus Viana, com quem foi casada. Em 2014, retornou para a Calcinha Preta. Em 2016, Paulinha deixou a banda para formar dupla com a Silvânia Aquino, retornando ao grupo em 2018. Entre os maiores sucessos interpretados por Paulinha estão as músicas: "Você Não Vale Nada", "Furunfa", "Baby doll", "Louca por ti", "Sonho Lindo", "Armadilha", "Paulinha" e "Ainda te amo".
A Calcinha Preta gravou um DVD de 25 anos em fevereiro de 2020 e retornava à rotina de shows após meses sem apresentações por conta da pandemia.
Até a internação de Paulinha, o último compromisso do grupo foi a gravação do podcast Podpah, em São Paulo, no dia 8 de fevereiro.
Veja a cronologia da internação:
11 de fevereiro - A cantora Paulinha Abelha foi hospitalizada em Aracaju depois de chegar de uma turnê com a banda Calcinha Preta em São Paulo. A internação foi para tratar de problemas renais, mas a causa não foi divulgada;
14 de fevereiro - O quadro da cantora se agravou e ela foi transferida para a UTI. A partir daí, passou a fazer diálise;
17 de fevereiro - O boletim médico desse dia informou que Paulinha estava em coma e, por causa da instabilidade neurológica, não tinha condições clínicas suficientes para a transferência. No fim da noite a situação mudou e ela foi transferida para o Hospital Primavera, na Zona Sul de Aracaju, para fazer novos exames renais;
18 de fevereiro - O boletim médico informou que a artista permanecia em coma, clinicamente estável, com quadro de infecção controlado e respirando com o suporte de aparelho. A assessoria da cantora disse ainda que estava descartada a possibilidade de morte cerebral, e que naquela tarde ela passaria por mais uma sessão de hemodiálise. Segundo a assessoria, Paulinha estava sendo submetida a um novo tratamento, que só deveria apresentar resposta em 72 horas. Com relação à transferência para hospital de outro estado, a assessoria informou que não havia previsão de quando poderia acontecer;
19 de fevereiro - No fim da manhã do sábado, novo boletim informava que após a investigação com exames complementares, foi afastada a possibilidade da cantora estar com "doenças infecciosas de interesse epidemiológico para a comunidade". O documento não trouxe mais detalhes sobre quais doenças seriam essas. À noite, os médicos informaram que ela estava intubada e em coma persistente;
20 de fevereiro - Segundo o boletim médico do domingo, a cantora apresentou quadro neurológico grave e permanecia internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ela também continuava em coma e intubada;
21 de fevereiro - na segunda-feira, a artista seguia com quadro neurológico grave, sem sinais de instabilidade hemodinâmica, respirando com a ajuda de aparelhos e necessitando de diálise.
22 de fevereiro- Na terça, de acordo com o boletim, ela permanecia com o quadro neurológico grave inalterado, sem necessidade de medicamentos para ajuste da pressão, respirando com a ajuda de aparelhos e necessitando de hemodiálise para ajuste da função renal. No final da tarde, os médicos que acompanhavam a cantora concederam entrevista coletiva e definiram o estado de coma dela com o nível 3 na Escala de Glasglow, que se caracteriza como o mais profundo.
23 de fevereiro- O último boletim divulgado pelo hospital, no começo da tarde de quarta-feira informou que a cantora permanecia em coma com quadro neurológico grave inalterado, respirando com a ajuda de aparelhos, fazendo hemodiálise e em monitoramento contínuo das disfunções neurológica, renal e hepática. À noite, o hospital emitiu a nota de falecimento.
Fonte: G1
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