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Sob Trump, EUA vão investigar ligação entre vacinas e autismo, já desmentida em diversos estudos

Foto do escritor: Portal Saúde AgoraPortal Saúde Agora


Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) planejam conduzir um estudo em larga escala para reexaminar se há uma conexão entre vacinas e autismo, disseram autoridades federais na última sexta-feira.


Dezenas de estudos científicos publicados até agora não encontraram evidências de uma ligação, o que é hoje considerado um consenso dentro da comunidade científica.


No entanto, o CDC agora está sob a jurisdição do secretário de Saúde e Serviços Humanos, o equivalente ao Ministério da Saúde no Brasil, Robert F. Kennedy Jr., que há muito expressa ceticismo sobre a segurança das vacinas e prometeu revisitar os dados.


— Como o presidente Trump disse em seu discurso conjunto ao Congresso, a taxa de autismo entre crianças americanas disparou. O CDC não deixará pedra sobre pedra em sua missão para descobrir exatamente o que está acontecendo — afirmou Andrew Nixon, porta-voz do Departamento de Saúde e Serviços Humanos.


Nixon não forneceu detalhes sobre o escopo ou os métodos do projeto. A notícia do estudo foi divulgada pela primeira vez na manhã de sexta-feira pela Reuters.


Ao seguir com o estudo, o CDC está desafiando os desejos do presidente do Comitê de Saúde do Senado, senador Bill Cassidy, republicano da Louisiana, que disse na última semana que mais pesquisas sobre qualquer suposta ligação entre vacinas e autismo seriam um desperdício de dinheiro e uma distração de iniciativas que poderiam esclarecer a "verdadeira razão" para o aumento das taxas de autismo.


— Isso já foi estudado exaustivamente — disse Cassidy, que é médico, durante a audiência de confirmação de Jay Bhattacharya, indicado pelo presidente Donald Trump para liderar os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH). — Quanto mais fingimos que isso é uma questão, mais crianças morrerão de doenças evitáveis por vacinas.


Embora Bhattacharya tenha dito estar "convencido" pela pesquisa existente de que não há ligação entre vacinas e autismo, ele sugeriu que mais pesquisas poderiam acalmar os medos de pais apreensivos. Os apoiadores de Kennedy e aliados de seu movimento "Make America Healthy Again" (Torne a América Saudável de Novo) elogiaram a decisão da administração.


— Tanto Trump quanto Kennedy estão cumprindo sua palavra — diz Zen Honeycutt, fundador da organização sem fins lucrativos Moms Across America (Mães Pela América). — Gostaríamos que a administração anterior tivesse dado prioridade à saúde e à epidemia de autismo.


A notícia do estudo planejado pelo CDC surge em meio a um surto de sarampo que se espalha rapidamente no Oeste do Texas, impulsionado por baixas taxas de vacinação, que já infectou quase 200 pessoas e matou duas.


No ano passado, cerca de apenas 82% da população de jardim de infância no condado mais afetado havia recebido a vacina contra o sarampo, muito abaixo dos 95% necessários para evitar surtos. De acordo com autoridades de saúde do Texas, 80 dos infectados não estavam vacinados, e 113 tinham "status de vacinação desconhecido".


Questionado em uma entrevista sobre os planos do CDC para reexaminar se o autismo está ligado à vacinação, Xavier Becerra, secretário de saúde do então presidente Joe Biden, disse:

— Tudo o que direi é que o CDC pode fazer muitas coisas. Eles podem andar e mascar chiclete ao mesmo tempo, mas eu esperaria que o CDC estivesse sendo usado para nos ajudar a controlar o sarampo antes que outra vida seja perdida desnecessariamente.


A taxa de diagnósticos de autismo nos EUA está inegavelmente em ascensão. Cerca de 1 em cada 36 crianças tem um diagnóstico, de acordo com dados recentes do CDC coletados em 11 estados, em comparação com 1 em 150 crianças no ano 2000.


Pesquisadores atribuem grande parte do aumento à maior conscientização sobre o transtorno, o que aumenta o diagnóstico, e a mudanças na forma como ele é classificado por profissionais médicos. No entanto, cientistas dizem que há outros fatores, genéticos e ambientais, que também podem estar desempenhando um papel.


— Existem tantas pistas promissoras para a causa ou causas do autismo — diz Paul Offit, pediatra especializado em doenças infecciosas no Hospital Infantil da Filadélfia. — As vacinas não são uma delas. Dado que os recursos do CDC são limitados, este é um dia triste para as crianças com autismo.


Assim como Kennedy, Trump há muito defende a ideia de que as vacinas estão de alguma forma ligadas ao aumento das taxas de autismo. Ele levantou a ideia pela primeira vez em 2007 e voltou ao tema como candidato presidencial em 2015. Também disse que apoiaria Kennedy na reavaliação do assunto, citando recentemente a taxa de diagnósticos de autismo durante seu discurso ao Congresso na terça-feira.


— Vamos descobrir o que é, e não há ninguém melhor do que Bobby e todas as pessoas que estão trabalhando com você. Bobby (como chama o secretário), boa sorte. É um trabalho muito importante — afirmou Trump.


Kennedy obteve confirmação do Senado como secretário de saúde por uma margem mínima. No final, ele prevaleceu principalmente ao conquistar Cassidy, que se especializou em doenças do fígado como médico e é um forte defensor das vacinas.


Durante o segundo dia das audiências de confirmação, Cassidy expressou profunda preocupação com as dúvidas anteriores de Kennedy sobre as vacinas e citou um estudo com 1,2 milhão de crianças que não encontrou nenhuma conexão entre vacinas e autismo.


Kennedy retrucou, dizendo que um novo estudo "mostrou o oposto". Uma análise do The New York Times sobre esse estudo descobriu que ele foi financiado, escrito e publicado por uma rede de céticos em relação às vacinas próximos a Kennedy.


Quando o estudo foi rejeitado por várias revistas médicas tradicionais, Andrew Wakefield, autor de um estudo de 1998 – posteriormente retratado – que ligava vacinas ao autismo, ajudou a publicação a encontrar espaço em um periódico editado por críticos das vacinas.


Após sua confirmação, o primeiro discurso de Kennedy para sua equipe incluiu uma promessa de estudar o aumento de doenças crônicas nos EUA, incluindo uma revisão do calendário de vacinação, ou seja, o conjunto de imunizações administradas a crianças pequenas.


Fonte: O Globo

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