A professora Gabrielle Avelar, de 44 anos, passou quase duas décadas lutando contra dores e sangramentos contínuos provocados pela endometriose e adenomiose, dois problemas que acometem o sistema reprodutivo feminino. O quadro, que prejudicava a saúde dela e provocava constrangimentos constantes, só foi resolvido com uma histerectomia, cirurgia que remove o útero.
O diagnóstico correto de Gabrielle só veio aos 41 anos, mas, desde a adolescência, ela tinha um fluxo menstrual intenso, que durava bem mais que o normal. “Minha menstruação sempre durava entre 7 e 10 dias, às vezes, até 15 dias. Não tinha absorvente para conter tanto sangramento”, relembra.
Endometriose e adenomiose
A endometriose é uma doença inflamatória provocada por células do endométrio, que, em vez de serem expelidas, migram no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal. É uma doença genética, crônica e progressiva. Já a adenomiose ocorre quando o tecido que reveste o útero, o endométrio, cresce de forma anormal na parede uterina.
O cirurgião-ginecológico Alexandre Brandão, da Maternidade Brasília, explica que os principais sintomas de adenomiose são cólica menstrual intensa e sangramento aumentado. Já a endometriose provoca cólica menstrual, pode causar dor durante a relação sexual, ao evacuar e ao urinar. Segundo ele, as duas podem levar a paciente à infertilidade.
“Além da dor, a cólica incapacitante atrapalha o cotidiano da mulher e provoca até sofrimento psicológico. Faz com que a paciente precise de atestado médico, afastando-a do trabalho ou da escola. Isso provoca preconceito e insegurança, pois muitas não têm coragem de admitir o problema de saúde por medo dos outros”, aponta Alexandre.
Com o tempo, o quadro de Gabrielle piorou. Com 24 anos, ela começou a tomar anticoncepcional de uso contínuo, ou seja, buscava interromper a menstruação para não sentir cólica. Por um tempo, funcionou.
“Dois anos depois, o tratamento com anticoncepcional foi perdendo eficácia. Os sangramentos de escape voltaram a aparecer. E aí depois, quando eu tinha 29 anos, o controle já não funcionava de jeito nenhum. Era como se eu não tivesse tomando nada”, conta.
Devido aos sangramentos constantes, Gabrielle também desenvolveu um quadro de anemia. “Tentava resolver fazendo tratamento com ferro, mas sempre voltava”, desabafa. A condição a deixava cansada, desanimada e com muita fadiga muscular.
Diagnóstico e cirurgia
Em 2018, ela começou a ter dores diferentes. A sensação começou a ficar localizada no lado direito do abdômen, em uma região próxima à virilha, e, muitas vezes, irradiava para a perna.
O diagnóstico só veio após a consulta com Alexandre Brandão, que é especialista em endometriose. A tentativa de tratamento inicial foi com progesterona, que não surtiu efeito para a paciente.
Os sangramentos e as dores continuavam da mesma forma até que, em 2019, ele resolveu que a melhor opção seria a histerectomia.
Na ocasião, ela já possuía focos de endometriose na uretra, ovário e reto. O segmento final do intestino e a trompa direita estavam obstruídos pelas células do endométrio, por isso ela sentia tanta dor do lado direito.
“Estava no meu limite de dor e não conseguia ter uma vida normal. Como é que você vai para uma piscina? Como é que você veste uma roupa clara? Eu não conseguia saber se estaria sangrando hoje. Às vezes, acordava sem sangramento, mas daqui a pouco, no fim do dia, estava lá, sangrando de novo”, relembra.
A tão esperada cirurgia aconteceu em fevereiro de 2020 e foi realizada na Maternidade Brasília. A professora passou por uma raspagem no intestino, onde tinha alguns focos de endometriose, além de ter o útero retirado. A professora vive hoje sem medicamento nenhum, continua apenas fazendo acompanhamento regularmente, e conta que voltou a ter paz.
“O dia 17 de fevereiro foi tão marcante que não vou esquecer nunca. A qualidade de vida após a cirurgia é outra”, comemora.
Reconhecer a dor
A professora lamenta que suas queixas não tenham sido levadas em conta pelos médicos que a atenderam antes. Ela acredita que poderia ter sido diagnosticada mais cedo.
“Não acho que era normal ter um fluxo tão intenso como o meu, nem sentir tanta dor como eu sentia. Os médicos entendiam como uma dor suportável, natural da cólica, mas essa dor não deveria ser tão normalizada”, aponta.
O médico alerta sobre a importância de que, cada vez mais, se fale sobre a endometriose e a adenomiose. “Ainda prevalece uma crença de que cólica menstrual é normal, que pode melhorar depois da gravidez e não é bem assim. Normalizar a cólica menstrual é muito ruim para as mulheres, ela causa muito sofrimento e incômodo. O que precisamos é conscientizar mais as pessoas falando sobre a doença e falando que a dor incapacitante não é normal”, diz Alexandre.
Fonte: Metrópoles
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