Se os olhos captam as imagens de cabeça para baixo, como o cérebro as inverte?
- Portal Saúde Agora
- 25 de mai.
- 3 min de leitura

Nossos olhos funcionam graças à luz. Os objetos que vemos são fontes de luz – como uma vela ou a tela de um celular – ou a luz reflete neles e chega aos nossos olhos.
Primeiro, a luz passa pelos componentes ópticos dos olhos, como a córnea, a pupila e o cristalino.
Juntos, eles ajudam a focar a luz na retina, que a detecta, ao mesmo tempo que controlam a intensidade da luz para nos ajudar a enxergar bem e evitar danos aos olhos.
A função do cristalino é focalizar corretamente a luz que vem de objetos a diferentes distâncias. Esse processo é conhecido como acomodação.
Ao realizar essa importante tarefa, a luz que passa pelo cristalino se inverte. Isso significa que a luz da parte superior do objeto incide em uma posição mais baixa na retina do que a luz da parte inferior, que incide em uma posição mais alta na retina.
Portanto, a luz que sai do cristalino e atinge a retina é de fato invertida. Mas isso não significa que o cérebro esteja, de fato, invertendo a imagem. Eis o porquê.
Embora a luz interpretada pelo cérebro esteja "de cabeça para baixo" em comparação com o mundo real, a questão é: isso é realmente um problema?
Por experiência própria, você pode dizer que a resposta provavelmente é não. Parece que navegamos e interagimos com o mundo sem problemas.
Então, em que parte do cérebro a imagem é invertida ou rotacionada 180 graus para ficar "de cabeça para cima" novamente?
Você pode se surpreender ao saber que cientistas da visão rejeitam a ideia de que uma inversão ou rotação precise acontecer. Isso se deve à forma como nossos cérebros processam as informações visuais.
O objeto que você percebe é "codificado" pelo disparo de vários neurônios – células cerebrais que processam informações – em vários locais do cérebro. Esse padrão de disparo é o que codifica as informações sobre o objeto em que você está focando. Essas informações levam em consideração a relação do objeto com todo o resto na cena, seu corpo no mundo e seus movimentos.
Desde que as codificações relativas sejam consistentes entre si, além de estáveis, não há necessidade de que ocorra qualquer inversão.
Podemos funcionar com óculos de proteção "de cabeça para baixo"!
Diversos estudos analisaram como nos adaptamos a grandes mudanças na entrada visual, pedindo às pessoas que usassem óculos que invertem a imagem que chega.
Isso significa que a imagem chega à retina "de cabeça para cima", por assim dizer, mas de cabeça para baixo em relação ao que o cérebro aprendeu que deveria ser.
Na década de 1930, dois cientistas na Áustria realizaram os Experimentos dos Óculos de Proteção de Innsbruck. Por semanas ou até meses, os participantes desses estudos usaram óculos que alteravam a aparência do mundo ao seu redor. Isso incluía óculos que invertem a imagem recebida.
Como você pode imaginar, as pessoas que usavam esses óculos, no início, achavam muito difícil se virar em suas atividades cotidianas. Elas tropeçavam e esbarravam em coisas.
Mas isso era temporário.
Os participantes relataram ver o mundo de cabeça para baixo nos primeiros dias, com dificuldades para navegar pelo ambiente, incluindo tentar passar por cima de luzes do teto que pareciam estar no chão.
Por volta do quinto dia, no entanto, o desempenho pareceu melhorar. Coisas que antes eram vistas de cabeça para baixo agora pareciam estar de cabeça para cima, e isso tendeu a melhorar com o tempo.
Em outras palavras, com a exposição contínua ao mundo de cabeça para baixo, o cérebro se adaptou à mudança de estímulos.
Estudos mais recentes estão começando a identificar quais áreas do cérebro estão envolvidas na capacidade de adaptação a mudanças no estímulo visual e quais podem ser os limites dessa habilidade.
A adaptação pode até permitir que pessoas "daltônicas" vejam as cores melhor do que o previsto por sua condição.
Fonte: O Globo
Comments