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Ressurgimento de doenças preocupa comunidade médica

Médicos reunidos no 53º Congresso Brasileiro de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial alertaram para o ressurgimento de doenças e aumento de casos de outras patologias decorrentes de falhas nas políticas públicas de prevenção. Entre as doenças mencionadas está a sífilis, cujo número de casos diminuiu até o fim dos anos 90, mas recentemente voltou a preocupar. São seis milhões de novos casos notificados em todo o mundo. [1]

A Dra. Eliane Rosseto, imunopatologista e mestre em ciências da saúde, apresentou o estudo Syphilis Surveillance Supplement 2013-2017 no congresso. O objetivo do trabalho foi identificar características e comportamentos comuns nos casos de sífilis primária e secundária nos Estados Unidos. A Dra. Eliane destacou que houve um aumento significativo de casos de sífilis primária e secundária em mulheres e homens que fazem uso de drogas injetáveis. [2]

O índice mais que dobrou nesses dois grupos. Em 2013, o percentual de mulheres que fazia uso de drogas injetáveis com sífilis primária ou secundária era 4%. Quatro anos depois, subiu para 10,5%. Já entre homens (que fazem sexo com mulheres) usuários de drogas injetáveis, o percentual foi de 2,8% em 2013 para 6,3% em 2017.

De acordo com os dados publicados no periódico Current Epidemiology Reports, nos países desenvolvidos, apenas alguns grupos apresentam alta incidência de contaminação por Treponema pallidum (bactéria causadora da sífilis). Já nos países em desenvolvimento, os níveis são endêmicos. [3] Ainda de acordo com a pesquisa, o Brasil foi classificado como um país de risco intermediário a alto.

“A subnotificação é um problema. Aqui, o registro de casos de sífilis é exigido apenas para gestantes”, afirmou a Dra. Eliane.

Vale lembrar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou números sobre a sífilis congênita, e foram registrados, em 2016, aproximadamente 661.000 casos de sífilis congênita em todo o mundo. A doença é a segunda principal causa de natimortos evitáveis. [4]

Para o Dr. Edimilson Migowski, médico e presidente do Instituto Vital Brazil, é inaceitável alguém ficar com sequelas graves ou morrer por doença passível de prevenção. “Eu faço um apelo aos adultos (em sua maioria profissionais de saúde) aqui presentes: chequem seus cartões de vacinação”, exortou.

O pedido feito por Dr. Edimilson foi motivado pela reemergência do sarampo nos últimos dois anos. Foram registrados 364.808 casos da doença em 182 países no primeiro semestre de 2019, o triplo da quantidade de casos notificados no mesmo período de 2018, com 129.329 registros. [5] A OMS estima que milhões de pessoas estejam em risco de contrair a doença.

Segundo o Dr. Edimilson, uma das causas para o aumento de casos de sarampo é o movimento antivacina. A iniciativa chegou a apresentar um suposto “embasamento científico”, com um artigo publicado no periódico The Lancet, que associava a tríplice vacina ao autismo e outras complicações de saúde. Doze anos depois, a revista se retratou sobre a publicação, que se mostrou fraudulenta. [6] O médico lembrou ainda que, entre 2000 e 2017, aproximadamente 21 milhões de mortes por sarampo foram evitadas por causa da vacinação no mundo todo. [7]

O presidente do instituto lembrou que as doses preconizadas aos 12 e 15 meses são excelentes para evitar uma falha vacinal primária (quando o indivíduo não apresenta uma resposta imunológica esperada), mas que não contribuem para a diminuição da falha secundária (quando o corpo vai perdendo imunidade ao vírus com o passar dos anos).

“No futuro, uma terceira dose da vacina contra o sarampo pode ser necessária. É uma questão para refletirmos”, afirmou.

Doenças negligenciadas também apresentam alto número de casos

Outra doença que vem preocupando os médicos é a tuberculose. A microbiologista e farmacêutica Mireille Ângela Bernardes Sousa, lembrou que os índices para considerar a doença erradicada nunca foram alcançados, o que demonstra que a patologia vem sendo negligenciada.

Um relatório publicado pela OMS no ano passado apontou que, em 2017, mais de um milhão de pessoas morreram de tuberculose e outras 10 milhões contraíram a doença. [8] Ainda de acordo com o relatório, a subnotificação de casos da doença é um problema que precisa ser enfrentado. A OMS estima que um quarto da população mundial tenha a infecção bacteriana.

Dados epidemiológicos divulgados pelo Ministério da Saúde mostram que o Mycobacterium tuberculosis é o principal agente infeccioso que leva pessoas com HIV à morte (10% dos casos em todo o mundo). [9]

De acordo com a microbiologista, a OMS recomenda, em alguns locais – onde o teste tuberculínico não está disponível – a quimioprofilaxia de crianças com até cinco anos de idade que tenham convívio com pessoas com tuberculose e/ou HIV. Outro ponto que precisa de atenção é o alto índice de abandono do tratamento, porque o número de casos recidivos (42,8%) é superior ao de casos novos (30,6%). [10]

Segundo Mireille, a bedaquilina, um novo medicamento para combater a tuberculose, deve ser disponibilizada em breve. “Atualmente, a terapia mais utilizada na saúde pública é um coquetel de comprimidos. Embora a estreptomicina seja mais eficaz, ela não é utilizada, porque apresenta baixa absorção via oral”, completou.

De acordo com a patologista Dra. Silvana Maria Elói Santos, se considerarmos todas as doenças tropicais negligenciadas no Brasil, a doença de Chagas é a que mais reduz a expectativa de anos saudáveis. [11] Diante da falta de notificação, estima-se que aproximadamente um milhão de pessoas tenha a doença na fase crônica. Os estados do Pará e do Amapá são os que apresentam o maior número de casos da doença em fase aguda.

Para a médica, uma das possíveis explicações é o hábito de comer açaí: “O barbeiro (inseto vetor da doença) costuma ficar nos pés de açaí. Então, durante a colheita da fruta, é possível que o vetor seja transportado e processado junto com o açaí, e acabe contaminando, por exemplo, os sucos”, afirmou.

Para a Dra. Silvana, apesar do alto número de chagásicos, a doença de Chagas tende a ser uma microepidemia focal, transmitida principalmente por via oral. Um exemplo dado pela médica foi a contaminação de 40 pessoas no sertão de Pernambuco; especialistas suspeitam que os pacientes tenham ingerido restos do inseto misturados a algum alimento. [12]

Fonte: Medscape

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