Quando o estresse é demais? Psiquiatra expõe conexões com problemas de saúde (e como procurar ajuda)
- Portal Saúde Agora
- 25 de mar. de 2024
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Percorrer mais de 6 horas de viagem todos os dias? Ser humilhado diariamente pelo chefe? Qual é a linha imaginária que separa o estresse tolerável do estresse tóxico? Em muitos casos, essa divisória varia muito de pessoa para pessoa. Por certo, o que se tem é: alguns terão uma velhice precoce e, outros, complicações de saúde, motivadas por conviver com esta reação do organismo ao ambiente a longo prazo.
Bom estresse X estresse tóxico
De acordo com o professor de psiquiatria e medicina familiar, Lawson R. Wulsin, que leciona na Universidade de Cincinnati, em Ohio, nos Estados Unidos, o estresse considerado "bom" cientificamente é aquele que se observa quando surge uma demanda ou desafio que o indivíduo enfrenta prontamente.
"O ritmo destes desafios diários, incluindo se alimentar, se limpar, se comunicar com os outros e realizar o seu trabalho, ajuda a regular o seu sistema de resposta ao stress e a mantê-lo em forma", escreveu em artigo para o The Conversation.
A comparação é clara com o tóxico. Segundo aponta o psiquiatra, os efeitos primários da versão danosa são sintomas persistentes, como dor de cabeça, fadiga ou dor abdominal, que interferem no funcionamento geral do corpo.
"Após meses de sintomas iniciais, uma doença completa com vida própria – como enxaquecas, asma, diabetes ou colite ulcerativa – pode surgir", Wulsin aponta.
Por isso, o estresse tóxico pode ser facilmente reconhecido. Ele fica com o papel de desgastar o sistema de resposta ao ambiente de maneiras que têm efeitos duradouros, como aponta o psiquiatra e especialista em trauma, Bessel van der Kolk, em seu livro best-seller “The Body Keeps the Score” (O corpo mantém a contagem do que fazemos, em tradução livre).
Um exemplo dado pelo professor é que em condições saudáveis, os sistemas naturais de resposta ao estresse são como uma orquestra de órgãos que se afinam e tocam em uníssono sem a necessidade de se fazer um esforço consciente – um processo chamado de auto regulação. Contudo, quando é o caso contrário, algumas partes desta orquestra lutam entre si para se regularem, o que provoca um efeito cascata de desregulação.
"Por exemplo, no caso do diabetes, o sistema hormonal luta para regular o açúcar. Com a obesidade, o sistema metabólico tem dificuldade em regular a ingestão e o consumo de energia. Com a depressão, o sistema nervoso central desenvolve um desequilíbrio nos seus circuitos e neurotransmissores que dificulta a regulação do humor, dos pensamentos e dos comportamentos", o especialista escreve.
Um estudo publicado no ano passado constatou que estresse elevado de forma persistente envelhece as pessoas de forma comparável aos efeitos do tabagismo e do baixo estatuto socioeconômico, dois fatores de risco bem estabelecidos para o envelhecimento acelerado. Além disso, Wulsin ressalta que o problema também está ligado a altas taxas de diabetes, obesidade, depressão, TEPT, suicídio e vícios observados nos últimos 40 anos nos EUA.
Mas, afinal, como tratar o estresse?
Em um passo a passo simples, a primeira atitude a se tomar é reconhecer os sinais dados pelo corpo. O especialista em medicina familiar e psicossomática indica que após identificar o estresse do tipo tóxico deve-se procurar um profissional da saúde.
Dentre os grupos mais vulneráveis ao estresse tóxico, segundo exposto pelo psiquiatra, estão:
Pessoas acometidas com uma ou mais doenças crônicas;
Pessoas vulnerabilizadas economicamente;
Pessoas que viveram quatro ou mais eventos adversos na infância;
Ainda, é possível adicionar a estes grupos sobrepostos todos aqueles que lutam com relações de assédio, vivem em abrigos, solidão severa, em bairros de alta criminalidade ou trabalham/vivem perto de locais com poluição sonora ou atmosférica.
"O próximo passo é o tratamento. É possível treinar novamente um sistema desregulado de resposta ao estresse, conforme já mostrado em outras pesquisas. Esta abordagem, chamada “medicina do estilo de vida”, centra-se na melhoria dos resultados de saúde através da mudança de comportamentos de saúde de alto risco e da adopção de hábitos diários que ajudam o sistema de resposta ao estresse se auto regular", sugere.
"A maioria dos médicos não avalia a contribuição do estresse para as doenças crônicas comuns de um paciente, como diabetes, doenças cardíacas e obesidade, em parte porque o estresse é complicado de medir e em parte porque é difícil de tratar. Em geral, os médicos não tratam o que não conseguem medir", o psiquiatra expõe.
Fonte: O Globo
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