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'Pacientes com câncer vão enfrentar consequências da epidemia por muito tempo', diz oncologista


 
 

Dois anos após o início da pandemia, o atendimento a pacientes com câncer em muitas regiões no Brasil ainda sofre os efeitos da diminuição de ofertas de leitos nos hospitais públicos. A situação melhorou, mas o atraso nos tratamentos geraram impacto a longo prazo, explica a oncologista Maria Ignez Braghiroli, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia clínica.


Vamos enfrentar essas consequências por muito tempo. Temos uma demanda represada de pacientes sem acesso e que não conseguiram fazer seus diagnósticos”, disse a oncologista brasileira à RFI Brasil. O câncer, lembra, são curáveis em muitos casos, mas a detecção precoce é fundamental para aumentar as chances do paciente. Em um estudo publicado no ano passado, um grupo de cientistas brasileiros avaliou o impacto da Covid-19 nas mortes por câncer e doenças cardiovasculares. Uma das conclusões é que houve um “excesso de óbitos” relacionado ao SARS-CoV-2. A pesquisa ainda destaca que, em pacientes com câncer, o adiamento de cirurgias “para a remoção de tumores e o atraso no tratamento puderam fazer com que a doença progredisse, diminuindo as chances de cura. ”

Segundo a especialista brasileira, a epidemia veio agravar uma situação que já era considerada deficiente no atendimento e no diagnóstico nos hospitais públicos, em muitas regiões do país. Como em outros países, os estabelecimentos tiveram que se adaptar, do dia para a noite, à chegada repentina de milhares pacientes positivos para a Covid em estado grave, que necessitavam de cuidados intensivos. Rapidamente, faltaram leitos, equipamentos, e as equipes ficaram sobrecarregadas, como foi o caso em vários países do mundo. Para a especialista, que atua no renomado Hospital das Clínicas de São Paulo, apesar do impacto maior ter sido observado nos hospitais do SUS, a rede privada também foi afetada pelo grande número de pacientes. Na terceira semana de março de 2021, mais de 6.000 pessoas aguardavam por uma vaga em uma unidade de terapia intensiva de São Paulo, a cidade mais rica do país.

Em regiões mais pobres, a situação tornou-se ainda mais crítica. Foi o caso em Manaus, durante a onda provocada pela variante P1 em janeiro de 2021. A falta de oxigênio nos hospitais da cidade provocou a morte prematura de muitos pacientes infectados. Para os doentes com câncer, nesse contexto, os riscos eram duas vezes maiores. “Os pacientes oncológicos são pacientes que têm um risco muito maior. O impacto não é só na falta de tratamento, mas também no adoecimento por Covid”, observa a oncologista. O momento mais drástico para os doentes, lembra, foi o início da pandemia. A médica conta que as equipes médicas ficaram “atordoadas". Segundo ela, que atende no Hospital das Clínicas de São Paulo, os atendimentos e avaliações precisaram ser ajustados para minimizar a exposição dos pacientes aos SARS-CoV-2. Houve ajuste também nos tratamentos, para evitar as consultas presenciais. “No setor público, normalmente não temos alguns tratamentos disponíveis em comprimido, e isso foi mudado temporariamente para que os pacientes viessem menos ao hospital”, exemplifica. A oncologista cita a realização de consultas à distância, uma ferramenta que se popularizou durante a epidemia e foi incorporada à rotina. “São grandes mudanças que agora serão permanentes”, dizem. Cirurgias adiadas Uma das maiores consequências para os pacientes com câncer durante a epidemia foi o atraso nas cirurgias, ressalta a oncologista. “Não só pela questão de priorizar quem está em um estado mais grave, mas pela indisponibilidade de leitos de UTI para recebê-los após uma cirurgia, caso precisassem de uma vaga em pós-operatório. Certamente nossos pacientes que dependiam de procedimentos invasivos tiveram um impacto grande”, observa. Apesar das dificuldades, a oncologista brasileira está otimista. “A quantidade de pacientes graves, por conta da Covid-19, diminuiu bastante. A maior deles é internada por outro motivo e depois é diagnosticada com Covid”, explica, citando a importância da vacinação, que teve uma incidência direta na gravidade da doença provocada pelo vírus e nos óbitos. “Os pacientes têm uma doença muito mais amena e muito menos impacto em seus tratamentos”, afirma.


Fonte: G1

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