A comunicação empática, cuidadosa e amorosa entre as pessoas tem um papel fundamental na conexão humana. A ciência, por sua vez, está demonstrando que cuidar dos nossos relacionamentos é uma peça-chave na construção da felicidade.
Em uma pesquisa com pessoas entre 29 e 44 anos sobre seus objetivos de vida, “mais de 80% disseram que um dos principais objetivos de vida era se tornar rico, e 50% têm a finalidade de se tornar famoso”.
É interessante contrastar isso com o trabalho da enfermeira Bronnie Ware, que relata, em seu livro “Os cinco mandamentos para ter uma vida plena” (2013), sua experiência de muitos anos trabalhando com pacientes em cuidados paliativos. Além disso, compilou, entre outras questões, os 5 arrependimentos que esses pacientes expressavam com mais frequência no leito de morte:
“Eu gostaria de ter sido corajoso para viver a vida que desejava e não a vida que outras pessoas queriam para mim.”
“Não deveria ter dedicado tanto tempo ao meu trabalho, e sim à minha família.”
“Gostaria de ter mostrado mais abertamente meus sentimentos.”
“Não deveria ter perdido a relação com velhos amigos; gostaria de ter estado mais em contato com eles.”
“Deveria ter me permitido ser mais feliz: ter tido a coragem de fazer as coisas que eram valiosas para mim, apesar do medo.”
Esses objetivos de vida se contradizem com os arrependimentos finais. Se a felicidade é um estado de estabilidade temporal, de bem-estar, satisfação na vida e de paz transitória, quais são, então, os fatores importantes a serem considerados?
Questionamos a noção de que a felicidade precisa ser “encontrada”, vide a frase tão conhecida: “a busca da felicidade”. Uma questão, no entanto, que parece ser algo que se deve perseguir ou descobrir.
Sob a nossa perspectiva, preferimos pensar que podemos criar e construir nossa felicidade. Por outro lado, não são as circunstâncias que vivemos que podem nos tirar a felicidade, pois depende de como nos posicionamos diante delas. Não é o que temos que passar, mas como enfrentamos e vivemos, com quais ferramentas e estratégias pessoais contamos e como lidamos com o que nos acontece. É aí que os afetos e os bons vínculos são fatores fundamentais: “Não é a viagem, mas a companhia.”
Uma pesquisa do psicólogo americano Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, que trabalha com pacientes depressivos, revelou que grande parte do nosso bem-estar depende das nossas ações, além de se relacionar mais com a forma como vemos o mundo do que com o que nos acontece.
Quais fatores promovem o bem-estar e uma boa qualidade de vida?
Encontramos os chamados “sites azuis”, que são lugares onde as pessoas vivem mais do que a média mundial e com altos índices de felicidade.
Tudo aponta para a enorme importância de nos focarmos no cuidado e na criação de bons vínculos. Por isso, direcionamos nosso trabalho profissional às relações familiares, de casais e laborais. Essas ligações, portanto, promovem uma melhor comunicação, laços afetivos sólidos e amorosos como o fator prioritário que contribui para uma melhor qualidade de vida, saúde e bem-estar físico e emocional. Isso é prevenção em saúde.
Um dos maiores males deste momento é a solidão. Sem dúvida, um enorme problema de saúde pública, como preditor de doenças, principalmente a depressão e todas as suas consequências.
O “Estudo de Desenvolvimento de Adultos de Waldinger e Shultz”, conduzido pela Universidade de Harvard desde 1938, investiga questões cotidianas sobre o trabalho, a vida doméstica e a saúde de adultos. Este, é o estudo mais longo que existe até hoje e apresenta resultados muito claros: “10% da nossa felicidade respondem às nossas circunstâncias e 90% são o resultado de uma série de hábitos e ações conscientes. “É um processo gradual que a paciência, perseverança e conexões sociais desempenham um papel muito importante”, informou o estudo.
A sociedade que vivemos nos impõe a ideia de ter cada vez mais e nos bombardeia com conteúdos que promovem que isso é o que nos leva à felicidade e a conseguir uma vida melhor. Isso, portanto, nos conduz a passar menos tempo e com menor qualidade onde estamos e com quem está ao nosso lado.
Assim, o fator comum em todas as pesquisas, que é simples de promover e realizar, é que melhorar nossos laços e ampliar nossa rede de pertencimento são a garantia para melhorar a qualidade de vida, longevidade e saúde.
Dessa forma, prevenimos quadros depressivos e outras doenças em nossas vidas
A perspectiva budista, que nos nutre há mais de 2.600 anos, é clara e sábia em seus conceitos de estar no presente e adverte sobre a função da nossa mente como geradora de sofrimento. Estar no aqui e agora e saber como funcionamos possibilitará uma mente menos gananciosa, dualista, competitiva e, portanto, teremos menos sofrimento.
Também é necessário incorporar as bases das neurociências que explicam o funcionamento do nosso cérebro – a neurofisiologia das emoções, dos pensamentos e dos comportamentos. E as ferramentas da Comunicação Não-Violenta (Marshall Rosemberg), como eixos de uma comunicação cuidadosa, respeitosa e compassiva.
Nosso desafio é promover melhores relações humanas a partir de todas essas perspectivas, para contribuir no bem-estar. Todos podemos fazer isso, cada um do seu lugar, na relação com pessoas que encontramos no dia a dia. É um trabalho pessoal, extremamente importante, que se estende como uma onda expansiva.
Além disso, também nos convida a valorizar os conceitos da psicologia e psiquiatria positiva, estimulando as virtudes humanas que nos ajudam a nos conectar e enfrentar o mundo. O caminho, portanto, visa fortalecer nossas habilidades e recursos, e não apenas classificar as pessoas como doentes ou saudáveis.
Os vínculos são a garantia, o apoio, a rede e o tesouro mais precioso que podemos promover. Eles podem nos salvar dos males do tempo, de cair no poço mais profundo e difícil: a solidão e o sofrimento que ela gera.
Fonte: O Globo
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