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'O corpo incha, o abdômen dói, o humor é afetado', diz Mariana Rios sobre o procedimento de coleta de óvulos para engravidar



Mariana Rios, de 39 anos, é atriz, cantora, escritora, empreendedora e, agora, uma ‘tentante’, como ela mesmo diz. Prestes a completar 40 anos, revelou por meio de suas redes sociais que está tentando engravidar por inseminação artificial e está na fase de coleta de óvulos.


— É um processo muito lento que testa a sua ansiedade e paciência porque é tudo muito demorado. Fazer o exame, a sequência de estímulos, preparar o corpo para congelar os óvulos. Nem sempre você consegue em uma coleta a quantidade ideal de óvulos e você precisa ter um número bom para começar o processo de fecundação — revela a atriz em entrevista ao GLOBO.


Em 2020, Rios sofreu um aborto espontâneo durante os primeiros meses de gravidez. Apesar de todo o luto e dor, ela afirma que passou por uma transformação e que hoje é uma outra mulher por conta disso. Ela é idealizadora do projeto Basta Sentir Maternidade, uma plataforma online que tem como principal objetivo servir de apoio emocional e psicológico para outras mulheres que estão passando pelo mesmo processo de engravidar. Dentro do aplicativo, as mulheres têm acesso a psicólogos além de poderem compartilhar suas experiências, angústias, ansiedades, frustrações e conquistas. O projeto já conta com oito mil mulheres dentro do programa e 25 mil em lista de espera.


— Acredito que o projeto passou a existir porque eu queria ter tido essa ajuda em 2020, quando sofri o aborto ou durante o meu processo de gravidez. Desde que o criei parece que tirei um peso das minhas costas. O projeto é para mulheres que estão passando pelo mesmo que eu, que me entendem, e tem os mesmos problemas. É uma rede feita por quem de fato precisa estar ali.


Confira a entrevista a seguir:


Você recentemente falou que é uma ‘tentante’, ou seja, que está tentando engravidar aos 39 anos (ela vai fazer 40 anos em julho). Como está esse processo?


É um processo muito lento. A partir do momento que você percebe que a gravidez natural talvez não aconteça, precisa buscar outros métodos. E esses outros métodos realmente testam a sua ansiedade e paciência porque é tudo muito demorado. Fazer o exame, a sequência de estímulos, preparar o corpo para congelar os óvulos. Nem sempre consegue em uma coleta a quantidade ideal de óvulos e você precisa ter um número bom para começar o processo de fecundação. Então as vezes um processo de estímulo inteiro é jogado no lixo por conta disso. Precisa esperar, ter paciência, e estou nessa primeira etapa de coletar e esperar ter bons resultados para a fecundação.


Muitas mulheres que passam por esse processo relatam que buscam a ajuda de outros profissionais para lidar com a ansiedade, por exemplo, você tem procurado esse tipo de ajuda?


Sim, acho que isso é de extrema importância porque conseguir passar por esse processo sozinha é mais complicado. Tinha meus amigos e familiares, mas não queria abrir para todo mundo o que estava acontecendo. E, realmente, quando você está nesse processo, o seu corpo muda. Ainda mais quando você está em processo de coletar óvulos, é uma injeção de hormônio diária, o seu corpo incha, você não consegue ir à academia, você não pode fazer várias coisas. E não é assim uma semana sem fazer nada, dependendo do quão o seu ovário está inchado, você tem que ficar três semanas sem ir para a academia. Então, você tem que controlar a sua cabeça, a sua mente, com coisas que façam sentido para você e não dá para fugir. As duas partes precisam estar bem. Quando não estou nesse processo hormonal, faço atividade física todos os dias. A minha alimentação sempre foi uma alimentação equilibrada, como de três em três horas, gosto de me alimentar bem e ter prazer na comida. A parte psicológica também, faço análise sempre. A meditação também me faz muito bem, mas confesso que estou há um tempo parada, preciso voltar a fazer. Mas sempre mantenho minha espiritualidade aflorada lá em cima, o meu pensamento em equilíbrio, corrigindo esses tempos de ansiedade e buscando olhar para a vida de uma forma muito positiva.


Quais são essas mudanças corporais que você citou?


Depende muito do corpo de cada pessoa e de como o organismo vai reagir as medicações. No meu caso, como sou super adepta de atividade física e por mais que tenha uma memória muscular, se fico um mês sem malhar, meu corpo sente. Fico com o corpo inteiro inchado. As pernas incham, a minha barriga parece a de uma mulher grávida de seis meses, é algo nítido. O abdômen estende completamente. Fico assim por 15 dias normalmente. Tenho que tomar muita água para me hidratar, comer muita proteína para o organismo voltar mais rápido. É sempre quando estou no processo de estimular os óvulos, porque o ovário fica hiperestimulado e tem o risco de acontecer uma torção na região, então não pode fazer exercício físico, pegar peso, fazer grandes movimentos. Sem contar as dores abdominais, os remédios que a gente toma, as mudanças de humor, porque é um tratamento hormonal. É realmente muita coisa que a gente passa. E não dá para parar. Tenho show para fazer, pego muitos voos. As vezes a roupa não entra, porque estou inchada, mas é isso, engole o choro, a dor e só vai. Por isso temos que ter nossas emoções muito bem trabalhadas.


Em 2020 você passou por um processo de aborto espontâneo. Como foi este momento para você?


Quando passei por essa situação de perda, me transformei, virei outra pessoa. E entendemos de verdade que as pessoas crescem na dor e não na zona de conforto. Isso porque ela te mantém parado, igual uma âncora que mantém o barco estacionado. Quando você passa pela dor e você precisa sair dela, porque não tem outra opção, aí você cresce e evolui. Me via completamente diferente depois, não era qualquer coisa que me abalava, tudo ficou pequeno perto do que estava passando. Recentemente tivemos o caso da Lexa, e fiquei muito comovida com a história dela, acompanhei as notícias, rezei muito por ela e para que desse tudo certo, mas no fundo nós somos um grãozinho de areia no meio de algo maior que nos rege. Ela experimentou esse amor mais puro e existem tantas pessoas que passam por essa vida desejando simplesmente experimentar essa sensação. Quando escrevi para ela dizendo que ela sairia disso mais forte, é porque ela vai se transformar mesmo.


Você criou uma plataforma online para ajudar justamente mulheres ‘tentantes’ a ter uma rede de apoio emocional e psicológico e não passar por esse processo sozinhas. Qual é a importância disso para você?


Hoje nós temos oito mil mulheres dentro da plataforma, mas temos vinte e cinco mil na fila de espera. Acredito que ela só passou a existir, porque queria ter tido essa ajuda em 2020, quando passei pelo aborto, ou durante o meu processo. Precisava desse apoio, e se eu preciso, outras mulheres também precisam. Lá dentro, elas vão ter acompanhamento com psicólogos, por exemplo, podemos ter encontros presenciais, temos chats que elas compartilham suas experiências, dores, ansiedades e aflições. Podemos desabafar e falar o que estamos passando. Hoje, sinto a minha vida completamente diferente. Desde que a criei e a plataforma está acontecendo, parece que tirei um peso das minhas costas. Estou documentando toda a minha jornada da maternidade, mas não é para todo mundo da minha rede social, entende? São para mulheres que estão passando pelo mesmo que eu, que me entendem, e tem os mesmos problemas. É uma rede feita por quem de fato precisa estar ali. Para entender a importância, um dia desses não tive uma notícia muito boa, que só compartilhei por lá, abri meu computador e comecei a ler o depoimento de outras mulheres para ver se alguém tinha passado por aquilo, e tinha tantos relatos, tanta coisa emocionante que o meu problema ficou pequeno. É você olhar o entorno e enxergar outras pessoas, com outros problemas. É saber que aquela pessoa conseguiu passar por isso e está reagindo de uma forma positiva, então eu também vou conseguir passar por essa dor. Isso nos fortalece.


Nas redes sociais há uma corrente de mulheres que pedem que as pessoas não romantizem a questão da gravidez e o processo de engravidar. O que você pensa sobre isso?


Não gosto muito desse termo “romantizar”, mas penso que cada uma tem o seu caminho. Outro dia mesmo fui fazer um exame e falei com uma amiga que iria fazê-lo. Ela me alarmou, disse que era horrível, que tinha sentido muita dor, mas ela fez um terror na minha vida, nem dormi direito na véspera dele. Fiquei péssima porque não tinha como fugir e ainda seria sem sedação e no final não senti nada. A forma como você vai passar por um problema é diferente da que vou passar e isso ocorre porque cada um tem o seu caminho. Neste caso da gravidez, acho que depende muito de como você trata os seus problemas, de como conduz a sua vida e de como tem responsabilidade por seus atos. Mas acredito que devemos respeitar o caminho e a história de cada um.


Em todas as famílias, temos aqueles parentes que insistem em perguntar, principalmente para as mulheres, quando vão engravidar ou se já não está na hora de ter um bebê. O que você acha dessa pressão?


Quando comecei a estudar psicanálise — estou indo para o meu segundo ano de psicanálise, freudiana e lacaniana — tive um entendimento maior dessa questão da sociedade e do que ela impõe e deseja que você seja. As regras que precisa cumprir para ser bem-visto nessa sociedade, por exemplo. Nós somos ensinadas, desde crianças, e isso está enraizado, de que a mulher precisa crescer, estudar, fazer o seu pé de meia, trabalhar, encontrar um homem legal para se casar, construírem uma família, ter filhos, porque o ideal é ter dois para ele ter um irmão, e eles também precisam entrar em uma escola boa e assim continua essa cobrança. Não basta engravidar, tem que passar pelos três primeiros meses, depois tem que passar pela gravidez sem ser prematura, mas ele tem que ter saúde... e assim por diante. É tanta coisa que se a gente absorver tudo isso, você pira, não vive. Por isso temos várias culturas no mundo em que a mulher não trabalha bem isso e acaba tirando a própria vida quando ela enxerga que não vai conseguir suprir o que a sociedade impõe a ela.


Você passa por esse tipo de pressão?

Todo mundo faz esse tipo de pergunta. “Mas e aí, você não pensa em ter filho?”, “você não vai ter filho?”, “Quando que você vai ter?”. É o tempo inteiro, dentro da minha casa, com minhas amigas, pessoas muito próximas que sabem do processo e tem curiosidade. Vejo hoje que, uma mulher que vai fazer 40 anos, que é o meu caso, a cobrança maior é aquela que você deposita em você mesma. O parente, que você perguntou, ele vem para te relembrar algo que você se cobra, como uma cutucada externa. Se essa cobrança não é sua, ela passa batido, mas se ela te afeta em algum momento em seu interno, então você precisa estudar, olhar e entender isso dentro de você. Criei a plataforma, exatamente por não existir esse movimento das tentantes. Quem está tentando engravidar, não fala que está tentando. Você começa a falar a partir do momento que engravidou. É muito difícil dividir isso com as pessoas. E quando as pessoas chegam até a mim e faziam essas perguntas, em algum lugar no meu interno, despertava um incômodo. Então, é preciso trabalhar suas expectativas e inseguranças porque o mundo está aí para falar o que quiser. Você não tem controle sobre o que falam, mas sobre o que vai te afetar e como isso vai te abalar. Hoje, se alguém me pergunta por que o meu processo está demorando, já respondo: “porque ele é mais difícil e, provavelmente, vai demorar mais um pouco. Preciso ter paciência, então tenha você também”. Todas as vezes que tentamos abafar uma coisa, segurar essa coisa, ela vai escorrer pelos nossos dedos e não vai ser bom para nenhum dos lados.


Você tem algum limite de até onde você está disposta a ir pela gravidez?


Nesse momento não me permito pensar nisso e nem permito que a minha cabeça tenha este tipo de pensamento. Ficamos vivendo o "e se" e isso não serve para mim. Quando era pequena, falava muito “e se” e meu pai respondia: “se minha avó tivesse roda, ela era bicicleta”. E então tirei essas hipóteses, esses “e se” da minha vida e trabalho com a informação que tenho hoje, caso contrário eu piro. O que falo, e o que acho, é que você deve viver o seu presente, aproveitá-lo da melhor forma e seguir em frente.


Fonte: O Globo

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