A morte de um homem de 33 anos em Curitiba, no Paraná, após usar um anestésico na pele para amenizar a dor enquanto fazia uma tatuagem no braço, acendeu um alerta sobre os riscos do procedimento. O caso ocorreu em 2021, mas as informações sobre a investigação foram divulgadas apenas nessa quinta-feira (16/2).
De acordo com a companheira do representante comercial David Luiz, o anestésico foi usado pelo tatuador sem a autorização do rapaz. Minutos depois, sua pressão começou a cair e ele teve uma convulsão.
Um laudo do Instituto Médico Legal (IML) encontrou lidocaína no corpo da vítima, um anestésico local que causa perda temporária de sensação na área onde é aplicado. A Polícia Civil do Paraná investiga se houve superdosagem do remédio.
De acordo com o médico Lucas Albanaz, coordenador da Clínica Médica do Hospital Santa Lúcia Gama, a lidocaína usada em pomada ou spray é considerada uma anestésico seguro, desde que tenha a dosagem máxima respeitada. A prescrição, obrigatoriamente, deve ser feita por um profissional de saúde.
“Como o nome sugere, a lidocaína é um anestésico derivado da coca e deve ser vendido com prescrição”, afirma Albanaz.
O clínico-geral explica que o anestésico passa a barreira hematoencefálica e consegue chegar ao sistema nervoso central, saturando os receptores e fazendo com que o paciente pare de sentir os estímulos dolorosos. Ele também pode ter repercussão cardiovascular, baixando os batimentos cardíacos e a frequência respiratória.
“Até um certo nível, isso é aceitável. Nós conseguimos lidar com a anestesia e a analgesia, mas a superdosagem pode levar a respostas mais fortes”, conta Albanaz.
Riscos da superdosagem
O uso da lidocaína é contraindicado em pessoas que são sabidamente alérgicas ao composto. O anestesiologista Carlos Cinelli, do Hospital Brasília, explica que o produto tem uma dose específica para uso em spray, pomada e injeção para cirurgia. Geralmente esse cálculo é feito em miligramas por quilo de peso do paciente. “Existe uma dose limite de cada um dos anestésicos”, afirma.
Os medicamentos tópicos têm uma absorção sistêmica. Quanto maior é a superfície da pele em que eles são aplicados, maior é a absorção e ela é potencializada em áreas mais vascularizadas ou traumatizadas. O agulhamento da tatuagem, por exemplo, contribui para deixar a pele mais sensível.
Algumas pessoas podem sofrer reações alérgicas ou desenvolver sintomas mais graves imediatamente após o contato com o anestésico quando há superdosagem. Elas podem sentir um gosto metálico na boca, tontura, visão turva, hipotensão (queda da pressão), agitação, confusão mental, convulsões, perda da consciência e parada cardíaca, levando ao coma e até mesmo à morte.
Quando pode ser usado?
A lidocaína é usada com frequência em consultórios de dermatologia e odontológicos para a aplicação de botox, preenchimento labial e microagulhamneto, por exemplo, sob supervisão de um profissional com registro.
“Ela pode ser usada em consultório porque o profissional tem expertise de avaliação. Ele sabe a dose correta de uso, consegue reconhecer os sinais de intoxicação e sabe como proceder. Em um estúdio de tatuagem, é provável que o profissional use mais e mais pomada, até que o cliente não sinta mais dor”, explica.
Tatuagem sem dor
O médico aconselha as pessoas mais sensíveis a dor a procurarem orientação médica sobre o uso de anestésicos antes de fazerem uma tatuagem. O profissional poderá prescrever um analgésico ou até mesmo uma pomada anestésica com as recomendações de uso e dose segura.
“A indicação de uso é personalizada para cada pessoa, devendo ser levado em consideração peso, tamanho da tatuagem e histórico de saúde”, explica.
Fonte: Metrópoles
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