Quando nunca treinamos, é difícil começar. Mas quando retornamos à academia após um tempo parado, a sensação é de que o corpo responde melhor e mais rápido, fazendo com que o recomeço não seja tão difícil ou frustrante. Poderia ser a chamada “memória muscular” – mas o músculos, na verdade, não têm memória. O que chamamos disso é uma junção de fatores musculares e neurais, registrados pelo sistema nervoso, que tendem a facilitar a retomada do exercício, mesmo após algum tempo sem treinar.
Uma vez que o seu corpo já experimentou um movimento e já esteve na condição de melhor forma física, o organismo conhece o caminho neural, de produção de substâncias necessárias e até de conhecimento de treino, conta a professora do Instituto de Psicologia IP), da Universidade de São Paulo (USP), Andrea Peterson Zomignani.
De acordo com a pesquisa publicada na revista Cell Physiology neste ano, existem evidências que o tecido muscular pode ser “preparado” por experiências anteriores positivas com o treinamento de força. Essa preparação pode aumentar as capacidades adaptativas a um estímulo posterior, mesmo após longos períodos longe da academia, explica João Paulo Manechini, coordenador do curso de Educação Física do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
“Essa experiência positiva auxilia no processo hipertrófico e no ganho de força, mas muito mais relacionado a um aspecto coordenativo (neuromuscular) do que exclusivo do músculo em sí”, afirma Manechini.
Tempo de memória e esquecimento dos músculos na academia
As adaptações positivas do corpo levam algumas semanas para que a memória muscular seja “gravada”. Ou seja, não adianta treinar uma semana e esperar que o cérebro manda informações declaradas para os músculos crescerem sendo que você treinou por apenas pouco tempo e fez poucas repetições.
Um estudo da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, publicado na Frontiers in Physiology, mostrou que essas adaptações neuromusculares positivas acontecem em um período médio de quatro semanas.
E também não vale ficar meses sem ir à academia e querer que o cérebro mande decorado as instruções para os músculos crescerem. O efeito do “destreinamento” é muito mais rápido do que o treinamento.
O mesmo estudo de Brown apontou que a partir de 2 semanas de inatividade, perdas neuromusculares (massa e força muscular) começam a ocorrer, e tornam-se mais acentuadas à medida que o sedentarismo se prolonga, podendo influenciar, inclusive, os aspectos coordenativos e de aprendizado.“Em doze semanas já é possível, sem nenhum tipo de treinamento, o corpo já volta a um estado próximo ao pré-treino, a nível de memória”, conta Andrea. Assim como a gente não esquece como andar de bicicleta, não é como se voltássemos para a academia sem saber ligar a esteira, mas a resposta do corpo já é menor.
Lembrança ruim gera efeito oposto
Os especialistas ainda destacam que experiências negativas atrapalham o retorno ao treino, pois nosso corpo possui mecanismos que fazem com que ele “queira evitar” experiências que levaram a um trauma anterior.
Movimentos ou exercícios que geram dor, desconforto ou te causaram algum tipo de lesão mais severa, podem ser registrados como “lembranças ruins” e, portanto, responder mal aos estímulos.
Fonte: CNN
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