
Uma pesquisa desenvolvida pelo aplicativo de relacionamento happn com mais de 3.000 pessoas heterossexuais revelou um dado curioso: enquanto a grande maioria dos homens (94%) avalia que suas últimas performances sexuais foram boas ou excelentes, 64% das mulheres consideram que suas relações mais recentes foram insatisfatórias ou abaixo do esperado. Uma visita à área central de Belo Horizonte reforça a disparidade entre as percepções das experiências de homens e mulheres em relação ao sexo: todas as entrevistadas pela reportagem de O TEMPO apontaram que já tiveram as expectativas frustradas na cama, mesmo quando os parceiros, na ocasião, lhe prometiam uma noite inesquecível.
“Eu só tive decepção, até que encontrei o meu marido e me casei. Aí me resolvi. Mas antes foi só deboche e gritaria. De chegar e o homem ‘brochar’, de ele falar que ia fazer e acontecer, mas não fazer nada. Outros diziam que o sexo não era só na cama, queriam ficar de carinho, de ‘love’, mas, na hora do ‘vamos ver’, o babado não acontecia”, conta a cabeleireira Layka Borges, 26.
Para a vendedora, cantora e maquiadora Juliana Sampaio, a razão para a disparidade encontrada na pesquisa pode estar na falta de sinceridade dos homens. “Não tive muitas experiências, mas a única coisa que posso dizer é que, quando falam que o 1º de Abril (Dia da Mentira) é o dia do homem, é verdade”, diverte-se. “Os homens mentem muito. Eles são bons de propaganda, são bons marqueteiros, mas, na hora de provar o que falam, deixam a desejar”, comenta.
A sexóloga Sônia Eustáquia Fonseca aponta que essa diferença encontrada na percepção da satisfação sexual entre os dois gêneros pode estar por trás também de uma mudança de comportamento, observada principalmente entre os homens. “Agora, eles estão muito mais voltados para a vaidade pessoal, pensando no Instagram, nos likes, valorizando mais um culto ao corpo ao invés de se preocuparem com a sedução e conquista das mulheres”, avalia. “Eles se cultuam ao invés de cultuar as parceiras”, acredita. Ela acrescenta que o advento da pornografia também é um complicador na hora do sexo, já que faz com que os homens estejam menos propensos ao aprendizado diário sobre o que as mulheres querem.
Para Sônia, há ainda uma diferença na própria forma como o sexo é entendido por homens e por mulheres. “No caso deles, é algo muito mais genitalizado. Não é uma percepção só da qualidade do sexo, mas também da qualidade que ele está se dando. É algo que está mais ligado a um processo narcisista mesmo que de uma doação para outra pessoa. Já as mulheres percepcionam de forma diferente; para que elas estejam satisfeitas, vão estar incluídos outros detalhes. Elas vão querer um homem carinhoso, sedutor, gentil”, exemplifica.
Ela pondera também que as diferenças genitais fazem com que a percepção sobre o sexo seja diferente. “O orgasmo masculino pode vir com uma frequência maior, então o sexo vai ser percebido de uma maneira diferente para o homem, já que ela (mulher), por outro lado, vai precisar de estimulação maior do corpo, das partes erógenas”, afirma.
Não existem culpados
A sexóloga Allys Terayama ressalta que, embora exista essa diferença na percepção em relação às experiências sexuais, não existe culpa ou culpados na situação. Mas ela orienta que os homens estejam mais atentos aos detalhes que suas parceiras podem demonstrar, principalmente se elas estão insatisfeitas durante o sexo. “Fatores externos também podem estar totalmente relacionados a isso, como, por exemplo, uma rotina extremamente exaustiva do dia a dia de ambas as partes, a questão emocional, a questão física e hormonal”, diz.
Para melhorar não só a satisfação sexual, mas a qualidade de vida das mulheres, o conselho de Allys é o autoconhecimento. “Precisamos, como mulheres, conhecer mais o nosso corpo, nos aventurar em novas experiências que nos proporcionem orgasmos inesquecíveis. Não adianta o parceiro fazer de tudo para que você sinta prazer, sendo que você não se entrega a essa sensação maravilhosa de se permitir”, avalia.
Diálogo é fundamental
A comunicação é essencial para melhorar a intimidade e a satisfação em relação ao sexo. É isso o que também aponta a pesquisa desenvolvida pelo happn, que revela que 85% das pessoas concordam que o diálogo é fundamental para o relacionamento. “Muita coisa tem que acontecer antes dapenetração. Antes de um sexo genital, tem queexistir uma sexualização da relação, uma confiança,uma entrega boa daquela pessoa. De certa forma,nós sempre precisamos disso”, destaca a psicóloga esexóloga Sônia Eustáquia.
Ela pontua ainda que uma lacuna na comunicação do casal pode dificultar até mesmo a compreensão sobre a satisfação ou não, além de tornar o reconhecimento do que pode ser melhorado mais complicado. “Por isso, é importante desenvolver a amizade, a confiança e não dar prioridade ao sexo genital logo no início. Uma intimidade precisa ser criada. Todo mundo quer ter um melhor amigo. Antes de ter que ser o melhor homem na cama, é preciso também que seja alguém que demonstre desejo o tempo inteiro, um companheiro que está do lado, que está somando. Isso é de uma importância incrível”
Fonte: O Tempo
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