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Máscara contra a Covid-19: crianças devem usar mesmo com o fim da obrigatoriedade?


 
 

O uso de máscaras não é mais obrigatório para crianças de 6 a 12 anos nas escolas de Santa Catarina. No Rio Grande do Sul, que também havia tirado a obrigatoriedade para a faixa etária, o governo do estado está recorrendo da decisão liminar que determinou a retomada do uso. Já no Rio de Janeiro, que liberou o uso de máscaras em locais fechados na segunda (7), as crianças não precisam manter a obrigatoriedade.


A decisão é controversa e especialistas ouvidos pelo g1 também discordam sobre os motivos e os dados que podem dar base para a retirada das máscaras para os mais jovens. Abaixo, veja os argumentos para que as crianças mantenham as máscaras. Índice vacinal das crianças Entre as crianças de 5 a 11 anos, menos de 50% tomaram uma dose da vacina no Brasil. Quando se trata de segunda dose, a taxa da faixa etária é ainda menor: 1,43%. "É importante um esforço maior, porque nós, diferente de países da Europa e EUA, ainda não temos medicamentos efetivos incorporados no SUS e estamos também com a vacinação infantil muito lenta", diz Ethel Maciel, pós-doutora em epidemiologia pela Universidade Johns Hopkins.

Para a pesquisadora, locais que estão tomando essa decisão sobre o uso das máscaras possuem alguns indicadores positivos, como a diminuição de casos e de óbitos, mas não são "isolados".

Ela argumenta que a pandemia não está controlada no mundo e que, a qualquer momento, se outras variantes surgirem e se a efetividade das vacinas for impactada por isso, essas medidas podem inclusive serem retomadas.

Camila Romano concorda com a colega. Segundo ela, as crianças têm sido um grupo bastante vulnerável por não estar com cobertura vacinal completa. Ela avalia que é uma "questão difícil" devido aos impactos no aprendizado, mas "não impossível". Alguns estudos sugerem que o uso de máscaras por crianças pequenas dificulta a comunicação e o aprendizado infantil, pois a proteção supostamente inibe a capacidade das crianças de reconhecerem emoções, por exemplo. "No meu entendimento, a saúde é a prioridade. Se para a ômicron a proteção se dá somente com a dose de reforço ou ao menos com a segunda dose recém-tomada, as crianças continuam a ser o grupo mais vulnerável, e portanto, deveria ainda estar sendo mais protegido por medidas não-farmacológicas", explica Romano. Taxa de transmissão e risco de infecção grave Já Carla Kobayashi, infectologista do Hospital Sírio-Libanês e consultora técnica do Ministério da Saúde, tem um posicionamento diferente. Ela afirma que, como ainda não é possível afirmar que as crianças têm uma tendência a desenvolver a doença grave, elas "não entrariam nessa discussão de continuarem usando a máscara". "Com a população adulta jovem muito vacinada e com uma resposta imune da vacina muito boa, numericamente, estamos enxergando mais as crianças [nos índices de casos], mas não necessariamente porque elas aumentaram o risco para a doença grave", diz. Kobayashi ainda ressalta que o Brasil teve uma taxa de letalidade maior para síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P) que a dos EUA, por exemplo, mas que isso pode ter sido uma particularidade ocasionada por diversos fatores que a ciência ainda precisa investigar.

Até o dia 19 de fevereiro, o Ministério da Saúde confirmou 1.551 casos da síndrome. Dos casos confirmados, 96 evoluíram para óbito (letalidade de 6,2%); 1.294 tiveram alta hospitalar e 161 estão com o desfecho em aberto.

O infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, reconhece que o risco das crianças desenvolverem a Covid grave é muito menor que em adultos e idosos, porém discorda do posicionamento de Kobayashi e aponta que a questão sobre a obrigatoriedade das máscaras tem a ver como o cenário epidemiológico do país. "Nós estamos num momento com dezenas de milhares de casos por dia. Quase 500 óbitos diários. Por mais que estejamos num momento melhor da pandemia, nós ainda temos uma alta taxa de transmissão que ao meu ver não faz sentido colocar em risco [essas crianças]", diz. De acordo com as diretrizes da ONU e da UNICEF, crianças e adolescentes devem usar máscaras nas seguintes situações:

  1. Adolescentes com 12 anos ou mais devem seguir as mesmas recomendações da OMS para uso de máscara em adultos;

  2. Crianças de 5 anos ou menos não precisam usar máscara porque nessa faixa etária, elas podem não conseguir usar uma máscara adequadamente sem ajuda ou supervisão;

  3. Em áreas onde o SARS-CoV-2 está se espalhando, recomenda-se que crianças de 6 a 11 anos usem uma máscara bem ajustada: em ambientes internos onde a ventilação é ruim ou desconhecida, mesmo que o distanciamento físico de pelo menos 1 metro possa ser mantido; e em ambientes internos que tenham ventilação adequada quando o distanciamento físico de pelo menos 1 metro não puder ser mantido.

Já os Estados Unidos recomendam o uso de máscaras em ambientes internos de instituições de ensino para todos indivíduos com 2 anos ou mais enquanto o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças não recomenda a proteção para crianças menores de 12 anos.

Sobre essas divergências nas diretrizes, Kfouri diz que isso tem a ver com o momento epidemiológico desses lugares e que, quando temos mais taxas de transmissão, um momento de ondas maiores, é natural que se endureça as medidas de distanciamento, de uso de máscaras, sobre aglomerações, etc. Mas faz um alerta sobre esse debate agora no Brasil.

"Daqui a algumas semanas, com as taxas de transmissão e os registros de casos diários menores, a gente pode rediscutir, mas hoje acho que é uma discussão desnecessária". "Ainda estamos em uma pandemia! Com uma média móvel de óbitos em torno de 400 e ainda muitos casos novos por dia, ou seja, transmissão ainda alta da doença", acrescenta Ethel Maciel. Kfouri ainda argumenta que tirar a máscara não traz nenhum benefício grande para as crianças e que essa deveria ser uma das últimas flexibilizações a acontecer. O infectologista diz que esse seria um benefício muito pequeno para um risco muito grande.

"O indicador não é o número de vacinados. São as taxas de transmissão, os registros de casos diários, as hospitalizações. Você tendo 30 mil casos por dia, não é um momento de tranquilidade para tal", aponta o especialista.


Fonte: G1

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